A arte de examinar candidatos ao ministério diaconal

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A propósito do Dia do Diácono Batista celebrado nacionalmente no último domingo (segundo domingo do mês de novembro), achei por bem partilhar com os leitores deste conceituado órgão de comunicação algumas reflexões em torno de algo que julgo relevante para as igrejas locais e também para a nossa denominação Batista e, ao final, dar algumas sugestões.

É pacífico o entendimento de que o ministério diaconal é bíblico, como vemos em Atos 6. 1 a 6: “Naqueles dias, crescendo o número de discípulos, os judeus de fala grega entre eles queixaram-se dos judeus de fala hebraica, porque suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento. (2) Por isso os Doze reuniram todos os discípulos e disseram: “Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas. (3) Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa (4) e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra”. (5) Tal proposta agradou a todos. Então escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, além de Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom, Pármenas e Nicolau, um convertido ao judaísmo, proveniente de Antioquia. (6) Apresentaram esses homens aos apóstolos, os quais oraram e lhes impuseram as mãos”.

Há, ainda, outros textos bíblicos que corroboram com tal entendimento, ficando claro que não se trata de um tema extrabíblico ou muito menos antibíblico.

A pergunta que faço é: Como e onde teria surgido o modelo de exame de diáconos que utilizamos atualmente? É condição sine qua non para o ingresso de alguém no serviço diaconal? É necessário? É eficaz? Ainda é utilizado amplamente pelas igrejas Batistas filiadas à Convenção Batista Brasileira? Um candidato que não detenha uma capacidade intelectual privilegiada pode ser diácono? Em outras palavras, seria justo reprovar um candidato que apesar de longos anos de genuína vida cristã não conseguiu assimilar as doutrinas bíblicas defendidas pela denominação batista, tais como Bibliologia, Angelologia, Cristologia, Teologia sistemática, dogmática ou contemporânea, Soteriologia, Hamartiologia, Eclesiologia, Escatologia, Pneumatologia, e Antropologia?

Antes que alguém pense que sou contra, eu quero dizer que sou a favor do processo de escolha, fase probatória, exame e consagração, mas não da forma rígida como cresci vendo.

Feito este pano de fundo, passemos para o tema propriamente dito, valendo ressaltar que as reflexões são minhas e, portanto, não têm que ser adotadas por futuros examinadores:

Como eu cresci vendo: O concílio para exame e consagração de diáconos idêntico ao de pastores. O passo a passo sempre foi o mesmo, conforme nossos Documentos Batistas disponíveis em livrarias e também na internet:

a) Identificação e escolha do candidato pela igreja interessada;

b) Publicidade (Convocação por todos os meios possíveis de divulgação perante a denominação batista, com um tempo razoável para que as igrejas possam se fazer representar);

c) Quem pode compor o concílio diaconal? Pastores e diáconos presentes;

d) Quem pode estar presente? Sem restrição.

e) Composição da mesa diretora (presidente – normalmente o pastor titular da igreja promotora do concílio; secretário (algum pastor ou diácono habilidoso); examinador ou examinadores (pode ser mais de um. Neste caso, são eleitos para aferir conhecimentos do candidato acerca de diferentes áreas, tais como: a) Experiência de conversão do candidato; b) Identificação do candidato com a denominação batista, bem como com as suas práticas e costumes; c) Conceito e fundamentos do ministério diaconal; d) Conhecimentos sobre a Ceia do Senhor; e) Conhecimentos básicos sobre as doutrinas batistas (Bíblia, Trindade, Homem, Pecado, Salvação, Eleição, Reino de Deus, Igreja, Batismo, Ceia do Senhor, Dia do Senhor, Ministério da Palavra, Mordomia, Evangelização e Missões, Educação Religiosa, Liberdade Religiosa, Ordem Social, Família, Morte Justos e Ímpios); e f) A ética do diácono vista sob vários aspectos.

Após esta etapa de exame (sabatina), os membros do concílio se retiravam para um ambiente restrito, onde de modo breve acontecia a avaliação do desempenho do candidato, que era relatada à congregação e podia ser de aprovação, com ou sem ressalvas.

Uma vez vencida esta etapa, eram eleitos dentre os presentes: a) o mensageiro ocasional; b) o orador da oração de consagração; c) a entrega a Bíblia ao novel diácono.

Quem pode ser examinador? Como antigamente, qualquer diácono ou pastor presente, desde que não seja neófito e esteja devidamente preparado.

Como se apresentar? O examinador pode, eventualmente e de forma sucinta, se apresentar aos presentes, se é que ninguém o fez anteriormente. Pode falar da sua experiência positiva como diácono consagrado. Deve ser cuidadoso o tempo inteiro com o seu o linguajar. Antes de iniciar a fase de perguntas, é importante que o examinador identifique a família e os convidados do candidato e, em seguida, ore ou peça alguém para orar buscando o favor do Senhor pelos candidatos, que não raras vezes ficam emocionalmente instáveis.

Quanto à indumentária, é importante que o examinador esteja no mínimo dentro de um traje esporte fino (o terno está cada vez mais fora de cogitação não somente por questões climáticas, mas também por mudança de costumes). Não sou a favor de traje despojado…

O que perguntar?

Há quem entenda que o examinador deve fazer todas as perguntas contidas na apostila de estudos, exatamente naquela ordem. Ledo engano. É importante que o candidato se prepare com afinco, mas não vejo a menor necessidade disso. Portanto, o examinador pode selecionar algumas perguntas de cada tópico para aferir os conhecimentos do candidato e devolver a palavra ao presidente, declarando-se satisfeito ou, do contrário,  dizendo que não tem mais perguntas a fazer (neste caso, isto pode soar como uma senha para não dizer que não gostou das respostas).

Como perguntar?

O examinador precisa ter discernimento para entender que o candidato é escolhido pela igreja local para o serviço, e não para o ministério da Palavra. Logo, salvo raras exceções, pressupõe-se que os seus conhecimentos podem não ser tão amplos. O examinador deve, antes de tudo, evitar perguntas constrangedoras.

Postura do examinador:

Não me refiro à postura física, mas falo de gentileza, urbanidade, civilidade, educação, discrição, espírito cristão, espiritualidade. Precisa ser benévolo com o candidato e ético com a congregação. É inadmissível que o examinador corrija o candidato quando esse não der uma resposta satisfatória. Isto é papel dos membros do concílio, que estarão muito atentos às perguntas e respostas, e terão oportunidade de avaliar o candidato em ambiente reservado, no momento oportuno. O papel do examinador é fazer as perguntas de forma direcionada ou para o grupo.

O examinador é alguém que pode enriquecer ou estragar o concílio. Eu diria que ele é o elemento chave do concílio. Pode inicialmente fazer perguntas mais simples e, ao longo do exame, à medida em que for percebendo o grau de conhecimento e desenvoltura de cada candidato, poderá transformar a ocasião em um momento agradável de crescimento para todos os presentes. Em todos as ocasiões precisamos enxergar uma intencionalidade.

Cuidado com o exibicionismo

É raro, mas pode acontecer de o examinador ser confrontado pelo próprio candidato, pelo pastor presidente da igreja ou por outro membro do concílio. Portanto, muito preparo e nenhum exibicionismo. Nunca faça perguntas que você mesmo não saberia responder.

Posicionamento do candidato

O examinador deve sugerir que os candidatos escolham ficar de pé ou sentados. É preciso saber que o candidato eventualmente estará sob tensão e por isso ele precisa estar confortável. É importante que ele tenha água para tomar durante o exame.

Conclusão:

Por certo, este tema não se esgota com tão poucas palavras, mas creio ser um bom começo para reinventarmos ou corrigirmos eventuais falhas no modo como temos agido.

Para tanto, que o Senhor nos ilumine e nos abençoe.

Jonatas Nascimento –  Empresário contábil, Diácono Batista, Graduado em Letras e Direito e Especialista em Contabilidade Eclesiástica. Autor do livro “Cartilha da Igreja Legal”  e Colunista deste Portal – E-mail: jonatasnascimento@hotmail.com – WhatsApp: (21) 99247-1227

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