Há diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diferentes tipos de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos. (1 Coríntios 12.4-6).
Ao chegar no final deste mês em que tratamos sobre “dons e talentos”, vale a pena refletir sobre como estes dons são usados por Deus na edificação de sua igreja. Os capítulos 12 a 14 de 1ª Coríntios tem sido considerado central para a compreensão da doutrina bíblica dos dons espirituais. Logo na abertura desta longa seção de sua epístola, o apóstolo Paulo vale-se de alguns termos diferentes para tratar de tema tão diverso. Esta pluralidade de termos, porém, parece estar relacionada com o fato de que o Deus que é um e três está a edificar uma igreja feita de muitos membros que compõe um único corpo. A Triunidade é a chave para o entendimento da natureza dos dons espirituais.
O Espírito capacita no serviço.
O trecho escolhido é marcado pelas palavras “diferentes” e “o mesmo”. Esta dupla aparece pela primeira vez quando Paulo afirma que “Há diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo”. Dons aqui é tradução da palavra grega charismaton (pl. de charisma) que possui a mesma raiz de “graça” (gr. charis). A ideia expressa, portanto, algo que é concedido livre e graciosamente. Se “dom” se refere a algo que é dado, cabe-nos perguntar quem é o autor da dádiva. A resposta encontra-se junto com o termo “o mesmo”. O Espírito é “o mesmo”. Isso significa que é o Espírito que nos presenteia com dons. Que dons? Diversos. Um Espírito, muitos dons concedidos. Neste ponto cabe observar que não adianta tentar elaborar uma lista exaustiva de dons. Ao observar outros trechos do mesmo capítulo, percebemos que a “lista” dos versículos 8 a 10 não é idêntica à dos versos 28 a 30. Isso porque Paulo não deseja elaborar uma lista final de dons, mas estabelecer duas verdades sobre o assunto: (1) Se não for dado pelo Espírito Santo não é dom, (2) os dons são muitos, mas sua eficácia depende da unidade do Espírito. Há um só Espírito que concede muitos dons aos crentes para que sejamos um único corpo com muitos membros (1 Co 12.12).
O Filho exemplifica o serviço
Mais uma vez, Paulo apresenta a unidade na diversidade: “Há diferentes tipos de ministérios, mas o Senhor é o mesmo” (1 Co 12.4). Há muitos “ministérios” (gr. diakonion), porém um só Senhor (gr. kurios). Ministério é serviço sacrificial e não posição de poder ou status como hoje tanto se difunde. No Reino de Deus aquele que “quiser ser o primeiro […] que seja servo de todos” (Mc 10.44). Porque assim deve ser? Por que devemos, como servos, imitar nosso Senhor. Ele veio servir e não ser servido. Jesus, segunda Pessoa da Trindade, o Alfa e o Ômega, Ele escolheu servir! Enquanto o Espírito distribui recursos para a edificação da igreja, o Salvador nos dá o modelo de ministério. Não ousemos pensar em qualquer tipo de ministério sem olhar para o sofrimento da cruz. Somos chamados à autonegação e a carregar nossa cruz. Não há ministério sem imitação de Cristo, seja no púlpito ou no servir as mesas. Nossa vocação exige renúncia.
O Pai dá o poder para o serviço
No verso 6 lemos que “Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos”. Diversidade de realizações como fruto da ação de Deus. Paulo tem em mente a ação poderosa de Deus Pai que trouxe a existência todas as coisas. Deus trabalha (Jo 5.17) e nos convoca a trabalhar também. O trabalho de Deus pode ser feito de diversas maneiras. Contudo, o valor do que se faz em nome de Deus está no alinhamento do coração do crente com a missão de Deus. Como igreja temos uma missão. Esta missão não nos foi dada aleatoriamente. Deus nos chama a cooperar com o que Ele já está a fazer. Muito se tem “inventado” por aí em nome de Deus. Não somos chamados a exibirmos grandes realizações, mas simplesmente sermos instrumentos do que Deus quer fazer no mundo. Voltemos ao simples, então: O único Deus nos chama a viver e a pregar o evangelho. Nada pode resistir ao povo de Deus no exercício de sua missão.
Unidade na diversidade é uma marca na ação criativa de Deus. O Deus que cria o faz a partir da preparação de seu Espírito e do poder de sua Palavra. Portanto, Pai, Filho e Espírito criam o que é a partir do que não é. Da catástrofe do pecado que desfigura a perfeição da Criação, a Trindade mais uma vez intervém trazendo a salvação: O Pai elege, o Filho paga o preço e o Espírito sela (Ef 1.3-14). Por sua ação comunitária o Deus Trino criou e redimiu seu povo. Este povo se chama igreja e deve refletir com o maior grau de fidelidade possível a incrível capacidade de Deus de ser um e muitos simultaneamente. “A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso” (1 Co 12.7). Para isso Ele nos deu dons, ministérios e formas de atuação.
Pr. Lucas Rangel de C. Soares