Missões: Organismo acima da organização

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Como podemos diagnosticar a nos­sa caminhada missionária na Conven­ção Batista Brasileira? Estamos no ca­minho da ênfase na organização ou no foco do organismo? É a organização que dirige o organismo ou este a orga­nização? São indagações pertinentes que nos levam a reflexões inquietantes e revolucionárias. É muito importan­te trabalharmos com planejamento e uma visão de organização utilizando metas, estratégias, gestão, liderança direcionada e finanças. Precisamos de seriedade no trato das coisas de Deus. Agir com criatividade é imperati­vo. Utilizar as informações e marketing são igualmente relevantes, mas em si mesmos não têm valor.

A organização demanda recursos humanos, treinamento do pessoal na visão, no planejamento, na execução e avaliação. Todos os meios humanos éticos são relevantes, mas não subs­tituem a ajuda do Alto, a direção e o poder de Deus. A nossa dependência dEle. É verdade que podemos utilizar técnicas humanas, organizacionais visando auferirmos recursos para a instituição missionária. A nossa ten­dência é confiarmos na capacidade humana. Que podemos usar meca­nismos eficientes da psicologia para convencermos o povo a contribuir para a obra de missões. Podemos cair no erro de gastarmos mais tempo com o treinamento do pessoal do que com a oração. Investirmos mais tempo na gestão humana do que na direção do Espírito Santo. Podemos apelar para a emoção humana visando o levanta­ mento de recursos, bem como o despertamento de vocações. É perigoso apelar para o “personalismo da lide­ rança missionária” ou “o carisma do líder missionário” em detrimento de um trabalho de uma equipe submissa ao Espírito Santo.

Não há personalismo na obra mis­sionária, mas a ação do Espírito na vida dos missionários da retaguarda (os que sustentam e os que estão no es­critório da missão) e na vida dos obrei­ros que estão no front, na frente de batalha. Fico preocupado com alguns pontos de ativismo dentro das nossas organizações missionárias. Causa-me inquietação a visão meramente prag­mática. Nesta perspectiva, a cobrança por resultados se torna muito ruim para a obra de expansão do Reino de Deus. Temos dois pontos preocupantes: os que fazem muito visando apresentar um relatório quantitativo e os que nada fazem e não têm nada para apresentar. Precisamos de equilibro. É verdade que podemos tratar o missionário como uma coisa, um objeto de propaganda para a própria “obra”. Podemos tratá-lo como uma máquina que produz resul­tados “inspiradores”.

Por outro lado, missões como or­ganismo considera o missionário ou a missionária uma pessoa com limita­ções, com necessidades, que tem o seu grande valor e que precisa ser assistida, acompanhada em todo o tempo. Nesta perspectiva, a missão tem sentido de corpo onde há dependência de Deus e interdependência nos relacionamentos. Trabalha-se duro para uma comunhão exuberante entre os da retaguarda e os do front. Há uma consciência de se levar as cargas uns dos outros (Gálatas 6.2). Os líderes missionários se im­portam com a qualidade de vida dos obreiros que estão no campo. Há um sentido muito forte de pessoalidade.

A comunhão entre todos os obreiros está fundamentada no ensino de Jesus, especialmente em Sua oração sacerdo­tal (João 17). A transparência é uma marca distintiva entre os obreiros da missão. Há uma ênfase na integridade, numa convivência ética nos relaciona­ mentos dos membros da instituição. Os missionários são tratados com amor, sensibilidade e transparência.

Missões Nacionais e Missões Mun­diais são organismos que investem em oração, convivência e compartilhamen­to dos resultados. Os testemunhos são marcados pela seriedade com as coi­sas de Deus. Os missionários e o staff são gratos a Deus pela vida dos inves­tidores e oram por eles todos os dias. Os missionários são estimulados a uma vida de intimidade diária com o Senhor focando a intercessão pelos perdidos dentro e fora do Brasil. Promovem uma relação muito deleitosa edificante entre a missão e a Igreja local. A obra missio­nária da Convenção Batista Brasileira deve contemplar o organismo acima da organização. O espiritual acima do humano. Uma obra de fé acima da ra­ zão (Hebreus 11.6). O Senhor acima do homem para que Ele em tudo seja glorificado (1 Coríntios 10.31).

Pr. Oswaldo Luiz Gomes Jacob
Colunista deste Portal 

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