Condecoração ou Galardão?

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A ideia de “galardão” na teologia, ou a recompensa que Deus concede aos Seus servos, é um tema que diverge significativamente entre os humanistas e a teologia bíblica. Ambas abordam o conceito da recompensa, entretanto suas premissas e suas implicações teológicas são profundamente distintas. Uma é condecoração a a outra é galardão.

A teologia humanista, frequentemente coloca o homem no centro da narrativa teológica, entendendo o “galardão” como uma consequência das boas ações realizadas pelo mérito humano. Nesse pensamento, Deus é visto como um ser justo que vai recompensar, condecorando proporcionalmente os esforços individuais. Essa perspectiva enfatiza muito a liberdade humana, sempre colocando a ênfase na capacidade de cada pessoa em cumprir as boas obras e alcançar as recompensas espirituais.

Nessa teologia humanista, “galardão” frequentemente é associado a um sistema de justiça meritocrática. O ser humano é o agente primário de sua própria salvação e seu crescimento espiritual, buscando agradar a Deus por meio de atos externos e moralidade.

Isso pode gerar a percepção de que as recompensas divinas são conquistadas, e não recebidas pela graça. Essa visão, no entanto, frequentemente esbarra num risco moral: a exaltação dos esforços humanos pode obscurecer a necessidade de dependência de Deus, reduzindo a salvação e as bênçãos espirituais a um sistema transacional.

Além disso, a teologia humanista, ao focar no mérito humano, pode negligenciar a profundidade do pecado e a incapacidade do homem natural de alcançar o padrão divino sem a obra regeneradora de Deus. O “galardão”, nesse contexto, é visto como a realização pessoal que merece condecoração, e, não, como o reflexo da graça soberana de Deus.

Por outro lado, a teologia bíblica enraíza o conceito de galardão na soberania de Deus e na centralidade da graça. Baseada em textos como Romanos 11.36a: Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. Essa posição entende o galardão como um dom gracioso concedido por Deus àqueles fieis que foram justificados pela fé em Cristo. O mérito humano é completamente descartado, uma vez que o ser humano, em seu estado natural, é incapaz de realizar qualquer bem que seja agradável a Deus (Efésios 2.8-9).

Para esse ponto de vista, o galardão não é uma retribuição baseada em obras humanas, mas uma manifestação da graça de Deus. As boas obras realizadas pelos crentes são frutos da obra regeneradora do Espírito Santo e, portanto, não têm mérito próprio. Mesmo os galardões prometidos, como coroa da vida ou tesouros no céu, são recebidos por causa da obra graciosa de Cristo e não pelos esforços individuais.

Essa visão elimina qualquer possibilidade de orgulho espiritual, pois tudo que o crente recebe — justificação, santificação e recompensas eternas — é fruto da graça de Deus, e não do mérito humano. Assim, o galardão é visto como uma celebração da obra de Cristo na vida do crente, refletindo Sua bondade e fidelidade.

O contraste entre a teologia humanista e a bíblica, no conceito de galardão, é evidente: enquanto a primeira exalta o mérito humano e a sua capacidade de realizar boas obras, a segunda exalta a graça soberana de Deus e a total dependência do crente nEle. A teologia humanista busca recompensas baseadas no desempenho humano, mas a teologia bíblica reconhece que todo galardão é um dom imerecido, dado pelo Deus de toda graça  para glorificar a Si mesmo na vida de Seus filhos.

Agostinho de Hipona foi preciso: “Deus nos dá a Sua graça para que O possamos servir, e, no fim, Ele coroa não os nossos méritos, mas os Seus próprios dons.”

Pr. Glenio Fonseca

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