O imperativo do chamado para o ministério pastoral

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  1. Apreciei muitíssimo o que George MacDonald declarou: “Os verdadeiros líderes são pessoas movidas no caminho de Deus, no tempo de Deus, para o lugar de Deus; não porque tenham imaginado isto, mas porque foram arrastados para isto”. Meditemos em 1 Timóteo 1.12-14 e 2 Timóteo 1.9-12.
  2. O nosso chamado, portanto, não é uma escolha pessoal, uma profissão religiosa, mas uma chamada irresistível para servir ao Senhor em Seu nome e para a Sua glória. Gosto muito do pensamento: “Deus não chamou homens extraordinários para um trabalho comum, mas homens comuns para um trabalho extraordinário”.
  3. Paulo testemunha para Timóteo e para nós algumas palavras essenciais da vocação ministerial: Gratidão, fortalecimento, fidelidade, misericórdia, graça, fé, transbordamento; santidade; propósito de Deus.
  4. Charles Spurgeon, considerado o príncipe dos pregadores, ponderou algumas coisas muitos pertinentes: “Homens que ousam declarar-se embaixadores de Cristo precisam compreender mais profundamente que o Senhor lhes ‘entregou’ a palavra da reconciliação (2 Co 5.18,19)…Preferiria que vivêssemos em dúvida e nos examinássemos muitíssimas vezes, do que tornarmos empecilhos no ministério… Ser pastor sem vocação é como ser membro professo e batizado sem conversão…
  5. ‘Não entre no ministério se puder passar sem ele’, foi o conselho profundamente sábio de um teólogo a alguém que procurou a sua opinião’ ….se não amar a sua vocação, logo sucumbirá  ou desistirá da luta, ou prosseguirá descontente, sob o peso cego de uma monotonia tão fastidiosa como a de um  cavalo cego girando um moinho. .. Cingidos desse amor, vocês serão intrépidos; despidos desse cinto mais que magico da vocação irresistível, consumir-se-ão na desventura…Leia cuidadosamente  as qualificações do bispo, registradas em 1 Timóteo 3.2-7 e Tito 1.6-9. Se esses dons e graças não estiverem em vocês, e com abundancia, é possível que tenham bom êxito como evangelistas, mas como pastores não terão nenhum valor”.
  6. Moisés e Jeremias se sentiram totalmente incapazes para a missão de liderarem o povo de Deus. As expressões de Moisés: “quem sou eu para ir a Faraó…?” (Ex 3.11); “Ah, Senhor! Eu nunca fui um bom orador, nem antes, nem agora, que falaste ao teu servo, pois sou pesado de língua…Ah, Senhor! Peço-te que envies outro que queiras enviar” (Ex 4.10,13); e de  Jeremias : “Ah, Senhor Deus! Eu não sei falar, pois sou apenas um menino”, revelam a nossa incapacidade para o exercício do ministério.
  7. John J. Jowett, falando aos alunos de Yale, sobre “A Vocação do pregador”, disse: “Já trabalhei no ministério cristão mais de vinte anos. Amo a minha vocação. Gozo ardente deleite nos seus serviços…Uma só é a minha paixão e por ela tenho vivido: A obra absorventemente árdua, gloriosa embora, de proclamar a graça e o amor de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo…
  8. O chamado do Eterno tem que ressoar através das recamaras da sua alma de modo tão claro como o som dos sinos matinais ressoa pelos vales da Suiça, convocando os compônios para a oração e louvor…A singularidade das nossas circunstancias e a espantosa singularidade de nossas almas fornecem o meio pelo qual ouvimos a voz do Senhor…A certeza de ser enviado é o elemento vital da nossa comissão. Mas ouçamos de novo a Palavra de Deus: ‘ Não mandei profetas, e todavia eles foram correndo; não falei a eles e, todavia, profetizaram’.
  9. A ausência do senso de vocação tirará a responsabilidade da pessoa e tenderá a secularizar completamente o seu ministério… Se perdermos o senso da transcendência da nossa comissão, nós nos tornaremos semelhantes a comerciantes comuns, num mercado comum, parolando acerca de mercadoria comum…Deveremos descobrir que todos os grandes pregadores preservaram este admirável senso da grandeza da sua vocação… Devemos , dizer com todo o coração: ‘Correrei pelo caminho dos teus mandamentos, QUANDO DILATARES O MEU CORAÇÃO’. ..
  10.  Somos chamados para guias e guardiães das almas humanas, conduzindo-as no ‘caminho da paz’… Temos que ser amigos do Noivo, ganhando almas, não para nós mesmos, mas para Ele, preparando as bodas para o Senhor, grandemente satisfeitos quando promovemos o encontro da noiva com o Noivo… Ouçam estas palavras de Charles Kingsley, escritas no seu diário particular, lavradas no alvor do dia em que havia de ser ordenado ao ministério do Senhor:

‘Durante algumas horas, toda a minha alma estará aguardando em silencio os selos da admissão ao serviço de Deus, honra de que a muito custo ouso considerar-me digno.. Há meses, dia e noite, minha oração tem sido – Oh Deus, se não sou digno, se o meu pecado em levar almas para longe de Ti ainda está sem perdão, se o meu desejo de ser ministro não é exclusivamente com o propósito de servir-Te, se é mister me seja mostrada a minha fraqueza e a santidade do Teu oficio com maior força ainda, oh Deus, rejeita-me!’

  1. John Newton (ex-mercador de escravos), citado por GF Paranaguá, diz: ‘ninguém, a não ser aquele que fez o mundo, pode fazer um ministro do evangelho’. Richard Glover assevera que ‘ninguém se torna ministro cristão se não foi ordenado pela imposição de mãos invisíveis’ (citado por GF Paranaguá).
  2. Paranaguá, no seu livro: Pegadas de Lobo na Porteira: Picareta, Psicopata ou Pastor? Declara: ‘O homem de Deus, talhado para essa função, foi tratado por Cristo na cruz convocado pelo Pai celestial para uma missão divina na terra e capacitado pelo Espírito Santo para a nobre pasta, que tem como principal objetivo apascentar o rebanho do Senhor.
  3.  Ele não é um mero homem que dependa de acordos e conchavos ajustados, nos comandos das lideranças clericais, nem um simples contratado pelos sistemas políticos das religiões vigentes nesse mundo dos arranjos’. Todo aquele que foi convocado por Deus, para o ministério de pastorear o Seu rebanho, sabe muito bem que essa missão não é bem vista pelo mundo, muito menos pelos sistemas que não focalizam a singularidade de Cristo. (Desde o inicio do cristianismo, os pastores do rebanho do Senhor foram pastados pelas feras nas arenas).’
  4. Dr. Shedd, citando uma pesquisa do Fuller, relata as conclusões do trabalho daquela escola: “Os líderes eficientes ‘mantém uma postura de aluno durante a vida inteira. Nunca param de estudar; lêem livros que aumentam o seu conhecimento e ampliam seus horizontes. Assistem cursos para crescer e melhorar suas aptidões ministeriais…Eles têm uma perspectiva vitalícia de ministério. Pretendem continuar a ministrar enquanto puderem. Amam o que fazem e nunca escolheriam parar de ministrar. Encaram o ministério como um privilégio”…
  5. “Foi dito que John Wesley pregou cerca de 40.000 vezes. Ele andou a cavalo por volta de 400.000 quilômetros. Não é de nos surpreender que ele foi sozinho o homem que mais influenciou a Inglaterra em sua geração. Ele tinha persistência. Trabalhou incansavelmente para conquistar homens e mulheres para Cristo. Inspirou seguidores que tornariam o metodismo uma força poderosa para Deus que permanece até hoje. Deus o usou de forma poderosa porque ele não desistiu”.
  6. IDENTIDADE PASTORAL.

O imperativo de nossa chamada nos leva a um compromisso com o Senhor em nossa identidade pastoral. Nós estamos vivendo uma crise de identidade pastoral. Há muitos elementos perdidos no ministério. Estão sem norte, sem direção. Culbertson e Shippee, citados por Richard Mayhue, declaram:

A teologia pastoral é, em sua maior parte, um campo sem definições claras: seu significado exato e seus componentes parecem variar amplamente de uma denominação para outra e de um seminário para outro. O ‘como’ do cuidado pastoral e os elementos que compõem o processo de formação do caráter do clérigo parecem igualmente nebulosos. Em todos os três campos, contudo, o material que os constitui parece ser ensinado a partir de uma base estritamente bíblica; ou de uma base moderna, constituída por teorias modernas da psicologia e da sociologia conforme têm sido apropriadas pela igreja; ou de uma combinação de Escritura e conceitos científicos modernos – mas raramente o ensino da formação pastoral faz referência direta à história  e à tradição

fascinantes da Igreja Primitiva”.

11.2. Thomas Oden faz uma análise do dilema na década de 1980. Ele lamenta que todo o século XX evidencie uma confusão em torno do papel da igreja e do pastor. Oden conclama veementemente a um retorno às Escrituras, a fim de que se compreenda o oficio e o papel do pastor:

“As Escrituras fornecem a base principal para a compreensão do oficio pastoral e suas funções. Tratemos as Escrituras como o livro da igreja, não como a arena exclusiva do historiador ou do teólogo social. A sabedoria pastoral vem sobrevivendo dos textos-chaves clássicos, que têm desfruta de uma rica história de interpretação muito antes do advento da pesquisa histórica moderna. Somos livres para usar essas pesquisas e aprender com elas, sem sermos podados por algumas de suas pressuposições reducionistas. A teologia pastoral sobrevive das Escrituras. Quando a tradição pastoral citava as Escrituras, elas eram vistas como um texto autorizado para moldar tanto a compreensão como a pratica ministerial. Não submetemos as Escrituras ao nosso exame, de acordo com critérios alheios a elas, a fim de compreendermos o ministério. Antes, as Escrituras examinam nossas concepções básicas do ministério. Elas as colocam em prova”.

  1. Gostaria de considerar com vocês, em penúltimo lugar, o que Richard Mayhue revela como preocupação.

Um segmento significativo de igrejas e literaturas evangélicas parece estar distanciando-se das prioridades bíblicas. Desequilíbrios não-bíblicos entre os evangélicos contemporâneos manifestam-se no aumento das tendências para:

13.1. Supervalorização do raciocínio humano e uma correspondente subestimação da revelação de Deus nas Escrituras.

13.2. Supervalorização das necessidades humanas definidas pelo homem – e uma correspondente subestimação dessas necessidades definidas por Deus.

13.3. Supervalorização da vida terrena e uma correspondente subestimação da relevância espiritual.

13.4. Supervalorização do aspecto temporal da vida e uma correspondente subestimação do aspecto eterno.

13.5. Supervalorização da cultura contemporânea e uma correspondente subestimação da Bíblia.

14. Concluindo,

14.1. J. Oswald Sanders, citado por Erwin Lutzer (De Pastor para Pastor, editora Vida), estava certo ao dizer: “A natureza sobrenatural da igreja exige uma liderança que se erga acima do que é humano… A maior necessidade da igreja, para que ela cumpra suas obrigações para com a presente geração, é uma liderança espiritual, sacrificial, plena de autoridade vinda do alto”.

  1. Um escritor anônimo (citado por Richard Mayhue) discorre sobre a mordomia pastoral:

“Apegue-se ao trabalho. Não recue porque o leão ruge; não pare de jogar pedras nos cachorros do diabo; não perca tempo caçando coelhos deste.

Faça seu trabalho. Deixe os mentiroso e suas mentiras, deixe os sectários discutirem, deixe os críticos maldizerem, deixe os inimigos acusarem, deixe o diabo fazer o pior; mas cuide para que nada o impeça de cumprir com alegria o trabalho que Deus lhe incumbiu.

Ele não o mandou para ser admirado ou estimado, e nunca ordenou que defendesse seu caráter. Ele não o posicionou para contradizer as falsidades (acerca de você mesmo) que os servos de Satanás ou de Deus talvez comecem a espalhar, nem para investigar cada rumor que ameace sua reputação. Se você agir assim, não obterá resultados satisfatórios; estará trabalhando para si mesmo, não para o Senhor.

Mantenha-se no trabalho do Mestre. Que seu alvo seja fixo como uma estrela. Você pode ser assaltado, injuriado, insultado, caluniado, ferido e rejeitado, incompreendido ou acusado por motivações impuras; bem como afrontado pelos inimigos, traído pelos amigos, desprezado e rejeitado pelos homens. Mas tenha determinação e zelo inabalável, a fim de perseguir o grande propósito e objetivo de sua existência, até que finalmente possa dizer: Completei o trabalho que me deste.

  • Paulo testemunhou a Timóteo, jovem pastor, as suas certezas e expectativas: “Combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé. Desde agora a coroa da justiça me está reservada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos os que amarem a Sua vinda” (2Tm 4.7,8). Ele mesmo diz aos romanos: “Tenho para mim ou considero que os sofrimentos do presente não se podem comparar com a glória que será revelada em nós” (Rm 8.18). Dr. Dehaan dizia: “Aceitar e seguir a Cristo lhe custará alguma coisa, mas servir a Jesus lhe custará tudo”.

Pr. Oswaldo Luiz Gomes Jacob
www.oswaldojacob.com  

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