A ansiedade ensinada por Cristo

1940

Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida… Mateus 6.19-33

A ansiedade é um sentimento ruim que aflige milhões de pessoas ao redor do mundo, independentemente de sua posição social, sexo ou idade. Este mal universal, apesar de estar em especial evidência nos dias de hoje, é um problema tão antigo quanto à própria existência humana.

Nosso Senhor, sendo conhecedor de nossas necessidades, antecipou-se e ensinou-nos sobre essa questão logo no seu primeiro discurso público, no sermão do monte. No Evangelho de Mateus 6.25-33, encontramos o registro do ensino de Jesus sobre o problema da ansiedade em si; entretanto, é importante atentarmos também para o trecho imediatamente anterior nos versos 19 a 24, onde Ele aborda aquilo que seria a causa da ansiedade. Tão importante quanto tratar os sintomas de uma enfermidade é conhecermos as suas causas a fim de evitarmos a sua reincidência.

Como veremos nas palavras do Senhor, a ansiedade do homem provém do fato de confiarmos nas coisas criadas em detrimento do Criador. De forma resumida, o amor ao mundo e a falta de conhecimento de Deus como Pai é o que nos faz ansiosos.

Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. Mateus 6.19-21. Por “tesouros” devemos entender não apenas o dinheiro, mas tudo aquilo a que atribuímos grande valor. Para muitos pode ser a saúde, a família, a profissão, o ministério na igreja, o conhecimento, a aparência, a reputação, etc.

Todas essas coisas, apesar de serem prazerosas e legítimas, por serem terrenas, estão sujeitas à corrosão e ao roubo; de modo que não é sensato considerá-las como tesouros. A consequência de depositarmos o coração em coisas terrenas é uma vida de ansiedade, pois a única certeza que temos a respeito delas é que elas não duram para sempre.

São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão! Mateus 6.22-23. Ter os olhos bons significa enxergar o mundo sob o ponto de vista de Deus, o ponto de vista da Verdade.

Vivemos num mundo que jaz no maligno, que crucificou o Filho de Deus e está sendo entesourado para o fogo. Quando, pela regeneração, recebemos olhos espirituais para vermos o mundo sob essa ótica, então, gradativamente, vamos deixando de atentar para as coisas que se veem, passando a atentar para as que se não veem; conscientes de que as coisas que se veem são passageiras e as que se não veem, eternas. (2 Cor 4.18).

Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas. Mateus 6.24. O dinheiro em si não é mau nem bom; contudo, dada a relevância que este mundo atribui a ele, o dinheiro tem a capacidade de exercer senhorio sobre as pessoas que não enxergam a vida com os olhos bons do Espírito.

Todo aquele que, de alguma maneira, tem dificuldade na administração do dinheiro, está, na verdade, sendo governado por ele. Isso significa dizer que, em alguma escala, ele está servindo ao dinheiro como a um senhor; e isso, segundo Jesus, corresponde a desprezar a Deus. Infelizmente, essa é a realidade na vida de muitos crentes. O amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos (1 Tm 6.10), o que inclui a ansiedade.

São essas, portanto, as atitudes que levam o homem à ansiedade: (1) Valorizar as coisas terrenas em detrimento das celestiais. (2) Enxergar o mundo sob o nosso próprio ponto de vista e não sob o ponto de vista de Deus. (3) Amar ao dinheiro, servindo-o como a um senhor. Não há outra causa para a ansiedade fora dessas mencionadas; caso contrário o Senhor a teria dito. Portanto, se andamos ansiosos, é porque temos deslizado em pelo menos um desses pontos.

Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes? Mateus 6.25

A vida da alma, bem como do nosso corpo físico, são obras extremamente complexas, e nos foram dadas gratuitamente por Deus. Ora, se Ele nos deu coisas tão grandes, seria muito para Ele nos dar coisas pequenas como alimento e roupas?

Ao fazer essa comparação entre o grande e o pequeno, Jesus lança mão da lógica para nos fazer refletir espiritualmente sobre a tolice da ansiedade. O deus deste século, Satanás, cegou o entendimento dos incrédulos, de modo que não possam enxergar nada segundo a verdade; nós, porém, recebemos olhos para ver a Deus, não apenas como o dono de toda a Terra, mas também como Pai nosso.

Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? Mateus 6.26-27

Novamente recorrendo à comparação lógica, Jesus afirma que mesmo seres tão pequenos como as aves não estão em esquecimento diante de Deus, mas, pelo contrário, esse Deus, que não é o pai das aves, mas o nosso Pai, as sustenta.

A consciência da paternidade de Deus é ponto crucial para vivermos sem ansiedade. Jesus foi o homem mais atribulado que já viveu neste mundo. Nasceu, cresceu e morreu pobre; não tendo onde reclinar a cabeça. Foi odiado por poderosos e perseguido desde o Seu nascimento, até que, aos 33 anos, foi assassinado por mãos injustas. Nosso Senhor tinha todos os motivos para andar ansioso, mas Ele não o fez, por uma razão: Ele tinha consciência de que o Deus Todo-Poderoso era o Seu Pai.

E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé? Mateus 6.28-30

Depois de nos exortar, pela terceira vez, a enxergarmos a vida por meio da lógica espiritual, afirmando que o Deus que cuida de coisas pequenas como as flores também cuidadas maiores como nós; então, o Senhor resume o problema da nossa ansiedade: Somos homens de pequena fé!

Foi mediante a fé que um dia nós fomos feitos filhos de Deus (Gl 3.26); mas, em oposição a isso, a falta de fé, ou uma fé débil, é o que impede de nos enxergarmos plenamente como tais. A fé nos dá “olhos bons”, a falta dela, “olhos maus”. Foi por meio dessa fé no Pai que o nosso Senhor Jesus viveu sem ansiedade Sua difícil vida terrena.

Esse mesmo Jesus, pela sua obra, veio a se tornar o autor e consumador da nossa fé. Ele nos atraiu na Sua cruz levando nosso velho homem incrédulo a morrer juntamente com Ele. Ressuscitou ao terceiro dia para que nós também ressuscitássemos com Ele, em novidade de vida. Por meio do Filho, fomos feitos filhos de Deus, o Pai perfeito.

Para aqueles irmãos que eventualmente convivam com o problema da ansiedade, gostaria de sugerir que meditássemos no que a Palavra diz em Romanos 8.32: Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Mais uma vez, a Palavra nos exorta a raciocinarmos segundo a lógica. Se Deus nos ofereceu o que Ele tinha de mais valioso quando nós éramos Seus inimigos, não nos dará todas as coisas de que precisamos, sendo nós agora Seus filhos?

Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Mateus 6.33

A síntese do que vimos é que o problema da ansiedade no homem decorre do amor ao mundo e da falta de fé. Portanto, se queremos viver livres da ansiedade, não devemos amar o mundo nem as coisas que há no mundo (1 Jo 2.15); antes, com discernimento espiritual, devemos buscar, em primeiro lugar, o reino de Deus.

Quanto mais consciência tivermos de Deus como Pai, menos ansiosos seremos, simples assim; e essa consciência vem por meio da fé. Se, todavia, a falta de fé é um problema, lembremo-nos de que a fé vem pelo ouvir, e o ouvir da Palavra de Deus (Rm 10.17).

Nós os crentes, infelizmente ainda carregamos uma natureza terrena, que precisamos fazer morrer (Cl 3.5); mas – louvado seja Deus – nós agora também desfrutamos de uma natureza divina de filhos de Deus. Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Colossenses 3.1-2.

Por Marcio Mizubuti

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