Uma consciência de nossa incapacidade para o exercício do Ministério da Palavra

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Uma chamada à humildade no exercício do múnus profético.

INTRODUÇÃO:

  1. Início pela graça de Deus com um pensamento muito conhecido: “DEUS NÃO CHAMA OS CAPACITADOS, MAS CAPACITA OS CHAMADOS”. Este pensamento reflete a realidade. Deus não chama os sãos, mas os doentes para serem curados e usados. A história dos grandes feitos de Deus tem nos seus registros as pessoas mais esquisitas e que seriam alijadas pela sociedade hoje. Deus trata com fracassados e não com super-homens.
  2.  Deus chamou pessoas que eram deixadas de lado para serem coadjuvantes na Sua obra: Raabe, Jacó, Rute, Saulo, Simão Pedro, Onésimo e tantos outros. Eram homens e mulheres comuns para um trabalho extraordinário.
  3. A chamada de Jeremias aconteceu num contexto muito difícil de Israel (vamos considerá-lo logo). Os homens de Deus foram vocacionados em momentos de crise da nação.
  4. Neste primeiro capítulo podemos considerar a chamada, a resposta do profeta, a visão dada por Deus, o comissionamento e as promessas de acompanhamento, provisão e proteção. Jeremias profetizou durante 40 anos, inclusive no período do exílio.
  5. Veremos quatro preciosos pontos de convergência deste chamado ou desta vocação profética. Entenderemos que o mesmo Deus que chama é o mesmo que sustenta. O mesmo Deus que sustenta é o Deus que abre portas. O mesmo Deus que abre portas é o mesmo que produz os resultados conforme a Sua vontade. O mesmo Deus que produz resultados é o mesmo que quer ser glorificado. Que Ele o seja nesta exposição, na compreensão da Sua Preciosa Palavra.
  6. UMA CONSCIÊNCIA DE NOSSA INCAPACIDADE PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO DA PALAVRA CONHECENDO O CONTEXTO, vv.1-3.
    1. Segundo Mesquita, “o nascimento de Jeremias ocorreu em 626 a.C., no reinado de Josias, e viveu em Jerusalém até 586 a.C, quando Nabucodonozor destruiu a cidade e levou o povo cativo para a Babilônia. Atravessou, pois, os dias turbulentos de Judá, desde a morte de Josias até o cativeiro de Zedequias”.
    1. “Somos informados de que família era o profeta. Ele era filho de Hilquias, não daquele Hilquias, supõe-se, que era Sumo Sacerdote nos dias de Josias”.
    1. Jeremias significa “aquele que é levantado pelo Senhor (ou aquele a quem Jeová designou)”. A respeito de Cristo é dito: “O Senhor, teu Deus, te despertará (ou levantará) um profeta do meio de ti” (Deuteronômio 18.15,18). 
    1. Jeremias é levantado num tempo de idolatria, infidelidade do povo de Israel e a iminente invasão dos Caldeus ou Babilônios.
  7. UMA CONSCIÊNCIA DE NOSSA INCAPACIDADE PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO DA PALAVRA A PARTIR DA VOCAÇÃO DA PARTE DE DEUS, vv.4,5.
    1. O profeta Jeremias é muito seguro quando diz: “A Palavra do Senhor veio a mim…” (v.4). A Palavra do Senhor tem sempre conteúdo denso, intenso e transformador. No verso 5, temos duas implicações: Soberania e presciência de Deus. O homem de Deus tem consciência do valor inestimável da Palavra de Deus. Sabe que ela é viva e eficaz (Hebreus 4.12).
    1. Em João 1.47-49: “Vendo Natanael aproximar-se, Jesus referiu-se a ele, dizendo: Este é um verdadeiro israelita, em quem não há dolo ou fingimento! E Natanael perguntou-lhe: De onde me conheces? Respondeu-lhe Jesus: Antes que Felipe te chamasse, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira. Natanael respondeu: Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel”. Uma chamada imerecida e uma confissão necessária.
    1. O apóstolo Paulo tinha esta consciência da vocação quando declarou: “Quando Deus, porém, que desde o ventre de minha mãe me separou e me chamou pela sua graça, se agradou em revelar Seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, não consultei ninguém” (Gálatas 1.15,16). 
    1. Sabemos que a vocação do homem de Deus não é mérito dele, mas de Cristo. A honra não é dele, mas de Cristo. O crédito não é para ele, mas para Cristo. A glória não é dele, mas de Cristo.
    1. Dr. John Skinner (Westminster) diz: “O chamado de Jeremias, como registrado no primeiro capítulo do seu livro, tomou a forma de diálogo entre ele próprio e Javé, evento este que lhe imprimiu na consciência a certeza de uma vocação vitalícia de serviço a Deus”.
    1. John Henry Jowett, numa série de preleções em Yale (abril-1960). diz: “O chamado do Eterno tem que ressoar através das recâmaras da sua alma como o som dos sinos matinais ressoa pelos vales da Suiça, convocando os campônios para a primeira oração e louvor…Ora, o homem que entra no ministério pela porta da vocação divina, certamente aprenderá a ‘glória’ da sua vocação … Se perdermos o senso de transcendência da nossa comissão, nós nos tornaremos semelhantes a comerciantes comuns, num mercado comum, parolando acerca da mercadoria comum … Movamo-nos com reverência naquele secreto lugar santo… A nossa missão é cercada de antagonismos. O caminho raramente – senão jamais – será fácil. Mas na fé e obediência de nobres cavaleiros a vitória é certa”. 
  • UMA CONSCIÊNCIA DE NOSSA INCAPACIDADE PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO DA PALAVRA A PARTIR DA REFLEXÃO PESSOAL À LUZ DA REVELAÇÃO DE DEUS, v.6.
    •  O profeta se sentiu um menino frágil, incapaz de realizar a obra determinada pelo Senhor. Como homens de Deus, devemos nos sentir como pessoas dependentes, puras, simples e sinceras no exercício do ministério da Palavra.
    • Podemos fazer um contraste entre e missão dada pelo Senhor (v.5) e a resposta do profeta no v.6. O profeta se sentiu incapaz ou inabilitado de realizar a tarefa.
    • O Senhor Jesus nos deu a Missão, mas garantiu a Sua presença no exercício da mesma (Mateus 28.18-20).
    • Gosto muito do que C. H. Mackintosh, um precioso irmão Irlandês, disse:

Não podemos recuar da posição em que Deus tem nos colocado.

O abandono desta posição nunca é fruto da humildade, mas do egocentrismo.

Deus não nos chamou com base em nossa capacidade, mas na capacidade DELE.

É Ele que nos faz instrumentos de Sua Glória.

Deus não obrigará ninguém a permanecer no lugar onde nos colocou.

O caminho estará sempre aberto para descermos ao lugar em que a vil incredulidade nos lançar.

Se Deus nos honra para que andemos nas pisadas de Cristo …

Não murmuremos, pois poderemos perder rapidamente sua honra.

Que Ele encontra em nós um coração disposto a serví-lo …

Um coração paciente, consagrado e despido de si mesmo!

Um coração fiel que se regozija e permaneça na sua vontade!

Amém! Amém! Amém!”.

  • UMA CONSCIÊNCIA DE NOSSA INCAPACIDADE PARA O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO DA PALAVRA CONVICTOS DA INTERVENÇÃO DE DEUS E DO SEU JUÍZO, vv.7-19
    • O Senhor sabiamente levou Jeremias a focar não ele mesmo, mas a missão dada por ele (v.7). O mesmo Senhor incita o profeta à coragem a partir da Sua provisão e proteção eficazes. (v.8). E aí o Senhor toca a boca do profeta. O Senhor habilita o profeta, garantindo a Sua companhia. No v.9, vemos o Senhor estendendo a Sua mão e tocando a boca do profeta, dizendo: “PONHO AS MINHAS PALAVRAS NA TUA BOCA”.
    • O Senhor concede autoridade a Jeremias (v.10) sobre as nações para “arrancares e derrubares, para destruíres e demolires, também para edificares e plantares”. O Senhor usa as linguagens (metáforas) da agricultura e da arquitetura. O profeta tem o poder da parte do Senhor para agir no mundo natural e no mundo não-natural. No mundo criado e no mundo construído.
    • No v.11, o Senhor chama o profeta para uma visão. A primeira é da amendoeira. No hebraico a amendoeira é a árvore “vigilante”. “Ela acorda do sono do inverno antes das outras; floresce em janeiro e frutifica em março. Ela indicava a rapidez do movimento de Deus (Meyer). Agora o Senhor utiliza a amendoeira com a sua florada iminente e, em seguida, Ele faz uma aplicação: Estou atento para que a minha Palavra se cumpra (vv.11,12). Mais tarde, o Senhor utiliza outro simbolismo: uma panela fervente (v.13). Esta é o símbolo da guerra.
    • Agora o Senhor interpreta para o profeta que Jerusalém será cercada e destruída pelos babilônios e o povo levado para o cativeiro de 70 anos (vv.14,15). A carta de Jeremias ao povo é muito interessante (Jeremias 29.1-14).
    • O Senhor comunica ao profeta as razões para o Seu juízo sobre o povo: suas maldades, infidelidade, idolatria. São características também do nosso tempo, inclusive em nossas igrejas (v.16). Hoje temos a filosofia gospel; lavagem de dinheiro em SP; adoração ao deus do entretenimento; teologia da prosperidade; judaísmo dentro das igrejas; dedicação da revolta (de ser pobre, doente…) a Deus; o pragmatismo religioso …
    • No v.17, o Senhor determina a Jeremias que ele se prepare e se levante para denunciar o erro e o encoraja a não se apavorar na presença dos israelitas. Nos vv. 18,19, o Senhor garante a vitória do profeta sobre todos os opositores – reis, príncipes, sacerdotes e o povo da terra. O Senhor conscientiza o profeta da luta e promete a vitória. A nossa luta, senhores, não é contra carne e sangue, mas sim contra principados e potestades (Efésios 6.10-20).

CONCLUSÃO:

  1. Como homens de Deus não podemos recuar, mas avançar. O Senhor nos chamou, nos preparou, tem nos sustentado por Sua graça e poder, segredado o Seu amor incomparável e insubstituível, para proclamarmos a Sua Palavra com fidelidade e amor. Ele quer que sejamos íntegros em todo o nosso viver.
  2. A.W. Tozer profeticamente diz: “A Igreja, neste momento, precisa de homens, o tipo certo de homens, homens ousados… A Igreja suspira por homens que se consideram sacrificáveis na batalha da alma, homens que não podem ser amedrontados pelas ameaças de morte, porque já morreram para as seduções deste mundo. Tais homens estarão livres das compulsões que controlam os homens mais fracos. Não serão forçados a fazer coisas pelo constrangimento das circunstâncias; sua única compulsão virá do íntimo e do alto”.
  3. O profeta Jeremias pagou um alto preço por causa do Seu amor e da Sua fidelidade ao Senhor. Morreu no Egito, fora da sua tão amada pátria. Ele cumpriu a missão recebida da parte de JAVÉ. Um homem nas mãos de Deus para fazer toda a vontade de Deus no tempo de Deus. Jeremias chorou pelo seu povo. Lamentou diante de Deus. Era um homem sensível e muito sincero em suas manifestações como um dos profetas canônicos. Ele amava a lei de Deus. Vivia fundamentado nesta lei (Merrill, Eugene). O seu prazer era a Lei do Senhor.
  4. Ele tinha uma consciência da sua incapacidade de servir o Senhor no profetismo judaico. Mas, ao mesmo tempo, recebeu de Deus a capacitação para o exercício do ministério profético. Paulo magistralmente testemunha em 2 Coríntios 3.5: “Não que sejamos capazes por nós mesmos de pensarmos alguma coisa, mas a nossa capacidade vem de Deus que nos habilitou para sermos ministros de um novo pacto”. Fomos chamados, estamos sendo capacitados e exercemos, somente pela misericórdia de Deus, o ministério da Palavra. Prossigamos na jornada olhando para Cristo – nosso Salvador, Senhor e Modelo de ministério e de obediência incondicional ao Pai. Exerçamos o ministério na total dependência do Senhor para que em tudo, em tudo mesmo, Ele seja glorificado!

Pr. Oswaldo Luiz Gomes Jacob
www.oswaldojacob.com  

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