Uma anônima notável

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Imagine você, vítima de um sequestro, tirado violentamente de sua casa, de sua família, de sua cidade, levado para um lugar desconhecido onde não conhece ninguém. E, nessa situação, você é obrigado ao trabalho escravo. Qual seria a sua reação? Indignação? Revolta? Raiva? Desejo de vingança?

Em II Reis 5.1-5 temos o relato de um caso semelhante. Vejamos:

“E Naamã, capitão do exército do rei da Síria, era um grande homem diante do seu SENHOR, e de muito respeito; porque por ele o SENHOR dera livramento aos sírios; e era este homem herói valoroso, porém leproso. E saíram tropas da Síria, da terra de Israel, e levaram presa uma menina que ficou ao serviço da mulher de Naamã. E disse esta à sua senhora: Antes o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra. Então foi Naamã e notificou ao seu senhor, dizendo: Assim e assim falou a menina que é da terra de Israel. Então disse o rei da Síria: Vai, anda, e enviarei uma carta ao rei de Israel. E foi, e tomou na sua mão dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez mudas de roupas.

Geralmente, neste capítulo, temos a atenção centrada em Naamã ou no profeta Eliseu. Mas, nesta ocasião, chamo a atenção do leitor para uma menina sobre a qual temos poucas informações; nem seu nome nos é informado. Assim, chamo-a de “uma anônima”.

O texto inicialmente comunica que tropas da Síria haviam atacado Israel e, naquela ocasião, levaram uma menina cativa como escrava, que passou a servir à esposa do comandante do exército da Síria, Naamã.

Naamã era respeitado e honrado, um comandante valente e vitorioso. Porém, leproso (versos 1 e 2). A partir das informações do texto, podemos observar algumas características da anônima notável.

1 – Tinha um coração benevolente (verso 3)

Aquela menina não tinha sentimento de vingança pelo fato de Naamã tê- -la levado cativa. Ela não se alegrava com um tipo de sentimento vingativo por Naamã ser leproso. Não! Antes, ela se importou com ele.

É provável que o coração daquela menina fosse tão cheio de generosidade que ela pensou: “Eu tenho como ajudar este homem e vou ajudar”. Que coração! O homem responsável por sua escravidão, por ela estar distante dos seus, por ela estar em um lugar estranho, por tornar seu destino um estado de permanente saudade, tinha lepra.

Precisamos aprender com aquela menina a não retribuir mal por mal, a não ter uma atitude de retaliação nem ignorar a necessidade das pessoas. Que tenhamos um coração benevolente, tal qual o da anônima notável!

2 – Foi instrumento de bênção (verso 3)

Ainda podemos extrair do verso 3 que aquela menina decidiu ser instrumento de bênção. Ela tinha razões para se entregar à amargura, à mágoa e até a autocomiseração, isto é, ter pena de si mesma, vitimizar-se. Mas não!

Ela decidiu ser instrumento de bênção. Observou a tristeza que assolava aquela família, apesar da boa condição em que viviam e do status que tinham. Havia uma condição de angústia: a lepra de Naamã.

E aí, imagino o rostinho meigo e a feição de generosidade daquela menina chegando para a esposa de Naamã e dizendo: “Eu tenho como ajudar, quer dizer, eu sei quem pode ajudar!”. A menina levou esperança a quem estava em desesperança.

Às vezes, com tão pouco ficamos mal-humorados, destilamos amargura e deixamos de ser instrumentos de bênção. Que sejamos instrumentos de bênção, assim como a anônima notável.

3 – Era confiável (versos 4 e 5)

Impressiona-me a confiança depositada naquela garota. Entendo que aquela anônima era notável em sua postura e em seu falar. Aparentemente, não houve hesitação quanto ao que ela disse. Pense comigo! Que valor, que crédito tinha a palavra de um escravo? Ah, mas aquela menina era diferente!

Será que usufruímos de tamanha confiança, tamanha credibilidade com relação à nossa palavra? Que sejamos dignos de confiança, tal qual a anônima notável!

4 – Era escrava, mas era livre (versos 1 ao 5)

A menina permaneceu livre mesmo na condição de escrava, porque a genuína liberdade não consiste no mero direito de ir e vir, numa liberdade visível aos olhos. Podemos compreender isso no texto. A verdadeira liberdade é interior, e essa não pode ser tirada do ser humano. Aquela menina não se entregou à condição de típica prisioneira; antes, ela manteve sua dignidade.

Sua mente, suas emoções, seus sentimentos, suas ideias, seus valores não estavam cativos à adversidade, mas tinham liberdade dentro dela. Às vezes, a liberdade exterior pode ser um engano; podemos estar presos às mágoas, culpas, sentimentos vingativos, ira, inveja etc. Contudo, quando temos a liberdade interior, não há cárceres ou prisões que prendam um coração benevolente e que nos impeçam de sermos bênçãos.

Do que adianta sermos conhecidos e não fazermos a diferença?

Quem nos dera ser tal qual a anônima notável!

Por Nédia Galvão

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