Saber gastar é uma forma consciente de honrar a Deus

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É possível ir ao supermercado e honrar os ensinamentos da Palavra de Deus ao mesmo tempo? Para muitos cristãos, essa pergunta parece trivial, mas a resposta revela o quanto o Evangelho pode (e deve) guiar até os hábitos mais cotidianos, como o de encher o carrinho de compras.

O empresário Fábio Hertel, articulista da Revista Comunhão, defende que as decisões de consumo não são neutras. “Tudo que temos, não nos pertence. Tudo pertence a Deus, inclusive o dinheiro. É preciso ter o consumo consciente comprando produtos adequados e evitar o desperdício. Quando escolho um produto, estou fazendo uma escolha sobre o tipo de economia, de sociedade e até de valores que quero alimentar”, afirma.

Esse entendimento não é apenas teórico. Muitos cristãos têm buscado adotar uma postura mais consciente na hora de comprar, impulsionados pela ideia bíblica da mordomia cristã, conceito que envolve o cuidado responsável com tudo que nos foi confiado por Deus: tempo, dinheiro, saúde, ambiente e relacionamentos.

A publicitária Marisa Victória, cristã e mentora em produção de conteúdo estratégico, resume essa perspectiva com clareza: “Todos os princípios cristãos precisam ser levados para nossa rotina. A Bíblia nos ensina a ser bons mordomos do que recebemos, ou seja, precisamos administrar bem o que nos foi confiado, além de ser bênção para outros”, afirma Victória, que completa:

“Isso passa por atitudes simples, como valorizar o pequeno produtor, cuidar do meio ambiente, evitar excessos, ser gratos e estar atentos ao que compramos e ingerimos, já que o nosso corpo é templo do Espírito Santo.”

Ela reforça que isso não significa agir com rigidez ou culpa. “No supermercado, podemos ser criteriosos observando rótulos, comprando só o que realmente vamos usar, preferindo alimentos mais naturais e de empresas de procedência séria, quando for possível identificar. Não se trata de fazer tudo perfeito, mas de fazer o que está ao nosso alcance, com o coração alinhado àquilo que cremos.”

Consumo com fé e propósito

Comer e beber para a glória de Deus (1Co 10:31) também implica escolhas práticas. Fábio Hertel lembra que o cristão pode testemunhar sua fé de maneira silenciosa, mas poderosa, ao consumir com responsabilidade.

“O consumo consciente é um reflexo da gratidão e da generosidade. Quando evitamos desperdícios, quando priorizamos o necessário, quando ajudamos a manter o sustento de famílias com nossas compras, estamos encarnando princípios do Reino.”

Ele destaca que essa postura também educa os filhos e influencia quem está ao redor. “Levar as crianças ao supermercado pode ser um momento de discipulado. Mostrar que não compramos algo só porque está na promoção, mas porque é bom, necessário e justo, é uma forma de ensinar valores que ultrapassam o consumo”, comenta, explicando que em sua casa, por exemplo, não entra refrigerante.

Cristãos não podem comprar por “impulso”

Entre as prateleiras e gôndolas, o cristão é convidado a viver sua fé no ordinário. Isso inclui refletir sobre origem, finalidade, impacto social e ambiental do que consome. Não se trata de seguir regras inflexíveis, mas de estar desperto espiritualmente mesmo diante das decisões aparentemente automáticas.

A teóloga e doutora em psicanálise, Patrícia Pedro, destaca uma importante passagem da Bíblia: “A Bíblia oferece direção até para a lista de compras. Em Gênesis 41, José interpreta o sonho do faraó e orienta o Egito a guardar alimentos nos anos de fartura, prevendo os anos de escassez. Essa atitude de prudência e fé nos ensina que o consumo deve ser equilibrado, planejado e alinhado à realidade de cada um. “Haja um homem ajuizado e sábio” (Gn 41:33) — é o chamado para nós também”.

Ela salienta que no mercado compramos o pão (alimento), na mesa dividimos o sangue (Espirito) de Cristo, na graça da comunhão. “Até no supermercado podemos adorar a Deus. Com escolhas simples, justas, generosas e conscientes, refletimos os valores do Reino. Podemos ensinar nossos filhos, abençoar quem tem menos, evitar desperdícios e, acima de tudo, lembrar: o pão nosso de cada dia vem do alto”. Sendo assim, o carrinho de compras também pode ser um altar de adoração.

Por Flávia Fernandes

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