Existem pequenos gestos que passam despercebidos pelas multidões por parecerem desprezíveis, entretanto, alguns deles são carregados de um significado tão profundo capaz de atrair e mover o braço do Eterno. Os chamados “patriarcas” o utilizaram em momentos cruciais e não era por acaso, pois, sabiam o quanto era importante para estreitarem seu relacionamento com ele.
Noé foi comissionado por Deus a construir um grande navio porque a terra passaria por um dilúvio e essa embarcação era o único modo de salvar as pessoas e os animais (Gn 6.13-22). Aquele patriarca obedeceu, apesar de ainda não ter chovido sobre o planeta. Perseverou diante de escárnios e zombarias por parte de uma geração obstinada pelo pecado e pela depravação moral. Tudo aconteceu como o Senhor havia advertido e as comportas do céu se abriram, somente ele e sua família conseguiram escapar. Depois que as águas baixaram, a primeira ação daquele homem foi construir um altar para oferecer sacrifícios em adoração ao Todo-Poderoso (Gn 8.20). Com essa atitude ele estava não somente agradecendo pelo grande livramento, mas, por ter sido escolhido com a missão de reiniciar o povoamento da raça humana. Um gesto muito singelo se observado por alguém que nunca teve uma experiência com Deus. No entanto, Noé sabia que não era dotado de qualidades excepcionais, ou seja, reconhecia suas limitações como um mero mortal, mesmo assim, experimentava a inexplicável graça do Senhor (Gn 6.8). Atitude idêntica foi repetida por outros grandes personagens. Abraão construiu um altar abrindo mão do seu bem mais precioso, seu único filho, Isaque, mas, o Senhor providenciou um cordeiro como substituto. Essa atitude lhe assegurou o título de “o pai da fé”, pois creu que ele poderia até mesmo ressuscitar seu filho após ter sido sacrificado (Rm 4.16-18; Hb 11.19). O profeta Elias diante de um altar protagonizou uma das experiências mais incríveis envolvendo o relacionamento entre Israel e Yahweh. Em um momento de apostasia do povo onde estavam em dúvida sobre quem deveriam adorar, encorajados e influenciados por lideranças corruptas (Rei Acabe, sua esposa Jezabel e seus falsos profetas). Elias desafiou 450 profetas de Baal, um falso deus pagão; reconstruiu o altar que estava em ruínas e invocou o Deus de Israel que respondeu com fogo do céu consumindo o holocausto. Ele deixou seu trono e visitou seu povo para confirmar sua soberania. Quando o altar é construído a partir de um coração sincero, ele certamente virá (IRs 18).
Como os sacrifícios oferecidos sobre o altar apontava para Cristo, o Cordeiro de Deus que se entregou como oferta viva para purificação dos nossos pecados, o altar a partir de então ganha um novo sentido (IPe 1.18-20). Jesus deixa isto muito claro no diálogo com a mulher samaritana quando lhe responde onde seria o local exato para a adoração (construção do altar). Não seria mais em um local específico, seguindo um ritual religioso, mas, a partir de corações totalmente voltados para o Senhor, os quais ele chama de “os verdadeiros adoradores” (Jo 4.1-30).
Isto posto, concluímos que não precisamos construir altares à semelhança dos patriarcas, não obstante, aquele que almeja manter um relacionamento íntimo com o Senhor precisará manter a essência daquele ato. Jesus, durante o seu sermão no monte, nos ensina como devemos orar: “… entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.” (Mt 6.6). O Mestre não está aqui condicionando ou restringindo a oração, pois esse diálogo com o Senhor pode ser feito em qualquer lugar e a qualquer momento, no entanto, existem ocasiões em que precisamos nos refugiar, “construirmos um altar”. Jesus constantemente se isolava e ia orar no monte, creio que o segredo estava no “estar a sós com o Pai e não no lugar”, apesar de não ver nenhum problema em quem assim procede. Se quisermos prevalecer em meio as lutas e tribulações, não podemos abdicar dos nossos momentos a sós com Ele. Prepare o altar do seu coração e Ele virá.
Por Juvenal Oliveira Netto
Colunista deste Portal