“Ele lhes deu vida, quando vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais vocês andaram noutro tempo, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência” (Efésios 2:1,2).
Quando o apóstolo Paulo em sua carta aos Efésios, fala sobre os filhos da desobediência, ele apresenta a condição espiritual em que esses filhos estão. A primeira característica é que esses filhos da desobediência são levados pelas tendências deste sistema mundial e são controlados por Satanás (2.2). Uma segunda característica que identifica os filhos da desobediência, é que eles são dominados por sua natureza pecaminosa (2.3).
Paulo procura alertar os cristãos sobre o “espírito que agora atua nos filhos da desobediência”. Esse espírito anticristão exerce sua ação exatamente sobre os “filhos da desobediência”. Essa afirmação nos permite notar que nenhum ser humano pode assumir uma posição simplesmente neutra diante dos poderes ou das potestades: quem não está ligado a Jesus Cristo pela obediência da fé (cf. Rm 1:5; 16:26) permanece, como desobediente, escravo do pecado. A mesma correlação é assim descrita por Paulo em Rm 6:17: “Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues.”
Paulo exemplifica de forma muito clara, que uma vida sem Cristo é levada no âmbito dos “desejos de nossa carne”. Conforme Ef 4:22 isso é o “trato passado… segundo as concupiscências da paixão”, que agora já não condizem com o cristão e das quais lhe cabe despir-se. “Carne” nesse texto, é o ser humano em sua rebeldia contra Deus, o velho ser humano, o corpo do pecado (cf.
Rm 6:6; 7:18; Gl 5:16). Dessa existência brotam as “concupiscências” (cf. Rm 7:5) que se refletem no agir concreto. O “desejo” (as pulsões) e os “pensamentos” (obscurecidos: Ef 4:18) levam a uma conduta que pode ser vista na carne.
No passado, esse aprisionamento pelo pecado caracterizava todo o ser humano “por natureza” como “filhos da ira”. Com base no “ser humano natural” em 1 Co 2:14, “por natureza” deve ser entendido como conceito oposto ao “ser humano espiritual”: por si mesmo nenhum ser humano é capaz de romper os liames do pecado e praticar a vontade de Deus. Por essa razão todo ser humano é réu do juízo da ira divina. “Os demais” são aqueles que não têm esperança diante dessa situação (1 Ts 4:13; 5:6).
É diante deste sombrio pano de fundo da descrição de como o ser humano é refém da morte, que Paulo coloca o “porém” da misericórdia divina. A “riqueza de sua graça” (Ef 1:7) que Ele “fez derramar” sobre os cristãos salvos (Ef 1:8) é completada agora com a declaração de que Deus “é rico em misericórdia”. De conformidade com sua misericórdia “ele nos salvou” (Tt 3:5) e “nos fez renascer para uma viva esperança” (1 Pe 1:3).
Essa misericórdia concretizou-se em “seu grande amor, com o qual nos amou”. A magnitude desse amor que se evidencia em Jesus Cristo é enaltecida por Paulo em Rm 8:35–39 (cf. também Jo 3:16; 13:1): a entrega do único Filho amado é a fiança do amor supremo de Deus. Ele não se restringe a si mesmo, mas dirige-se aos seres humanos. Isso é exclamado na proclamação do evangelho e deve conduzir ao testemunho da fé: com esse grande amor ele amou a nós!
Como cristãos devemos sempre louvar a Deus, que por sua misericórdia divina, nos resgatou da condição de filhos da desobediência, para a condição de seus filhos amados. Louvado seja Deus!
Pr. Carlos Elias de Souza Santos