E ouviu Deus a voz do menino, e bradou o anjo de Deus a Agar desde os céus, e disse-lhe: Que tens, Agar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino desde o lugar onde está. (Gn 21:17).
O Anjo do Senhor, o próprio Deus, só fez esta pergunta a Agar porque o seu filho Ismael a chorar sem nada dizer. Poderíamos dizer que Ele perguntou: “POR QUE CHORAS?”
Isto me faz lembrar o meu amado filho Josué Elias, o meu garoto de 4 anos. Depois de brigar com a Rute Cristina, sua irmã mais velha (6 anos) ou com Maria, a caçula (1 ano e meio), começou a chorar. Perguntei-lhe: “Filho, por que está chorando?” Ele, silente, veio ao meu colo em lágrimas. Chorou, chorou e, então, adormeceu. Depois acordou bem e voltou a brincar.
O texto bíblico mostra-nos um carinho especial da parte de Deus por este menino. Agar, solitária no deserto, sofrendo por não poder suprir a necessidade urgente de seu filho Ismael, humilhada na casa de sua senhora, expulsa e sem destino, chora a iminente morte do garoto, que não suportaria a sede do deserto. Ela chorava ao ver o sofrimento do filho, mesmo que isso não tivesse importância para ninguém, exceto para ela. Não chorava para chamar a atenção; chorava porque sofria e tinha que desabafar.
Há tanta gente que chora sozinha! Pessoas que sofrem tanto, seja por falta de recursos, falta de emprego, falta de moradia, falta da família, falta de saúde, falta do básico para uma vida decente! Alguns o fazem audivelmente, mesmo que saibam que ninguém as ouve. Choram em voz alta porque não são capazes de chorar para dentro; precisam desabafar.
Outras, contudo, não expressam a dor pelo choro. Elas choram por dentro, no seu interior, nos seus pensamentos, nas sensações doridas de um coração ferido. Por fora sorriem, passando uma imagem de relativa felicidade ou, pelo menos, de normalidade. Por dentro, contudo, gemem de dor, de medo e de solidão, num gemido que, não raras vezes as coloca enfermas, seja no corpo, seja na alma.
Quase ninguém liga para o sofrimento humano, caso não signifique em alguma troca. Há muitos que filmam gente sofrendo e alguém a socorrer, mas o propósito é a audiência, a comoção ou a propaganda de algum produto, ideologia ou religião. As lágrimas do outro podem valer ouro! Familiares muitas vezes ignoram as lágrimas do idoso, recolhido no quarto fétido dos fundos da casa, ou depositado numa enfermaria do asilo mais barato da cidade. Netos nem ligam para os avós. Filhos não fazem questão de investir tempo com os pais. Estes, por muito amarem, disfarçam, dizendo que tudo vai bem. Mas bem lá dentro, na alma, eles sofrem. Cônjuges não percebem os avisos seguidos do pedido de ajuda de seu par, cujo sofrimento vai se arrastando por dias e meses, numa dor não verbalizada, mas perceptível.
Pastores choram também. E como choram! Choram pela ingratidão de muitas ovelhas, que, depois de supridas, saradas e reconduzidas a uma vida útil, esquecem-se daqueles que investiram tempo, amor e afeição por elas. Professores também choram quando são ignorados pelos alunos que alfabetizaram ou por candidatos preparados com imensa dedicação aos exames diversos nos cursos e nas faculdades da vida. Se há algo constante na humanidade, este algo se chama INGRATIDÃO…
Mas ali está O ANJO DO SENHOR, que ouviu o choro sentido e impotente de um menino, e o choro doído de uma mãe, humilhada e abandonada, incapaz que era de dessedentar o filho sedento e quase desfalecido. Deus não deixa de ouvir o choro de uma mãe sofredora, de um pai desesperado, de um jovem tentado, de uma moça abandonada. “O QUE TENS?” “POR QUE CHORAS?”
Certamente Deus sabia o que ocorria com aquela mulher. Mas queria ouvi-la verbalizar a sua dor. Se desejamos que os céus nos atendam nas súplicas que lhe fazemos, é necessário que verbalizemos em oração a nossa necessidade. Temos que dizer, que contar, que narrar, que apresentar a nossa causa diante de Deus. Ele sabe, mas Ele quer saber se nós realmente sabemos o que nos causa tanta dor. Muitas vezes choramos sem motivo, sem razão aparente, sem uma causa razoável. Foi assim com Jonas, que chorava e lamentava a morte de uma aboboreira, sem mostrar compaixão alguma com pecadores arrependidos da cidade violenta na qual profetizou. “É razoável essa tua ira?” (Jonas 4.9)
Somos ouvidos pelo Anjo do Senhor em nossas dores e, à semelhança de Agar, precisamos conttar a Ele o que sentimos. Assim diz a Bíblia: Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. (Fp 4:6).
A JESUS CRISTO CONTAREI TUDO
QUE HAJA EM MEU PEITO A ME PERTURBAR
OS MEUS CUIDADOS, MEUS SOFRIMENTOS,
SÓ ELE PODE SUAVIZAR (Hino 345 do Cantor Cristão).
Contemos, pois, ao Anjo do Senhor, isto é, ao próprio Deus, todas as nossas dores. Ele ouve o nosso choro, ainda que não haja lágrimas ou soluços. E nos consola com a Sua graça.
Pr. Wagner Antonio de Araújo
Colunista deste Portal