Quais são os riscos para a saúde mental das crianças na internet?

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Foto: Freepik.

No Brasil, cerca de 86% dos usuários de internet de 9 a 17 anos possuem perfil em rede social, e os aplicativos mais usados por eles são Instagram e TikTok. A informação é da pesquisa TIC Kids Online Brasil, divulgada em 2023 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação.

Ainda conforme o estudo, apenas 15% das crianças afirmaram que sempre ou quase sempre “deixam de usar a internet porque seus pais ou as pessoas que cuidam da criança ou adolescente o impedem”. E 56% responderam nunca ou quase nunca à mesma pergunta.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), nenhuma criança antes dos 10 anos deve ter rede social, e, depois dessa idade, ainda é preciso monitorar de perto. A recomendação da instituição é que crianças com idades entre dois e cinco anos tenham o tempo de tela limitado a uma hora por dia, sempre com supervisão. Já entre seis e 10 anos, esse tempo pode passar para duas horas, também sob monitoramento. A partir dos 11 anos, de duas a três horas deve ser o limite, também com fiscalização de um adulto. 

A pedagoga Sabrina Faller adverte aos pais que rede social não combina com infância. Isso porque esse período é o momento de as crianças desenvolverem habilidades. “É o momento de brincarem, movimentarem, bagunçarem, pegarem coisas, objetos. Isso tudo elas não fazem, se estiverem expostas à rede social”, afirma e acrescenta: “Quanto mais retardar esse contato com as telas, de uma maneira em geral, melhor. Assim, elas terão liberdade de desenvolver a criatividade e a imaginação”.

O contato com o mundo virtual também dificulta a socialização dos pequenos e a interação com outras crianças, levando ao isolamento 

Sabrina lembra que a exposição às redes sociais pode gerar prejuízos mentais às crianças, como ansiedade, insônia e vício digital. “Além disso, dificuldade em manter contato com as pessoas, porque estão integradas ao mundo virtual. Assim, nas relações presenciais, sentem dificuldade de comunicação e interação”.

A especialista adverte quanto à responsabilidade dos pais no acesso dos filhos às redes sociais. Isso porque, muitas vezes, o adulto libera o celular para que a criança fique quieta, para manter a casa arrumada ou para ganhar tempo. “Os pais que permitem redes sociais precisam monitorar, porque as crianças ficam expostas a conteúdos inapropriados, como também a pessoas mal-intencionadas”, frisa Sabrina.

A pedagoga acrescenta que “elas ainda estão em desenvolvimento, sem maturidade para discernir as situações”.

Ambiente de risco 

Dentro desse contexto, a pedagoga e psicóloga Natalie Schonwald salienta que, com o fácil acesso às tecnologias e, principalmente, às redes sociais, as crianças estão mais suscetíveis à influência das informações, sem analisar a veracidade ou as consequências ao repassar essas mensagens. “Assim, o bullying por meio da internet ganhou um alcance muito maior que no ambiente físico, por isso, lutar contra esse assédio é de fundamental importância e urgente, para preservar a integridade das crianças”.

A especialista aponta alguns desfechos negativos: depressão, isolamento, síndrome do pânico e, em casos mais graves, suicídio. “É preciso garantir que o público infantojuvenil tenha sua privacidade respeitada, online e em outros ambientes, mas pais e responsáveis precisam estar sempre atentos”, frisa a autora dos livros “Na Cidade da Matemática” e “Na Cidade da Matemática – Bairro das Centenas”. 

Natalie chama atenção, ainda, para a necessidade de as crianças, principalmente as meninas, receberem, com frequência, orientações em relação aos riscos que existem por trás das telas, para evitar qualquer tipo de constrangimento. Caso eles ocorram, a especialista recomenda realizar a denúncia em uma delegacia.

“Os pais ou responsáveis têm que estar sempre atentos aos conteúdos que estão sendo acessados por seus filhos, e um dos motivos relevantes é que esses acessos estão ocorrendo com maior frequência e mais cedo”, conclui.

Oito problemas de saúde gerados pelas redes sociais

– Dependência digital e uso problemático das mídias interativas

– Problemas de saúde mental: irritabilidade, ansiedade e depressão

– Transtornos do déficit de atenção e hiperatividade

– Transtornos do sono

– Transtornos de alimentação: sobrepeso/obesidade e anorexia/bulimia

– Sedentarismo e falta da prática de exercícios

– Bullying e cyberbullying

– Transtornos da imagem corporal e da autoestima

Por Patricia Scott 

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