Um dos piores inimigos do crescimento espiritual é o poder. Não estou falando do poder do Altíssimo, mas do poder que as pessoas admitem ter do ponto de vista da sua humanidade. O poder do ser humano é perigoso, porque dispensa o poder de Deus. Se me acho capaz, normalmente não recorro a oração e, assim fica claro que as coisas que estou fazendo estão, de fato, sendo feitas na força da carne e não no poder do Espírito Santo.
No Reino de Deus todo poder tem que ser divino. O salmista afirmou: Uma vez falou Deus, duas vezes ouvi isto: Que o poder pertence a Deus. Salmos 62.11. Ele precisou escutar duas vezes, isto é, precisou escutar de fora pra dentro e depois de dentro pra fora.
Quando Moisés quis fazer a obra de Deus na força da carne, o Senhor o colocou em quarentena no deserto para o esvaziar de toda presunção. Durante 40 anos Moisés foi desconstruído de toda o seu conhecimento adquirido na “Universidade” do Egito, afim de aprender depois como fazer a obra de Deus na fraqueza da sua carne.
Saulo foi um ilustre acadêmico, um doutor da lei, um mestre por excelência que após a sua conversão teve que ir ao deserto, por três anos, para ser desaparelhado de todas as estratégias humanas e, daí pra frente, conhecer o poder que vem da fragilidade. Agora, Paulo, o fraco, ouve o Senhor lhe dizer com nitidez e conclui: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. 2 Coríntios 12.9.
Jesus não foi um homem poderoso na carne. Ele disse: em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz. João 5.19. Suas ações neste mundo foram dependentes totalmente do poder do Seu Pai celestial.
A igreja sempre sofreu com a origem da questão do poder. De onde vem o poder que faz as coisas acontecerem no âmbito da comunidade? De Deus ou na carne? Quando é de Deus, o instrumento usado se oculta quebrantado. Quando é da carne surge todo tipo de artimanha, pois a carnalidade se manifesta com a sua aspiração sutil pelo controle.
Jesus foi tentado por satanás na sua performance quando esteve no pináculo do templo, sendo provocado a exibir a sua fé num espetáculo bizarro. A natureza humana não se conforma com o lugar comum e sempre se mostra ambicionando a distinção. A coisa é muito séria e só o poder de Deus é capaz de desmontar a necessidade de projeção que o ser humano tem no convívio com as outras pessoas. O poder da carne é inebriante.
Irmãos, se a obra da cruz de Cristo não crucificar o nosso ego de fato, ele pode muito bem se disfarçar de morto para o poder, mas nos bastidores vai tecendo a sua trama, com sutileza, em busca da primazia. Assim, todo cuidado é pouco.
Pr. Glenio Fonseca