A Vida Eterna

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Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti, assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. (João 17.1-3).

Esse texto faz parte da oração sacerdotal feita por Jesus instantes antes do fim de seu ministério terreno, que terminaria na Cruz. Essa é a mais longa, profunda e poderosa oração de Jesus registrada na Bíblia.

Hoje vamos nos ater apenas à parte final do versículo 2 e versículo 3 que diz: a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.

Jesus afirma que a vida eterna é concedida a todos os que são dados pelo Pai ao Filho e que, obviamente, irão ao Filho! Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora (João 6.37), e a vida desses consiste em conhecer, buscar e ter intimidade com o Pai e com o Filho.

O aparecimento da vida eterna deu-se em Gênesis. O homem foi criado para viver eternamente com Deus. Para isso, foi necessário que Deus revelasse a Adão e a Eva  quem eles eram e quais eram os propósitos de suas vidas.

Deus sabia que, apesar de serem seres humanos, criados perfeitos e vivendo um relacionamento perfeito com Ele, sozinhos e sem a ajuda do Criador, não poderiam compreender a vida eterna. Por isso, foram feitos com um propósito, mas na dependência do Senhor.

Conforme extraímos do livro Instrumentos nas Mãos do Redentor (Paul Tripp), antes do pecado, Adão e Eva eram receptores das revelações de Deus, e a eles foram dadas, por Deus, as habilidades de comunicação que nenhuma criatura recebeu. (Gn 3.8). Foram criados com a capacidade de conversar com Deus; ouvir, entender e aplicar as palavras de Deus em suas vidas. Essas mesmas habilidades viriam a ser transmitidas a toda a humanidade.

Contudo, Adão não cumpriu as ordens do Criador e, na desobediência, por sua própria conta, de forma completamente independente de Deus, escolheu e comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal, que não deveria comer, e a história é a que todos já conhecem.

Dessa forma, o pecado entrou no mundo e com o pecado a morte e,  assim, a natureza pecadora foi transmitida a todos os seres humanos, pois todos pecaram e, como diz o texto: Portanto, assim como por um só homem (Adão) entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram (Romanos 5.12).

O pecado foi uma tragédia e fez que o homem perdesse o rumo e o privilégio da intimidade de viver com Deus. O pecado tornou- se um problema sério e grave que separa o homem de Deus e coloca-se entre eles impedindo a existência de um relacionamento. Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça (Isaías 59.2).

Somos à imagem e semelhança do Criador, porém, após o pecado, perdemos a capacidade de conversar com Deus e de aplicar a Palavra em nossas vidas a exemplo de Adão. Mas, mesmo com a natureza adâmica, continuamos com a habilidade de pensar e interpretar. Ainda que pecadores, estamos sempre pensando, interpretando, organizando e explicando o que acontece dentro de nós e à nossa volta.

Todavia, precisamos fazer uma ressalva aqui entre o não regenerado e o regenerado. A verdade é que somente podemos refletir e interpretar a nossa existência da maneira correta e precisa, se pela fé formos regenerados e, assim, conhecermos e estivermos dentro da cosmovisão de Deus e do Seu Filho Jesus. Assim diz as Escrituras: Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração (Jeremias 29.13).

Caso contrário, aquele que não é nascido de novo interpreta sua vida, pensa e age de maneira desconectada do Criador, ou seja, olhando para o seu próprio umbigo, deixando, fatalmente, o seu foco na vida eterna para o segundo plano.

Infelizmente, aquele que não crê é escravo e sofre em suas concupiscências, porque lhe falta o conhecimento de Deus, falta-lhe intimidade com Deus. Como diz a Palavra: O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento (Oseias 4.6a).

Por isso, viver sem comunhão e longe da presença de Deus, além de atestar a perdição eterna, também atribui ao ser humano uma existência subumana, que o leva a viver como um animal, em depravação total. O pecado tornou o homem diferente do que ele realmente deveria ser aos olhos de Deus. Nega sua identidade, e a sua origem é corrompida; reflete em sua própria vida e aniquila suas esperanças; cede às tentações e vive de forma medíocre. No Antigo Testamento, o Senhor deu um diagnóstico preciso: Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas (Jeremias 2.13).

Em resumo, como escreveu A. W. Tozer em seu livro Vida Crucificada: “Posso depurar tudo em uma frase: Não permitimos que Deus seja Ele mesmo. Perdemos todo senso de conhecer Deus como Ele é e, por conseguinte, tentamos produzir um Deus com o que Ele não é.” Para que haja uma mudança radical mediante o arrependimento genuíno, é inevitável que o pecador reconheça a sua natureza de necessitado da graça e, em posição de humilde criatura, clame pelas misericórdias de Deus em sua vida.

O homem é indesculpável,  pois tem grande potencial para conhecer a Deus e ter a vida eterna, o que nenhuma outra criatura tem, mas ainda assim não O busca. Por quê? 1º) Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Jeremias 17.9. 2º) como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; Romanos 3.10-11. Somente a obra de Cristo por meio da revelação pode despertar em nós o desejo de conhecer a Deus. 3º) ignorando que os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências (Gálatas 5.24). O homem não glorificou a Deus e se perdeu em seus raciocínios. Esses são alguns dos motivos que afastam o homem do Criador e o entregam às suas próprias paixões.

Ter a vida eterna sem o conhecimento de Deus e de Cristo nos deixa vulneráveis mesmo sendo novas criaturas. Podemos enumerar aqui alguns obstáculos que atrapalham a nossa comunhão e, consequentemente, o viver uma vida santa: o dinheiro, a ganância, a justiça própria, idolatria; falta de leitura bíblica e de oração, e especialmente a falta da proclamação do Evangelho.

Para que a sua vida mude agora, mesmo que você seja um salvo, regenerado pela graça de Deus, ou seja, tenha convicção de que é um nascido de novo, mas não tem uma vida santa, saiba que somente por meio da leitura da Palavra é que conhecemos a Deus e o Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Saiba e considere que Ele lhe deu vida no espírito para que esse espírito vivificado O adore e tenha comunhão íntima com Ele. (Efésios 2.1-10).

Crer e conhecer o Pai e o Filho, no contexto de João 17.3, não tem um significado superficial, mas provém de um ato contínuo oriundo da vida eterna, significa que, após crer na sua atração na morte e na ressurreição juntamente com Cristo, nós nos amoldamos a Ele com a mesma ênfase do capítulo 3 de Colossenses,  quando Paulo escreve para as novas criaturas que, se creem em sua ressurreição com Cristo,  devem viver conformados com Cristo, buscando as coisas lá do alto, onde Ele vive; pensando nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque o novo nascimento os leva a terem a vida oculta juntamente com Cristo, em Deus. E,  quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, nós também nos manifestaremos com Ele, em glória. (Colossenses 3.1-17)

Em sua carta aos Filipenses, Paulo reforça sobre a vida de Cristo e a importância de conhecê-Lo verdadeiramente, para não incorrer em sermos enganados por falsos mestres, assim nos ensinando: para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos (Filipenses 3.10-11).

A nossa oração é que, enquanto vivemos aqui, fiquemos atentos para que conheçamos e prossigamos em conhecer o Nosso Senhor! E de que forma? levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal (2 Coríntios 4.10-11).

Não importa em que ponto da caminhada você esteja. Aquele que ainda não tem a vida eterna, Deus o busca para a salvação, e o que já tem a vida eterna, Deus busca para a santificação, por meio do conhecimento.

Que o amor do Pai, a graça do Filho e a comunhão do Espírito Santo estejam sobre todos! Amém!

Por Mario Rocha

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