É por demais interessante o que o Dr. David Augsburger afirma: “Num mundo onde a comunicação é defeituosa, a comunidade é possível ao compreendermos os outros! Num mundo de alienações dolorosas, a comunidade é criada ao aceitarmos os outros! Num mundo de confianças traídas, a comunidade é mantida se houver perdão!” Ele disse: “Eu te vejo como transgressor! Sinto-me ferido, inocente, explorado, abusado! Estou te apontando o dedo da culpa. Qualquer movimento em direção ao perdão começa em reconhecer que estamos juntos nesta dor”.
Consideremos, na companhia de Jesus, a necessidade de aprendermos com Ele, a perdoar os que nos ofendem; abençoar os que nos amaldiçoam e a bendizer os que nos maldizem. Estas atitudes são dos regenerados, nascidos de novo, que morreram com Cristo naquela cruz e ressuscitaram com Ele em novidade de vida, para viver a vida Dele neste mundo (Rm 6.1-11; Gl 2.20). Jesus perdoou os Seus algozes; o mesmo fez Estevão. À luz do texto de Jesus, precisamos abordar os princípios que nos ajudarão a viver uma vida cristã autêntica, cheia de graça. Vida de perdoados para perdoar.
É neste contexto que podemos aprender com a Lei e a Graça. A Lei revela a enfermidade e a graça, a cura (vv.21,22). “O Senhor Jesus estabeleceu uma regra geral, de que devemos perdoar às outras pessoas ao máximo. Ele não fala de apoio à impunidade. Devemos manter uma atitude geral de misericórdia, disposta a perdoar aos nossos irmãos e semelhantes. Era uma excelente qualidade do arcebispo Cranmer que, se alguém chegasse a ofendê-lo, certamente acabaria tornando-se amigo dele” (Rm 12.20).
Paulo nos ensina a ser bondosos, cheios de compaixão uns para com os outros, perdoando uns aos outros, assim como Deus, em Cristo, nos perdoou (Ef 4.30-32). Alguém disse que “quem odeia é escravo do ódio. Quem ama é escravo do amor”. Um pastor experiente declara: “Porque Deus ama o pecador, Ele providenciou a sua plena salvação do pecado, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. O pecado afasta o homem de Deus, mas, por outro lado, o próprio Deus é quem afasta o homem do pecado, pela graça em Cristo, perdoando-o por completo e purificando-o de toda a injustiça. Não há cárcere no evangelho” (Paranaguá). Aqui entendemos perfeitamente a doutrina da graça (vv.23-27).Conhecendo o contexto (vv.23,24): “Os servos da parábola eram oficiais de alta posição a serviço do imperador, alguns dos quais muitas vezes tinham ocasião de tomar emprestadas grandes somas do tesouro imperial. Nesta história, a quantia do primeiro débito é deliberadamente dada com exagero para tornar mais vivido o contraste com o segundo débito”.
Há uma a incapacidade total para o pagamento da divida (v.25). Nós, definitivamente, não temos condições de pagarmos a divida do nosso pecado. Não há, não houve e nunca haverá condições em nós de saldarmos a nossa divida para com o nosso Deus. A nossa vida é incapaz, insuficiente para saldar tal débito. No v.26, vemos o otimismo do devedor. No fundo achamos que podemos pagar uma divida impagável. Como ressalta o Dr. Tasker, “como já foi assinalado muitas vezes, os devedores são otimistas. Se tão somente se lhes der tempo suficiente, estão convencidos de que acharão meios de fazer o reembolso”. Diz o texto que ele caiu em terra e adorou. Com maior precisão uma tradução diz: “caiu sobre seus joelhos, implorando-lhe”. A dívida era astronômica e exigiu dele um esforço imenso para constranger o credor.
Stanley Jones disse que “a virtude central do cristianismo é o poder do perdão”. Alexander Pope afirma: “Errar é humano, mas perdoar é divino”. “A dor da alma seca o amor”. A alma do perdão é esquecer a ofensa.“O Evangelho de Cristo é a mensagem da alforria permanente aos escravos do pecado. Deste modo, os alforriados em Cristo são, por outro lado, agentes de emancipação constante neste mundo de prisioneiros de amarguras profundas. Só os perdoados por Cristo estão habilitados, de fato, a perdoar os seus ofensores” (Paranaguá).O salmista, no seu precioso texto, declara: “Senhor, se atentares para o pecado, quem resistirá? Mas o perdão está contigo, para que sejas temido” (Sl 130.3,4). O profeta Isaias disse: “volte-se para o nosso Deus, porque é RICO em perdoar (55.7c)”. A natureza humana é, via-de-regra, punitiva e vingativa (vv.28-30). Aquele devedor perdoado “aquecia-se ainda ao calor do sol da misericórdia real quando tratou de seu conservo com tanta falta de misericórdia!”. O levita e o sacerdote passaram de largo diante do judeu caído, seu compatriota, mas o samaritano foi movido pelo amor que perdoa, levanta, encoraja, cuida, alimenta aquele que o odiava.
Quantas vezes vemos o cisco no olho do outro e não vemos a trave no nosso. A parábola diz que aquele homem, perdoado de uma dívida astronômica, vê um devedor seu, que lhe devia uma quantia irrisória, cobrou de forma veemente e o homem não tinha o dinheiro. O que ele, como credor, fez? A resposta do homem foi a mesma que ele deu diante do Rei. Mas a resposta dele foi oposta a do rei (v.30). Sabemos que o ódio, a ingratidão e ganancia prendem os homens, os escraviza, os infelicita; mas o amor, a gratidão e a liberalidade libertam os homens, os felicita.
O não-perdão está ligado a natureza de Adão, enquanto o perdão está ligado à natureza de Cristo em nós. O não-perdão é produto de um coração religioso ou não-regenerado produzindo amargura, ressentimento, discórdia, desarmonia, confusão, violência, morte. Nos vv.32-34, “o rei agora revoga a sua decisão anterior. A ordem para que o devedor fosse vendido deu lugar à ordem para que ele fosse entregue aos verdugos que o torturassem até que ele viesse a pagar, como ele mesmo tinha metido o seu devedor na prisão até que saldasse a divida. Os devedores eram submetidos à tortura para leva-los a revelar as fontes inconfessas de renda. Neste caso, porém, a tortura foi unicamente penal, pois a vitima nunca teria meios para pagar” (Tasker).
Percebemos que houve testemunhas (v.31).Há uma chamada para o acerto de contas e a consequente condenação (vv.32-34).O padrão de Deus está definido (v.35). “Deve-se dar perdão, não com espírito queixoso, mas de coração” (Tasker). Entendemos perfeitamente o ensino de Jesus em Mateus 25.31-46: O amor não é platônico, mas pratico, pois deve ser expresso em atitudes e atos concretos sempre para a glória do Pai. O que aprendemos deste texto de Jesus? Fomos perdoados de uma ofensa que não tínhamos nenhuma condição de resgatar. A nossa divida Jesus pagou na cruz. Ele tomou o nosso lugar para que, nEle, perdoemos a todos que nos ofendem. “É impossível ser cristão e não perdoar”. O perdão está ligado à saúde enquanto o não-perdão está ligado à enfermidade, à doença (Paranaguá). “Sem o perdão, nós somos reféns das amarguras profundas. Uma pessoa amargurada vive uma subvida como experiência do substrato de seu ódio.
Dr. Martin Luther King, pastor pacifista negro norte-americano, detentor do prêmio Nobel da Paz em 1964 e assassinado pelo horror do racismo, disse certa feita: ‘o ódio é um fardo pesado demais para ser carregado’”. Que a nossa oração seja: Senhor, muito obrigado pelo perdão que tu conferiste a mim por meio de Jesus. Agora, perdoado, desejo, enquanto viver, perdoar a todos os que me ofenderem. Ajuda-me, por favor. Senhor, eu não posso, sou fraco, mas tu PODES para a Glória de Ti mesmo, em nome de Jesus, Aquele que a Si mesmo se deu por nós, nos reconciliando contigo afim de vivermos uma vida de reconciliados para reconciliar sempre.
Pr. Oswaldo Luiz Gomes Jacob
Colunista deste Portal