Pregadores, mostrem a eles o que a Bíblia diz

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A exultação expositiva envolve atenção rigorosa às próprias palavras do texto bíblico como um meio de penetrar radicalmente na realidade que o texto pretende comunicar.

Estou apelando contra um tipo generalizado de pregação que é baseada na Bíblia, mas não saturada pela Bíblia. Estou apelando contra a leitura de um texto seguido de uma pregação que mostre seus pontos – às vezes, pontos muito bons realmente encontrados no texto – sem mostrar às pessoas as mesmas palavras e frases das quais os pontos são retirados. Estou apelando contra a pregação que falha em ajudar as pessoas a ver como o texto realmente nos leva à realidade mais importante.

Quais são as razões subjacentes a essa convicção de que um pregador deve mostrar às pessoas, pelas próprias palavras do texto, como elas podem ver por si mesmas a realidade que ele está anunciando? Vou discutir apenas dois aqui.

1. Somente a Palavra de Deus tem autoridade

Primeiro, a autoridade da pregação está na correspondência manifesta entre o que o pregador está tentando comunicar com suas palavras e o que os autores bíblicos estão tentando comunicar através das palavras inspiradas das Escrituras. A palavra-chave aqui é manifesta. A correspondência entre os pontos do sermão e o significado das palavras que as Escrituras deveriam mostrar.

Um pregador que não se importa se seu povo acredita no que ele diz sobre os assuntos mais importantes do mundo é um charlatão. Ele está jogando jogos de palavras em um dos lugares mais sagrados do mundo. Suponho que muitos pregadores que acreditam que a Bíblia é a palavra de Deus não são charlatões. Ou seja, eles levam muito a sério o chamado para dizer coisas nas quais as pessoas deveriam acreditar. Eles querem ser cridos. Eles esperam que seu povo acredite no que dizem.

Meu Primeiro Sermão na Bethlehem Church

A base para essa expectativa surpreendente é a inspiração divina e a veracidade completa das Escrituras. O pregador cristão pretende falar a palavra de Deus. Ele quer ser crido porque está dizendo o que Deus quer dizer. No primeiro sermão que preguei como pastor na Bethlehem Baptist Church, aos 34 anos, eu disse:

“A fonte da minha autoridade neste púlpito não é… minha sabedoria; nem é uma revelação particular que me foi concedida além da revelação das Escrituras. Minhas palavras têm autoridade apenas na medida em que são a repetição, desenvolvimento e aplicação adequada das palavras das Escrituras. Só tenho autoridade quando estou sob a autoridade delas. . .. Minha profunda convicção, sobre a pregação, é que um pastor deve mostrar às pessoas que o que ele está dizendo já foi dito ou está implícito na Bíblia. Se não puder ser mostrado, não possui autoridade especial”.

Meu coração dói pelo pastor que aumenta seu próprio fardo ao tentar ter ideias para pregar ao seu povo. Quanto a mim, não tenho nada que valha a pena dizer. Mas Deus tem. E dessa palavra, espero e oro para que nunca me canse de falar. A vida da igreja depende disso.

Diga-nos o que Deus tem a dizer

Nesse sermão, citei W. A. Criswell (1909–2002), que pastoreou a First Baptist Dallas por quarenta anos. Eu disse naquela oportunidade, e acredito hoje, que as palavras dele são uma advertência para os pastores que acham que estão corretos, e considero isso um grande desafio:

“Muitas vezes, quando um homem vai à igreja, ouve um pregador no púlpito reeditar tudo o que já leu nos editoriais, nos jornais e revistas e nos comentários da TV, ele ouve as mesmas coisas novamente, boceja, sai e vai jogar golfe no domingo. Quando um homem vem à igreja, na verdade o que ele está dizendo é: “Pregador, eu sei o que o comentarista de TV tem a dizer; Eu o ouço todos os dias. Eu sei o que o escritor editorial tem a dizer; eu o leio todos os dias. Eu sei o que as revistas têm a dizer; Eu as leio toda semana. Pregador, o que eu quero saber é: Deus tem algo a dizer? Se Deus tem algo a dizer, diga-nos o que é”. (Porque prego que a Bíblia é literalmente verdadeira[1])”.

Isso significa que, se a pregação pretende reivindicar autoridade para ser crida, ela precisa corresponder ao que a Escritura ensina. Mas aqui está o problema: o desejo do pregador cristão não é que o local onde as pessoas depositem confiança mude da Escritura para o pregador. Ele quer que eles acreditem no que ele diz. Ele quer ter autoridade nesse sentido. Mas ele quer que a autoridade permaneça na própria Escritura, não nele e em suas palavras.

Isso implica, portanto, que a mensagem necessita não apenas corresponder ao significado das Escrituras, ela precisa também mostrar que corresponde. A autoridade da pregação está na correspondência manifesta entre o que o pregador está tentando se comunicar com suas palavras e o que os autores bíblicos estão tentando comunicar através das palavras inspiradas das Escrituras. Se não fosse assim, então com que base as pessoas acreditariam que o significado do sermão é o mesmo que o significado da Bíblia? Eles podem descobrir por si mesmos que é, sem qualquer ajuda do pregador. Mas por que o pregador dificultaria que as pessoas vissem essa correspondência?

Três razões pelas quais os pregadores frequentemente falham

Parece-me que um fracasso, em mostrar às pessoas que o significado do sermão existe nas palavras das Escrituras, provavelmente se deve à incompetência, preguiça ou presunção. Presunção de que suas palavras têm autoridade suficiente por si próprias. Preguiça, porque é um trabalho árduo não apenas examinar o que o texto significa, mas também construir explicações convincentes que mostrem que o texto bíblico realmente tem esse significado. Incompetência porque o pregador simplesmente não tem a capacidade de mostrar como o significado da mensagem realmente corresponde ao significado das Escrituras. Essas são características que um pregador não deveria ter.

A tragédia que acontece, ao longo do tempo, em uma igreja onde o pregador não dá atenção rigorosa às palavras das Escrituras, para ajudar as pessoas a penetrar na realidade que comunica, é que a palavra de Deus deixa de exercer seu poder, e as pessoas perdem o interesse nas Escrituras.

Quando isso acontece, tudo na igreja se afasta de uma orientação prazerosa nas Escrituras. O povo deixa de ser um povo guiado pela Bíblia. Sem a saturação das Escrituras, as pessoas se tornam cada vez mais vulneráveis aos ventos do falso ensino e, mais sutilmente, ao condicionamento da sociedade incrédula. Suas expectativas se tornam mundanas e pressionam a liderança da igreja a fazer cada vez mais concessões ao que agrada às pessoas não espirituais. O pregador pode então se perguntar qual é o problema, no entanto ele não precisa procurar muito. Ele não valorizou a Palavra de Deus o suficiente para que o conteúdo de suas mensagens a tornasse em realidades gloriosas, mostrando aos crentes, pelas próprias palavras do texto, como eles podem ver essas realidades por si mesmos – e se emocionar.

Essa é a primeira razão para a convicção de que o pregador deve mostrar ao seu povo, pelas próprias palavras do texto, como eles podem ver por si mesmos a realidade que ele está anunciando. Mantém a autoridade das Escrituras como fundamento manifesto de tudo o que é pregado.

2. Somente a Palavra de Deus desperta a vida

A segunda razão pela qual um pregador deve mostrar às pessoas, pelas próprias palavras do texto, como elas podem ver por si mesmas a realidade que ele está anunciando, é que a pregação visa despertar e fortalecer a fé em Cristo, o que as próprias Escrituras foram planejadas para fazer, com maior eficácia do que qualquer mensagem de um homem que mude suas palavras e significado.

A essência da fé salvadora é ver a beleza suprema de Cristo no evangelho e abraçá-lo como Salvador e Senhor, e como o maior tesouro do universo. Digo isso porque, entre outras razões, está implícito em 2 Coríntios 4. 4: “nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus”. Há uma luz espiritual que brilha através do evangelho, e é a luz da glória de Cristo.

Satanás impede os incrédulos de verem essa glória. É por isso que eles não podem crer. Essa é a luz e a glória de Cristo que uma pessoa precisa ver para crer e ser salva. É vista com os olhos do coração (Efésios 1.18), quando o Espírito Santo tira o véu de nossas mentes (2 Coríntios 3.16). A pergunta absolutamente decisiva, que os pregadores devem responder, é a seguinte: Como vou pregar para me tornar um instrumento desse milagre? Como vou pregar para despertar a fé através da visão da glória de Cristo?

Nada mais atraente

Minha resposta é que Deus deu à igreja um livro divinamente inspirado, que é a consumação da demonstração, por parte de Deus, da beleza e valor de Cristo. É o retrato completo de Deus mostrando a glória de seu Filho – o significado de sua obra de eternidade a eternidade e suas implicações para a vida humana. Este retrato divino de Cristo é o meio ordenado por Deus para gerar fé salvadora. As palavras de Deus são os melhores meios de mostrar a glória de Deus.

Portanto, a pregação que esperamos que Deus use para criar fé salvadora não pressupõe que exista um retrato mais convincente da glória de Cristo, que um pregador possa criar ao deixar de lado ou silenciar o retrato das Escrituras nas palavras das Escrituras. Em vez disso, o objetivo do pregador será apontar a atenção das pessoas para as palavras das Escrituras e, através delas, revelar a realidade da glória de tudo o que Deus é para nós em Jesus.

Escritura é a palavra divina onde a glória brilha. Nosso objetivo é fixar a atenção das pessoas nessa Palavra de forma que elas vejam por si mesmas a glória. E creiam.

Por John Piper – Extraído do Voltamos ao Evangelho.


[1] Em referência ao livro “Why I Preach That the Bible Is Literally True” de W.A. Criswell.

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