Mãe de “bebê reborn”: Mulher procura advogada para disputar guarda na justiça, divisão de custos para a manutenção do “bebê”, administração do perfil nas redes sociais.
Deputados protocolam PLS para proibir atendimento de “bebê reborn” no SUS.
Em Salvador vereadora propõe projetos sobre “bebês reborn” para proibir atendimento na rede pública da cidade.
Há algumas semanas alguém me falou sobre o assunto e confesso que não dei muita importância, pois seria algo como alguém colecionando alguma coisa e que logo o assunto seria substituído por outro. Mas diante de inúmeras situações, percebi que o assunto está ficando preocupante. Há alguns dias até fizemos um estudo de caso em um curso de Bioética que estava ministrando.
Hoje é convencionado que cada pessoa decide sua própria vida. Mas quando uma decisão se viraliza e começa a demonstrar o vazamento da esfera individual e vai para a vida pública exigindo direitos que naturalmente são para “humanos”, e que ainda demonstra algum traço preocupante de que algo não está bem no interior das pessoas, torna-se necessário colocar o tema na mesa de diálogo.
Tendo em vista o lado do ganho comercial, posso até arriscar que, com a Inteligência Artificial e progresso tecnológico, logo serão construídos “bebês reborn” personalizados e que até vão “conversar” com seu “pais” e “mães”, deglutirão leite da mamadeira para que fraldas sejam mesmo trocadas.
A expressão pode ter surgido com a prática de “reborning”, que foi a arte de transformar bonecas em réplicas realistas de bebês que se se popularizou a partir dos anos 1990, em que palavra inglesa “reborn” (“renascido”) acabou sendo adotada para indicar esses bonecos, que serviam a colecionadores.
Do ponto de vista psicológico já é possível ouvir que isso é fruto de alguma disfunção no instinto parental, manejo da perda de luto na tentativa de repor algum filho falecido, ajuste no sentido de solidão extrema, fuga da realidade, vazio existencial etc.
Nesse momento é possível imaginar que esse fenômeno pode demonstrar mais um sintoma de que estamos longe do senso equilibrado de alteridade (“alter” do latim “o outro”) em que o outro será um outro-ser, pessoa, ser humano como sujeito histórico, com uma biografia e vida se construindo ao longo da linha do tempo.
O filósofo judeu Martin Buber escreveu sobre EU-TU e EU-ISTO. “Eu-tu” retrata a relação entre pessoas reais, sujeitos com vida e história real. Aqui entra, por exemplo, o amor e respeito entre humanos. Enquanto que a polaridade “eu-isto” é o relacionamento humano com coisas, objetos.
Vemos um colapso mental transformado em indústria, retrato grave da falência emocional, espiritual de quem demonstra estar órfão de sentido e razão de vida, negação da realidade, disfarçando ternura humana a bonecos de silicone, sem vida e história real. Uma espécie de personificação de coisas e coisificação de pessoas.
Neste Século XXI temos a defesa do aborto como um dos temas prioritários, mas se chora por um boneco sem vida fruto de uma maternidade sem dor por um útero estéril da Pós-modernidade e crianças reais continuam sendo abandonadas, violentadas e esquecidas.
Será que já estamos ingressando em uma epidemia de perda de sentido da vida que se seduz em um afago falso e sem risco de rejeição?
Pr. Lourenço Stelio Rega – Eticista e Especialista em Bioética pelo Albert Einstein Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa (Hospital Albert Einstein) – Extraído da Revista Comunhão.