Há algumas décadas atrás, os batistas eram claramente identificados como cristãos fiéis a Deus e às Escrituras Sagradas. Todos os reconheciam como estudiosos da Bíblia. Mesmo aqueles que discordavam de suas doutrinas, concordavam nesse ponto. Isso acontecia porque as igrejas batistas falavam a mesma língua. Havia unidade no ensino e na prática. Isto é, havia identidade.
No entanto, ao longo dos anos, essa identidade começou apresentar sinais de erosão. O liberalismo teológico foi sutilmente adentrando a denominação a partir dos seminários. Porquanto, alguns teólogos, com o intuito de prover um ensino de melhor qualidade, fizeram mestrado e doutorado. Entretanto, buscaram essa formação em instituições dominadas por teólogos liberais. A consequência inevitável foi a corrupção das cátedras teológicas. Isto produziu uma nova geração de pastores que, enfraquecidos doutrinariamente, foram paulatinamente abandonando os princípios que sempre caracterizaram o povo batista. Como se não bastasse, somou-se a isso, a perda da editora que por tantos anos norteou a educação em nossas igrejas.
A partir daí, elementos estranhos à fé batista foram sutilmente sendo acrescentados, de modo que o nome no letreiro do templo não mais identificava o pensamento da igreja. Em muitos casos, tornou-se apenas um enfeite. Isto porque, passamos a ver igrejas “batistas” que mais pareciam comunidades neopentecostais. Com isso, a mente do povo ficou confusa. Muitos questionaram seus pastores, dizendo: – ué, não é uma igreja batista? Por que estão agindo daquele jeito?
Os pastores, sem uma resposta mais elaborada, diziam apenas que eles estavam errados, descumprindo as Escrituras. No decorrer do tempo, a salada doutrinária foi ficando cada vez mais sortida. Surgiram igrejas batistas com todo o tipo de práticas. E, diante desse quadro aterrador, onde a identidade se tornou uma relíquia do passado, não houve posicionamento algum da liderança. Afinal de contas, muitos se alegravam com essa Babel, afirmando que esse pluralismo é o que nos caracteriza como batistas.
Todavia, contraditoriamente, os defensores do pluralismo resolveram institucionalizar um de seus posicionamentos antibíblicos, a saber, a ordenação feminina. Mesmo que não possuíssem base bíblica para tal, argumentaram que as Escrituras Sagradas foram produzidas num contexto em que predominava uma cultura machista e patriarcal, e, por isso, a liderança da igreja era exclusivamente masculina. No entanto, com o desenvolvimento social e intelectual, as coisas mudaram. Sendo assim, a igreja contemporânea não poderia mais ser norteada pela “machista” teologia paulina. “Temos de seguir o Jesus de Nazaré”, diziam eles.
A princípio, usaram como justificativa a “necessidade” de reconhecer aquilo que alguns, arbitrariamente, haviam feito (ordenação feminina), dizendo, inclusive, que ficaria a cargo das igrejas locais a opção de ordenar ou não. Porém, estranhamente, quem discordava de tal ordenação, ao expressar seu posicionamento, era automaticamente massacrado pelos defensores do pastorado feminino, os quais acusavam os insatisfeitos de machismo e arcaísmo teológico. Diante disso, surgiu uma indagação: – Como é possível aos defensores do pluralismo doutrinário atacar quem pensa diferente? É, no mínimo, contraditório.
Contudo, quando pensávamos que estávamos no limite dos desvios doutrinários, estourou uma bomba ainda maior: a Igreja Batista do Pinheiro, em Maceió, embalada pelo liberalismo teológico, seguiu a mesma argumentação usada para legitimar o pastorado feminino e decidiu, em assembleia extraordinária, receber homossexuais não convertidos no seu rol de membros. Com isso, se tornou evidente que a pior coisa que fizemos foi nos calarmos diante do afastamento das Escrituras, que desde há muito tempo grassa em nosso meio.
Mas, graças a Deus, ainda há lucidez em nossa denominação. Existem “sete mil que ainda não se dobraram diante de Baal”. Vemos isto a partir das vozes batistas que clamam contra esses desvarios. Pessoas que, mesmo diante da grande massa liberal, resistem firmes, ainda que isso lhes custe a popularidade. Homens e mulheres que entendem que a Bíblia deve continuar a ser nossa única regra de fé e prática. Ela sim deve ser absoluta, e não a cultura. Devemos receber a mensagem das Escrituras, e não lhe impor os ditames da sociedade pós-moderna.
Para a glória do Senhor, sou um desses. Não odeio homossexuais e nem pastoras. Na verdade, os amo, assim como amo também quem defende essas ideias. Entretanto, amar não significa concordar com tudo. Discordo da postura e da atitude da Igreja Batista do Pinheiro; discordo da aceitação de pastoras na OPBB; e discordo do acolhimento do liberalismo teológico como regra de fé e prática. Acredito que qualquer denominação que reconheça a Bíblia como sua única regra de fé e prática não pode abraçar um método hermenêutico que contraria essa assertiva, como é o caso do método histórico-crítico, o qual enfraquece a autoridade das Escrituras com suas fontes infindáveis (Crítica da Fonte), manipulações de textos (Crítica da Redação) e de relatos (Crítica da Forma).
Penso que precisamos resgatar nossa identidade histórica. Do contrário, a denominação estará condenada à extinção. Batista será apenas uma marca, nada mais. Sei que isso é, praticamente, o que já temos experimentado. Porém, creio que ainda é possível reverter essa situação. Basta que cada batista genuíno empunhe sua Bíblia e proclame-a como a Palavra de Deus infalível, inerrante e autoritativa.
Pr. Cremilson Meirelles
Excelente texto. Parabéns a ADIBERJ pela postagem desse esclarecedor texto do Pr Cremilson Meirelles