A era da dispersão

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Foto: Reprodução.

Conversava com uma senhora e sua filha, e eis que de repente, me deu um branco e perguntei a elas sobre o que estava falando. As duas se entreolharam e não me ajudaram a encontrar o fio da meada. Elas estavam dispersas. Não estavam focadas no diálogo. Isso já aconteceu com você?

Vivemos na era da dispersão. Temos perdido o foco das coisas mais importantes da vida. Os nossos interesses estão voltados em muitas direções e não buscamos mirar o essencial. Perdemos tempo com coisas de somenos importância. Nesta era tecnológica, dos descartáveis, temos descartado as pessoas e buscado ‘interagir’ com a máquina. É impressionante o número de pessoas nas ruas com celular, smartphone, tablet. Na verdade, temos nos robotizado, alienado e esvaziado de conteúdo (se é que possuímos) que vale a pena. Temos trocado o pão pelo alimento artificial. O que nos apetece é o que traz vantagens físicas e emocionais, mesmo que seja em detrimento da ética e da espiritualidade em Cristo Jesus.

A dispersão é uma característica de pessoas vazias de significado, fúteis, consumistas, mergulhadas no esteticismo e no estilismo, voltadas para o prazer pelo prazer. A sociedade avança para o niilismo. O importante para este mundo pós-moderno é tudo aquilo que facilita a vida, o instantâneo, que não dá trabalho, e que não traga compromisso. O precioso escritor e apologista norte-americano Charles Colson chamou o compromisso de “um valor desconhecido na vida atual”. As pessoas estão buscando o caminho mais fácil para alcançar os seus objetivos. Mas a nobreza de caráter tem prazer em trabalhar de modo sério servindo às pessoas. Podemos contrastar aqui a grande diferença entre o egoísmo da dispersão e o altruísmo da meditação, da concentração, da busca de uma intimidade maior com o Senhor.  

As atitudes dispersivas têm adoecido as pessoas. Elas têm medo da reflexão acerca da vida aqui e na eternidade. Estão ansiosas, preocupadas com a subsistência. São tomadas pela fobia. Por esta razão, temos constatado um aumento considerável de pessoas com pânico e depressão. Aumenta o número de pessoas que vivem sozinhas e infelizes. Por outro lado, a vida em comunidade é a grande estratégia do Senhor para fazer com que as pessoas sejam reflexivas, relacionais, participativas, solidárias e generosas (Atos 2.42-47; 4.32-37). Sabemos que onde há a comunidade em Cristo Jesus há aceitação, há perdão e há festa, celebração.

Há muitos dispersos, especialmente os políticos e líderes eclesiásticos. Nas seções da Câmara dos Deputados e do Senado quando alguém está falando pouquíssimos prestam atenção. A dispersão leva ao desrespeito e a falta de ética. A liderança cristã, por sua vez, está comprometida com o grande valor do próximo, a atenção concentrada, o diálogo, o serviço e a interatividade dinâmica e empática. Josué era assim e recebeu a ordem de Deus para liderar o Seu povo, refletindo na Lei. O Senhor ordenou que ele meditasse na Sua Lei dia e noite (Josué 1.8,9). Uma das razões pela qual ele foi bem-sucedido era sua obediência, a sua capacidade de seguir as ordens de Javé. Ele possuía um compromisso com o Senhor, com sua família e com o povo.

Para combater veementemente a dispersão só o desejo de concentrar-se no Senhor e na Sua Palavra, meditando, estabelecendo o foco e trabalhando com disciplina a atenção concentrada. Sabemos que é difícil quando a prática da dispersão vira uma cultura nos relacionamentos. Precisamos aprender com pessoas mais maduras a arte da concentração e do foco. Quando nos concentramos aprendemos mais. Quando prestamos a atenção em uma palestra, em uma aula, em uma conversa com o nosso interlocutor no caráter de Cristo, crescemos como pessoas. O nosso temperamento é controlado pelo Espírito e a nossa postura se torna íntegra. Paulo nos dá uma belíssima exortação em Filipenses 4.8: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o  que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”. Aqui temos uma ordem para um pensamento concentrado, equilibrado e produtivo. Na realidade, são algumas características da mente cristã.

Dispersão não traz crescimento, mas retardamento. Não produz aprendizado, mas esquecimento do conteúdo e estagnação. Uma das coisas que ajuda a pessoa ficar dispersa, desatenta, é a falta de leitura e disciplina de concentração. Além disso, temos a falta de amizades sinceras e enriquecedoras. A inexistência de concentração como estilo de vida pode produzir desajustes mentais e emocionais. Pode prosperar para um vazio insuportável. A meditação combate a dispersão. Contribui para a saúde da mente e do coração. Podemos dizer com segurança que a falta de atenção não agrada a Deus, mas a concentração santificada pelo Espírito Santo exalta o Senhor. Sejamos focados, atenciosos no que as pessoas falam. Que o Senhor nos livre da dispersão e nos faça pessoas reflexivas e focadas para nossa edificação, testemunho cristão e a glorificação do Seu nome.

Pr. Oswaldo Luiz Gomes Jacob
Colunista deste Portal 

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