Segredo da Felicidade

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Indagaram-me: o que você quer dizer com espírito da cruz? O que está por trás dessa série de artigos? Nada mais e nada menos do que o caráter de Jesus, ou melhor, o princípio de interação da Trindade. Espírito tem a ver com a realidade além da matéria e a cruz, com a morte do egoísmo. Se o eu não for crucificado, certamente será exaltado.

O segredo da felicidade é a renúncia de si mesmo. Mas como posso renunciar-me? Como o ego pode abrir mão de si? Se eu me abdicar, por mim mesmo, acabo por me entronizar num pedestal de vanglória. Veja: ego que se esvazia, sempre se enche da sua própria soberba de ter-se esvaziado a si mesmo, por suas próprias forças.

Nunca vi alguém que pregue sua humildade, que não se exalte nas entrelinhas de ter alcançado, em seu portfólio, a postura humilde. O ego que se humilha é propenso a orgulhar-se do seu desempenho. Por isso, a humildade tem que ser uma qualidade, tão invisível, para quem a demonstra, que lhe seja impossível de percebê-la.

Abnegação à sudorese é paixão violenta de alma altiva. Generosidade com os holofotes ateados é uma peça bizarra. Desprendimento noticiado é a apelação do sujeito oculto na oração, que quer ser o predicado do objeto de atenção. É um absurdo o defunto relatar o seus feitos. Quem morreu, silencia-se! Alguém já ouviu a defesa de um finado?

O espírito da cruz tem tudo a ver com a morte do ego fora de qualquer esforço do ego. Não é uma auto-aniquilação, mas uma aniquilação do alto. Não se trata de uma egoplastia de si mesmo, por si mesmo, mas, uma extirpação do eu pela obra da cruz.

Nada em favor de nossa salvação pode ser feito por nós, uma vez que tudo foi feito em Cristo e por Cristo.

O próprio ato de fé pelo qual recebemos a Cristo é um ato de completa renúncia do eu e de todas as suas obras com base na obra de Cristo, na cruz.

Não sou eu que me suicido, é Cristo quem me crucifica. Se já estou crucificado com Cristo, então não careço de me eximir de qualquer deslize, nem de me deslumbrar por qualquer realização. Não há o menor espaço para o eu depois da cruz.

Jesus nunca se defendeu nem fez qualquer exposição de suas realizações. Ele é a única chance a toda aquele que vive sob os efeitos eternos do espírito da cruz; jamais buscar um palanque, para se exibir; tampouco estar num tribunal, para se defender.

Relatórios de boca própria são temerários. Auto-justificação é uma prova cabal de absoluta descrença na justificação do Cordeiro. Quem morreu na cruz com Cristo, não tem nada de que se defender, muito menos ainda para se projetar. É fim de papo.

Irmãos, não se importem de serem considerados como bicho da goiaba na salada dos esnobes.

O arrependimento é o abandono de determinada ação, devido à convicção de que Cristo fez tudo.

Isso basta.

Pr. Glenio Fonseca

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