Introdução
Com toda certeza, os brasileiros estão diante de uma das mais acirradas disputas eleitorais. É impressionante a capacidade que os candidatos têm de atrair seguidores fiéis e aguerridos! De maneira que todos os espaços de convívio social se tornaram palco de discussões acaloradas e desavenças motivadas pelas preferências políticas. Nem mesmo as igrejas escaparam dessa ocupação ideológica. Algumas, inclusive, acabaram se tornando verdadeiros palanques eleitorais. Como resultado, o discurso político ganhou um viés religioso e a disputa eleitoral se tornou a luta do bem contra o mal.
Contudo, em razão da aparente equivalência numérica dos apoiadores de ambos os lados e das muitas narrativas que constantemente circulam pela mídia, para alguns não é tão fácil identificar quem está do lado “do bem” nessa história. Uns acreditam que é o candidato de direita, enquanto outros creem que é o de esquerda. Mas o pior nisso tudo é que o suposto heroísmo de um candidato e a vilania do outro acabam sendo consideradas como características de seus eleitores. Por conta disso, cada lado afirma que quem se alinha com o oponente de seu candidato não pode ser genuinamente cristão. Diante desse cenário, alguns preferem guardar silêncio e não emitir posicionamento. Esses, entretanto, tendem a considerar que todos os envolvidos na controvérsia política têm uma perspectiva deficiente da fé cristã. Mas quem está certo nessa história? Existe um lado cristão e outro anticristão? Ou um lado mais cristão e outro menos? É possível dar uma resposta definitiva a esses questionamentos? É o que veremos a seguir.
1. Existe um lado certo?
Um relativista responderia prontamente: depende do ponto de vista. No entanto, qualquer indivíduo que professe a fé exclusivamente em Jesus Cristo discordaria dessa resposta. Afinal, para o cristão evangélico, a Bíblia é a única regra de fé e prática. E, portanto, é a aferidora da verdade. Nenhum ponto de vista pode mudar isso. De modo que, para o servo de Deus, o certo e o errado são definidos pelas Escrituras Sagradas.
Mas talvez você esteja perguntando: “o que isso tem a ver com a política? A Bíblia trata de questões de fé, e não de política”. Se esse é o seu pensamento, preciso alertá-lo: você está errado. A Bíblia se apresenta como uma cosmovisão, ou seja, uma visão de mundo; a lente através da qual toda a realidade deve ser interpretada. De sorte que nossa maneira de pensar e agir deve ser guiada pelos padrões estabelecidos por Deus em sua Palavra. Isso inclui, necessariamente, nossas opiniões e posicionamentos políticos. Até porque, as Escrituras ensinam que devemos buscar a paz da nação em que residimos e, inclusive, orar para que isso aconteça; pois a paz da nação será também a nossa paz (Jeremias 29.7). Um preceito que é reiterado no Novo Testamento por meio da orientação apostólica em 1Timóteo 2.2: “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade”.
Sob esse prisma, o lado certo é aquele que, em harmonia com essa diretriz, procura a paz da nação. Porém, é preciso considerar o preceito neotestamentário que diz: “[…] enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gálatas 6.10). Ou seja, na busca pela pacificação, é imperioso que se priorize a paz para aqueles que professam a fé cristã. Mas, o que isso significa? E o que tem a ver com as eleições? A resposta é simples: por ocasião das eleições, o cristão não deve dirigir seu voto a um candidato que represente ameaça à liberdade de evangelizar e de expressar publicamente sua fé. Afinal, se o candidato escolhido se opuser à fé cristã, a igreja não terá paz.
Todavia, esse princípio nos lembra de outro ponto muito importante: somos promotores da paz. Isto é, por mais que seja legítimo escolhermos candidatos, divulgarmos suas propostas e, até mesmo, debater sobre o assunto, não podemos agredir, física ou verbalmente, os que discordam de nós. Se o fizermos, ainda que escolhamos o candidato mais alinhado com os valores cristãos, nossa conduta não será cristã. E, portanto, não estaremos do lado certo.
2. Existe um lado em que todos são ímpios?
Por certo, alguns responderiam essa pergunta com um sonoro “sim”! Entretanto, a resposta não é tão simples assim. Mas, mesmo que fosse, nenhum cristão deveria alimentar ódio por essas pessoas. Ao contrário, deveríamos orar por elas e tê-las como alvo da pregação do evangelho. Até porque, só a Palavra de Deus pode proporcionar uma mudança real na sociedade. Porquanto, por meio dela, os indivíduos que compõem a sociedade são transformados pelo poder do Espírito Santo. Nenhum político ou plataforma de governo pode fazer isso.
Não obstante, voltando à questão principal, cabe ressaltar que, por mais que você considere anticristãs algumas posturas de um determinado partido ou candidato, é possível que um cristão, por estar num processo de santificação, esteja falhando ao escolher votar nesse indivíduo, mas ainda assim seja um servo de Deus genuíno. Afinal de contas, ao reconhecer Cristo como Salvador ninguém se torna imediatamente perfeito. Na verdade, após a conversão, inicia-se um processo de aperfeiçoamento. Foi justamente por isso que Pedro falhou diante de Paulo e este o repreendeu (Gálatas 2.11-14). Ele estava em aperfeiçoamento. Logo, pela mesma razão, não podemos crucificar aqueles que decidem votar em candidatos que reprovamos, e nem os acusar de serem falsos cristãos. Seria muito melhor se procurássemos demonstrar nas Escrituras que o caminho proposto pelo candidato escolhido por eles fere princípios e valores bíblicos.
3. Existe um lado errado?
Talvez, você pense que os candidatos de esquerda não se opõem ao cristianismo. Contudo, a estrutura ideológica da esquerda é natural e essencialmente contrária à fé cristã. Haja vista que para alcançar o ideal marxista é necessário que nossa instituição mais cara, a família, seja dissolvida. E, por mais que tenham tentado convencer a população de que o candidato à presidência não defende isso, é evidente que ele é signatário da ideologia que moldou seu partido. Senão, por qual razão permaneceria filiado?
Apesar disso, muitos eleitores realmente acreditam que ele é contra tudo aquilo que seu partido e ele mesmo sempre defenderam. Parece que o seu poder de persuasão é tão grande que as pessoas creem em tudo o que ele diz. Mesmo que isso contrarie a lógica e as evidências. O que comprova aquilo que um de seus “companheiros” afirmou: – Lula é um encantador de serpentes.
Mas, definitivamente, ele está do lado errado. Pois, ainda que o seu adversário também não seja evangélico, seus valores se aproximam mais do cristianismo. E, por mais que muitos não se agradem de alguns de seus comportamentos, ele se mantém firme na defesa da vida desde a concepção, no combate à presença da ideologia de gênero nas escolas, na defesa de um ensino público sem doutrinação ideológica e na luta pelas liberdades individuais. Por isso, embora ele fale palavrões e esteja no terceiro casamento, muitos cristãos têm optado por votar nele. Até porque, não vamos escolher um pastor para nossas igrejas, mas um presidente para o nosso país.
Outro ponto que precisa ser levado em conta é o fato de que todos os pastores e teólogos que defendem a teologia inclusiva estão contra o Bolsonaro e a favor do Lula. Você já parou para pensar na razão disso? Se você ainda não sabe, a teologia inclusiva é uma perspectiva teológica que, através de malabarismos eisegéticos, argumenta que é possível ser cristão e praticar a homossexualidade. Além disso, a maioria desses teólogos também defende o aborto. Ora, se o Lula é contra o aborto e não é a favor da ideologia de gênero, por que esses pastores querem votar nele? Só há duas respostas possíveis: ou eles estão fora do seu juízo perfeito ou o Lula concorda com eles.
Conclusão
Conquanto essas poucas linhas sejam incapazes de convencer um militante, creio que essa reflexão pode levar você a considerar a possibilidade de que, de fato, há muita incoerência no discurso do candidato de esquerda. E, se você o fizer, procure refletir sobre o mundo que você quer para os seus filhos.
Sei que só o evangelho pode transformar pessoas. E, por isso, quero um país em que o evangelho possa ser pregado sem censura estatal. Um país onde possamos declarar publicamente o que a Bíblia aponta como pecado, sem que sejamos presos ou multados por fazê-lo. Mas, mesmo que a igreja seja privada de pregar e os cristãos sejam proibidos de se posicionar como tais, continuarei crendo que Deus está no controle da história.
Pr. Cremilson Meirelles