O Poder da Ressurreição

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“O que eu quero é conhecer Cristo e o poder da sua ressurreição, tomar parte nos seus sofrimentos e me tornar como ele na sua morte, para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos”. (Filipenses 3.10-11).

Ninguém mais do que o apóstolo Paulo sabe o que significa perder para ganhar. Ele teve que perder tudo, para ganhar a Cristo e ser encontrado nele, “para conhecê-lo”. Diante do conhecimento do Cristo” todo o resto tornou-se pequeno, e até mesmo “perda”. No caso, “conhecer” deve ser entendido de maneira bíblica. Afinal, biblicamente o termo pode ser usado (Mt 1.25) para a relação conjugal. É um conhecer afetuoso, íntimo e pessoal. É assim que Paulo conhece e ganha o Cristo Jesus, a fim de conhecê-lo cada vez mais e com maior profundidade.

Não é a doutrina sobre Cristo que Paulo tenta compreender cada vez melhor, mas ao próprio Cristo, a ele em pessoa e em sua vida. Não se trata de um processo meramente intelectual, Paulo deseja conhecer: “o poder de sua ressurreição”. No entanto, ele é o ressuscitado e torna eficaz a “dinâmica” de sua ressurreição. A ressurreição não foi uma experiência pessoal dele, que lhe tenha concedido meramente uma nova vida depois da morte, mas foi o efeito do poder redentor e renovador de Deus através de Cristo em prol de todo o corpo, e foi até mesmo o começo da renovação de toda a criação. Cristo ainda está oculto para muitos neste mundo, tão oculto que pessoas como o perseguidor Saulo de Tarso o combatiam como se fosse uma heresia perigosa. Sempre que pessoas são renovadas no corpo (At 3.16; 4.10) ou na alma, sempre que os poderes das trevas retrocedem, sempre que acontece a fé viva e, por consequência, o “ser ressuscitado com Cristo” (Ef 1.19s; 2.5s; Cl 2.12), torna-se eficaz esse “poder de sua ressurreição”. Paulo não se cansa de conhecer sempre, de novo, e sempre mais esse poder.

Ninguém mais do que Paulo conhecia o poder da religião (Filipenses 3. 4-7), imediatamente após o seu encontro com Cristo, abandonou tudo isso, pelo poder da ressurreição.

Como cristãos, somente poderemos estar em Cristo e verdadeiramente ter participação nele, quando também partilharmos seu sofrimento e sua imagem de morte. Por isso Paulo de fato é capaz de acrescentar: “E a participação nos seus sofrimentos, conformando-me com ele em sua morte.” Deste ponto em diante, Paulo, transita, sem pausa, da conversão (v. 7s) para a justificação (v. 9), a santificação (v. 10) e a perfeição (v. 11). Tudo se resume em um único processo de vida homogêneo, que pode ser sintetizado na expressão “ganhar a Cristo”. Enquanto o ser humano natural deseja viver, progredir e prevalecer neste mundo, Paulo anseia por uma existência que o transformará em desprezado, atribulado e moribundo neste mundo. A palavra de seu Senhor Jesus sobre “perder a vida” tornou-se ação e verdade para ele (Mt. 16.25).

Na fé cristã do apóstolo Paulo, a crucificação e o poder da ressureição estão sempre ativos na crença e na vida prática de todo cristão. É por isso que ele se gloria “unicamente da cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi crucificado para [ele] e [ele] para o mundo” (Gl 6.14). Essa conformação com a morte de Jesus não é uma desgraça para ele, da qual tenta escapar na medida do possível, mas o alvo de sua vida.

Paulo considerou tudo como perda (Fp 3.8), o resto tornou-se lixo, diante do privilégio de ser crucificado com Cristo (Gl 2.20) e desfrutar do poder de sua ressurreição (Fp 3.10).

Pr. Carlos Elias de Souza Santos

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