O enigma de Jó

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No Antigo Testamento encontramos, entre os livros poéticos, o Livro de Jó. Ele se propõe a responder a uma questão muito importante: “Por que o justo sofre?”. Isso fez da obra, desde o início, um livro polêmico. Naquela época, as pessoas não criam que os justos pudessem sofrer. Pelo menos, não por muito tempo. Elas acreditavam que, pelo fato de Deus ser perfeito, o mundo tinha de ser perfeito também. Segundo esse pensamento, todas as ações, boas ou más, deveriam ser recompensadas ainda nesta vida. Tal forma de pensar era conhecida como “doutrina tradicional da retribuição”, resumida em uma única frase: “Aqui se faz, aqui se paga”.

Ainda hoje há religiosos que acreditam que o crente não pode sofrer. A doutrina tradicional da retribuição foi substituída pela teologia da prosperidade, que ensina que Deus concede riqueza e saúde a todos os que andam em seus caminhos. Entretanto, essa crença não corresponde à realidade, como o autor do Livro de Jó bem sabia. Deus não acerta todas as suas contas do lado de cá do túmulo. Boa parte de suas recompensas estão reservadas para o céu. Aqui na terra, os justos terão aflições, como ensinou Jesus. E se não entendermos isso nos frustraremos, ou julgaremos injustamente aqueles que estiverem passando por tribulações.

Alguns optam por confiar-se à vontade do Senhor porque acreditam que isso lhes trará vantagens. Pensam que Deus os guiará por caminhos sem sobressaltos. Quando não é isso o que acontece, tais pessoas se sentem confusas. “Deus, eu fiz a minha parte, e mesmo assim estou sofrendo! O que o Senhor quer de mim, afinal?”, perguntam elas. É possível que Jó, nos dias da sua prova, tenha perguntado a mesma coisa. Mas no fim ele se deu conta de que sua maior recompensa era sua amizade com o Criador. Descobriu também que isso lhe bastava. Deus era o seu grande tesouro, a sua fonte de felicidade.

Todos os que passam por adversidades se veem às voltas com o enigma de Jó, e, para todos eles, a recordação das experiências daquele patriarca do Antigo Testamento pode ser de grande auxílio. Ajuda-nos, também, recordar o exemplo e a promessa do nosso amado Salvador. Jesus Cristo padeceu grandes sofrimentos, embora fosse o Filho amado de Deus. E ele assegurou que estaria conosco todos os dias, inclusive nos momentos de aflição. Tendo essas verdades em mente, conservemos a nossa fé. Assim enfrentaremos as lutas até alcançar a vitória. Receberemos a coroa da vida, e a depositaremos, agradecidos, aos pés do nosso Redentor.

Pr. Marcelo Aguiar
Colunista deste Portal

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