Porque, se essas qualidades existirem e estiverem crescendo em sua vida, elas impedirão que vocês, no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, sejam inoperantes e improdutivos. (2 Pe 1.8).
Todo ser vivo saudável cresce. O crescimento é etapa fundamental do ciclo da vida. A estagnação é perigosa e representa um sinal de morte. Assim é em nossa vida espiritual. Se um cristão não cresce, provavelmente ainda não nasceu de novo. É sobre isso que Pedro nos ensina no primeiro capítulo de sua epístola: Nossa segurança em Cristo será sentida e experimentada à medida que crescemos espiritualmente. E nesta carta de despedida, o apóstolo traz duas preciosas verdades.
Em primeiro lugar, o nosso crescimento comprova quem somos. Por causa da misericórdia de Deus e mediante a fé em Cristo Jesus nós já somos filhos de Deus e salvos por sua graça (Jo 1.12; Ef 2.8). Esta é nossa posição em Cristo e, por ela, nós já recebemos tudo o precisamos para viver a plenitude espiritual (2 Pe 1.3-4). Devemos perceber que tanto o que precisamos “para a vida e para a piedade” (v. 3), quanto “suas grandiosas e preciosas promessas” já nos foram dadas como um presente (gr. dōreomai). Como fruto desta posição, inevitavelmente passamos a viver um processo. Uma vez santificados, estamos em santificação.
O chamado de Pedro aqui é duplo: “empenhem-se para acrescentar” (2 Pe 1.5) e “empenhem-se para consolidar” (2 Pe 1.10). O que deve ser acrescentado (ou associado) à nossa fé todos os dias? A virtude, o conhecimento, o domínio próprio, a perseverança, a piedade, a fraternidade e o amor. Esta lista muito se assemelha ao fruto do Espírito (Gl 5.22-23). Deus primeiro produz em nós a santidade que vivemos depois.
Para quê? Para que nós mesmos saibamos exatamente quem somos: chamados (2 Pe 1.3) e eleitos (1 Pe 1.1) de Deus! Aqui temos uma maravilhosa tensão e um incrível conforto! Deus nos convoca a consolidar a posição que ele mesmo nos garante através da vida no processo de santificação através do qual ele mesmo nos conduz (cf. Fp 2.12-13). Por isso, com Agostinho podemos orar: “Concede-me o que me ordenas e ordena-me o que quiseres.” (Conf. 10.29.40).
Em segundo lugar, o nosso crescimento comprova quem Deus é. Deus nos faz quem somos para que nós conheçamos quem ele é. E à medida que crescemos, conhecemos mais a ele (2 Co 3.18) e o fazemos conhecido aos que estão ao redor (1 Pe 2.4,9). Assim foi com o próprio apóstolo que, mesmo ao final da jornada, se esforça para lembrar seus leitores de tudo quanto ele os ensinou (2 Pe 1.12-15).
Nosso crescimento também nos faz conhecer e experimentar do conhecimento verdadeiro acerca de Jesus Cristo (2 Pe 1.16). Isso acontece como fruto da maravilhosa graça de Deus que decide se manifestar a pecadores como nós (cf. Mc 9.2-8). Deus se revela a nós e podemos experimentar isso. E toda verdadeira experiência de Deus está de acordo com o conteúdo da Palavra. Não há crescimento real fora do conhecimento da Palavra de Deus, pois toda experiência real com Deus é uma confirmação da verdade da Palavra de Deus (2 Pe 1.19). É pela Palavra inspirada (2 Pe 1.20-21) que conhecemos nossa posição em Cristo e como trilhar o processo de santificação segundo Cristo.
Por esta razão, não deixemos de, através da Palavra, da oração, da comunhão e da santificação, crescer na piedade e no conhecimento de Deus. E que assim, vivamos seguros por conhecer a firmeza de nossa salvação e a grandeza daquele que nos salvou.
Pr. Lucas Rangel de C. Soares