Paciência para lidar com Pais Idosos

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Envelhecer é inevitável e um dia todos os papéis se invertem, os pais que cuidaram se tornam os que precisam de cuidado. E, nessa transição delicada, filhos adultos são chamados a olhar não apenas para o corpo fragilizado, mas também para a alma que carrega histórias, dores e esperanças. Em meio a tantas mudanças, é normal se perguntar como exercer esse cuidado sem se perder na exaustão ou na indiferença.

A terceira idade é, para muitos, um tempo marcado por perdas sucessivas. Amigos, familiares e até a própria saúde parecem escorrer pelas mãos. “Na terceira idade, é comum enfrentar crises existenciais que se manifestam por meio de quadros de depressão e sentimentos de solidão”, afirma o pastor Victor Soares, da Primeira Igreja Batista de Fortaleza/CE.

Acostumado a acompanhar famílias e idosos em sua jornada pastoral, ele explica que a fé tem um papel central nesse cenário. “A fé oferece esperança e um sentido de propósito, servindo como uma fonte valiosa de conforto e renovação”, declara.

Entre paciência e presença

Com o avanço da idade, é natural que os pais apresentem limitações físicas e cognitivas. São pequenos esquecimentos, dificuldades de locomoção, mudanças de humor. Nem sempre é fácil para eles aceitarem essas novas condições, tampouco é simples para os filhos que acompanham esse processo diariamente. Victor aconselha que os filhos adotem uma postura de empatia e diálogo.

“É fundamental cultivar uma relação transparente, amistosa e pautada na boa vontade. Dessa forma, os cuidados prestados se tornam verdadeiramente abençoados, beneficiando tanto quem cuida quanto quem é cuidado”, diz.

Mas há também o sofrimento que não se vê de imediato. Alterações no comportamento, como irritabilidade, isolamento ou perda de apetite, podem ser sinais silenciosos de que algo não vai bem emocionalmente. Victor destaca a importância de olhar com atenção.

“Sinais como isolamento social, humor deprimido, falta de apetite e irritabilidade são frequentemente indicativos de uma queda na qualidade de vida do idoso”, explica. Para ele, a escuta é um importante instrumento de apoio. “Ouvir atentamente e acolher suas angústias pode incentivá-los a buscar apoio e a enfrentar esse período de adaptação”, ensina.

Cuidar é também obedecer a um mandamento

Ao falar sobre a responsabilidade espiritual no cuidado com os pais, Victor Soares é enfático e explica o papel dos filhos. “A Bíblia orienta o cuidado com os pais por meio do mandamento: ‘Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra’ (Êxodo 20:12)”, resume, explicando que esse princípio bíblico, ensinado desde a infância na maioria das igrejas, ganha profundidade prática na vida adulta, quando as demandas se intensificam.

“Esse cuidado abrange não apenas as necessidades físicas, mas também a saúde mental e emocional, ressaltando a importância de demonstrar amor, respeito e apoio contínuo aos nossos familiares”, complementa o pastor.

Esse entendimento convida os filhos a viverem o cuidado não como um fardo, mas como parte da obediência à fé. E isso pode se refletir em atitudes simples, como ajudar na organização da rotina, oferecer companhia frequente e envolver os pais em momentos espirituais significativos.

Rotinas que alimentam corpo e espírito

A espiritualidade pode ser uma aliada importante para preservar a lucidez, a serenidade e até mesmo o senso de dignidade na velhice. Pastor Victor recomenda a valorização de práticas diárias de fé.  “Incentivo a prática do culto doméstico, da oração, da leitura bíblica e dos louvores, além de promover conversas espirituais”, explica. Essas ações, segundo ele, fortalecem tanto a mente quanto o espírito, “essas atividades alimentam o ânimo, trazem alento e mantêm uma conexão diária com Deus”.

Além disso, envolver os idosos em momentos de comunhão com a igreja, quando possível, ou mesmo criar espaços de escuta e partilha dentro de casa, pode fazer toda a diferença para o bem-estar dos pais.

Por Patrícia Esteves

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