Menor índice de desemprego da história, economia em crescimento, projetos de lei que criam o Dia Nacional da Música Gospel, da Pastora Evangélica e do Pastor Evangélico, PEC das Igrejas que veda a cobrança de imposto à aquisição de bens e serviços para os templos, entre outros. Nada disso parece alterar a opinião do eleitor evangélico em relação ao presidente Lula, cuja insatisfação com o atual governo chegou a 80,1%, segundo levantamento da AtlasIntel, divulgado na última terça-feira (11). Mas por que isso acontece?
Para o articulista de Comunhão e líder do ministério na Igreja Presbiteriana Água Viva em Vitória, pastor José Ernesto, esse fenômeno acontece por dois motivos: “Primeiro, os evangélicos entendem que os benefícios são algo natural de um governante para o povo. Se os benefícios fossem uma moeda de troca, poderíamos entender que isso é um ato de corrupção. Segundo, a rejeição ao presidente por parte dos evangélicos não é pela falta de benefícios, mas pela falta de uma ética, de uma pauta que seja minimamente compatível com os valores e princípios bíblicos”, explica.
Além disso, na visão do pastor, a posição evangélica em relação a política tem sido fomentada pelo crescimento da direita em todo o mundo, inclusive, no Brasil, cuja as pautas são em comum acordo com o pensamento cristão, pois valorizam, principalmente, os valores tradicionais da família amplamente difundidos na Bíblia.
“Durante as últimas cinco ou sete décadas, o movimento de direita foi esmagado pelos movimentos de esquerda. Pela falta de uma direita atuante, a esquerda, de certa forma, ‘estressou’ o comportamento achando que nunca mais teria alguém ou algo que pudesse contrapor. Mas hoje a direita é maioria em todas as culturas e povos. Chegou a um ponto em que tivemos que reagir. E agora não tem mais volta”, justifica Ernesto.
Por conta disso, o pastor acredita que os evangélicos serão fundamentais nas próximas eleições. “Os evangélicos, a direita, os conservadores, os valores, a ética, os princípios são todas as palavras sinônimas. Daí a grande força que há em qualquer sociedade. Sempre farão diferença enquanto houver sociedade. Contudo a ‘igreja’ tem que ser apolítica. Sua mensagem é pregar o Evangelho da salvação. Quando a ela sai desse foco, destrói totalmente sua missão no mundo”, afirma.
Sem extremismo
Na opinião do Dr. William Douglas, professor e desembargador federal do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, o evangélico deve cuidar para não transformar sua luta pelos valores cristãos em ações extremistas. “A firmeza dos nossos valores não pode ser confundida com o extremismo. Temos o direito de ter e viver a nossa fé. Extremismo é violência, censura, hostilização, imposição de pensamento único e desrespeito ao direito do próximo e à lei”.
Para o magistrado, é fundamental que o povo evangélico não apenas reconheça a sua força, mas saiba o que fazer com ela. “Católicos e evangélicos precisam aprender a parar de brigar entre si e a trabalharem unidos contra a tentativa de destruição dos nossos valores. Não devemos querer impor nossa fé, mas também não podemos aceitar absurdos como, por exemplo, a imposição da ideologia de gênero e a criminalização de quem discorda dessas ideias. Os cristãos precisam estar atentos aos nossos valores e a sempre manter diálogo e busca por pacificação da sociedade”, afirma.
Douglas acredita que o eleitorado evangélico fará a diferença nas próximas eleições. Contudo, ele crê que outros fatores também precisam ser levados em consideração. “Os evangélicos são um grupo bastante relevante nas eleições, mas dois fatores são de observação obrigatória: primeiro, as mulheres e os negros também são relevantes e até mais numerosos, não podendo ser desprezados. Segundo, nem sempre esses grupos votarão por esta sua identidade, mas ligados a outros fatores, como o econômico. Porém, é essencial que os evangélicos defendam a liberdade religiosa”, ressalta.
Além disso, o magistrado lembra que Jesus não é de direita e nem de esquerda, ‘é de cima’. “Não podemos deixar a igreja ser reduzida a serviçal da política, nós servimos a Cristo. Por outro lado, se não tivermos força política, corremos o risco de a política querer mandar em assuntos internos da igreja. Precisamos aprender o que é o estado laico e trabalhar por isso. Isso será bom para o Estado e para a Igreja. Por fim, evangélico também é cidadão, pode e deve interferir nas decisões e rumos do país e a quem queira desrespeitar isso”, conclui.
Por Cristiano Stefenoni