A Palavra Encarnada

1816

E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. (João 1.14)

Qual é o significado da manjedoura? Seria apenas mais uma criança a nascer? Seria o início da jornada de um mártir revolucionário ou de um guru pacifista? Sabemos que o nascimento de Jesus em Belém possui significado tal que extrapola até mesmo nossa razão. Como pode aquele menino ser o Filho de Deus? Como compreender que um frágil bebê é o próprio Deus? A doutrina da encarnação nos apresenta como podemos apreender pela fé o fato revelado de que “o Verbo se fez carne”.

Não se pode medir a grandeza e a importância desta doutrina. Como disse Herman Bavinck [1], é na encarnação que o divino encontra o humano: Cristo, o Verbo encarnado, é, portanto, o fato central de toda a história do mundo. A encarnação tem seu pressuposto e seu fundamento no ser trinitário de Deus. A Trindade torna possível a existência de um mediador que participa tanto da natureza divina quanto da natureza humana e, assim, une Deus e a humanidade.

Cabe, portanto, traçar algumas reflexões sobre a Encarnação do Cristo, a Palavra que se fez carne.

A encarnação revela o plano de Deus

Em João 1.14 aprendemos que o Verbo encarnou e habitou entre os seres humanos “… cheio de graça e de verdade…”. Estas palavras nos apresentam ao plano de Deus. Ainda que rebelde, a humanidade permanece sendo alvo do amor do Criador. Por essa razão, a Trindade decidiu antes mesmo da criação do mundo que o Filho seria dado a morrer como manifestação suprema da graça divina (Ap 13.8). É evidente, portanto, que a maravilhosa graça redentora de Deus não seria manifestada através de falsidades. Desta forma, tudo que o Filho revelou sobre o Pai é verdadeiro. Jesus Cristo é o clímax da revelação de Deus. Isso significa que Ao conhecer a Cristo, conhecemos Deus como ele é. Este fato, porém, não pode nos confundir. “Cristo é a Palavra revelada, enquanto as Escrituras são a Palavra escrita” (Thomas Oden). O Cristo divino que revela de forma perfeita o Pai não pode ser conhecido em outro lugar senão nas Escrituras. Ao testemunhar que o Cristo encarnou manifestando graça e verdade, João deixa claro que não se pode conhecer a Palavra Encarnada sem o reconhecimento da veracidade da Palavra Escrita. Toda a Bíblia aponta para Cristo e sua obra salvadora.

A encarnação revela o caráter de Deus

“… e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai…”. Na encarnação, o Filho revela o Pai. Deus Pai e Deus Filho (e também Deus Espírito) possuem exatamente a mesma substância divina (ousia). Em sua triunidade, o Divino se achega à humanidade para nos revelar quem é em sua glória e em seu ser (Hb 1.3). Tudo aquilo que antes era conhecido de forma incompleta pelas promessas, é manifestado em Cristo (Cl 1.26-27). Deus é grandioso e glorioso e, em Cristo, o Verbo Encarnado, Ele nos concede o desfrutar de sua presença gloriosa eternamente. Aleluia!

Pr. Lucas Rangel de C. Soares


¹ Herman Bavinck. Dogmática Reformada. vol. 3. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2012. p. 241.

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