Outubro Alto

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Foto: Reprodução/Internet.

Enquanto escrevo estas linhas contemplo um mundo caótico, repleto de tragédias, de crises e de convívio mundial destrutivo. Dois vulcões abalam as estruturas do planeta, colocando a atmosfera em risco, acendendo alertas de tsunamis, desalojando milhares de pessoas. Vejo a maldade humana, que destrói as florestas, altera o ecossistema, acaba com a flora, reduz a fauna, dizima com as criações natuurais de Deus. Nossos rios estão secando; nossas matas estão ardendo; nossas abelhas estão morrendo e nossa comida está se esgotando. Vejo países sem energia para alavancar as suas indústrias e pessoas voltando aos fogões de lenha, mas sem lenha para queimar, uma vez que o desmatamento destruiu as florestas. Vejo o planeta arrastando uma pandemia mal curada, enterrando os mortos e descobrindo que as sequelas são muito mais severas do que se imaginava. Vejo líderes mundiais hipócritas a fazer teatro para os seus apoiadores e a negar as palavras com a prática leviana, desonesta e nada íntegra. Vejo a população entretida com um aparelho de celular (telemóvel) à mão, a explorar a antropolatria pessoal, a autopromover a sua própria mediocridade e a transformar a religião num espetáculo que cause seguidores e muita publicidade. Vejo Sodoma, Gomorra, Babilônia e o arraial dos hebreus desenfreado no deserto, no comportamento deste século 21. Neste mundo tenebroso é que escrevo estas linhas.

Faz-se necessário deixar o arraial e subir o Monte de Deus. Abraão fez isso ao ser chamado para sacrificar o seu filho Isaque. Alí ele descobriu que o Eterno não estava interessado no sangue de seu filho, mas no ato de obediência à Sua Palavra. Descobriu também que Deus já provera um sacrifício em lugar de seu menino: um cordeiro, prefigurando o definitivo sacrifício, que seria o do Seu próprio Filho Unigênito, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que veio ao mundo para salvar os pecadores, entre os quais eu me encontro. Também Moisés subiu o monte, primeiramente para ver o fenômeno da sarça que ardia e que não queimava. Ali ele descobriu o Deus único, que se revelara aos seus ancestrais. EU SOU, o nome de Deus, o enviaria ao Egito, sua terra natal, para libertar os hebreus. E quando fossem libertados ele deveria novamente subir o monte, buscando em Deus as orientações para que o povo pudesse seguir.

Quantos exemplos eu poderia citar, onde homens e mulheres de Deus tiveram que subir o monte, abandonando a baixada, a aldeia, o trivial e o habitual, buscando as alturas, buscando uma experiência de transfiguração espiritual! Foi no monte que Jesus transfigurou-se diante de Seus apóstolos. Foi no monte que Jesus Cristo ofereceu-Se como Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Foi no monte que Elias falou com o Senhor e é no monte que encontraremos as respostas para uma vida produtiva neste mundo tenebroso. Não falo de subir geograficamente uma montanha. Não falo de um alto, de um pico, de uma serra. Muitos que habitam os lugares altos do planeta vivem em vales sombrios e baixíssimos espiritual e moralmente. O monte do qual falo é um ato do coração.

Precisamos subir a montanha da comunhão com Deus. E não há alternativa: para que isto aconteça teremos que sair do vale da comunhão com este mundo pervertido. Quem vem para a luz deixa as trevas; quem vem para o quente deixa o frio; quem vem para a companhia deixa a solidão e quem vai até Deus necessariamente deixa de modular nas ondas baixas da mediocridade desta geração. Hoje, por toda parte, só vemos egoísmo e vaidade. As pessoas filmam um acidente e não socorrem o acidentado; as pessoas filmam uma briga e não procuram apartar os agressores; o espetáculo de ver animais se despedaçando é muito mais popular do que socorrê-los dos incêndios. O espetáculo das palavras gera muito maior visualização do que a prática destas mesmas palavras. Igrejas tornaram-se grandes centros de programações agradáveis e foram adaptadas como palco para as expectativas humanas. Elas se despiram da teologia e da “celestialidade” e travestiram-se em antropologismo fétido de uma sociologia contemporânea e atéia. Tem sido difícil encontrar uma igreja que ainda não tenha sido maculada pelos ventos da mudança híbrida da fé.

Por isso o monte. Moisés, entristecido pela orgia pública e nacional dos libertados do Egito, quebra as tábuas de pedra, impôe um castigo ao povo e novamente sobe ao monte divino. Elias, amedrontado pelas ameaças de Jezabel e não encontrando mais profetas de Deus, como ele, corre para o monte, buscando uma resposta. E para cada um que subiu o monte com o coração cheio de fé, Deus teve uma resposta, uma renovação, um porvir, uma consolação.

Subir o monte é optar por Deus, renegando o mundo. Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. (Tg 4:4). Renegar o mundo é abandonar a sua prática, não o seu povo. Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. (1Jo 2:15)

Subir o monte é orar a Deus. Orar em privado ao Pai celeste. Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente. (Mt 6:6). Também é orar em comunhão, com a igreja reunida. E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. (At 2:42). Também é orar no meio das lutas e perseguições: Estêvão, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu (At 7:60).

Subir o monte é parar de pecar. Qualquer que permanece nele não vive a pecar; qualquer que vive a pecar não o viu nem o conheceu. (1Jo 3:6). Parar de pecar é mudar de vida, dizendo não a si próprio e sim à vontade de Deus. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. (Rm 12:2). Parar de pecar é não expor-se à tentação, buscando os limites do quanto é possível resistir, assistindo a coisas impróprias e ouvindo discursos lesivos à fé: E perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a qualquer que nos deve, e não nos conduzas em tentação, mas livra-nos do mal. (Lc 11:4).

Subir o monte é ser conhecido de Deus, ainda que desconhecido do resto da humanidade. Ainda que sejamos anônimos nas mídias sociais, anônimos nas próprias igrejas onde buscamos servir a Deus, não seremos anônimos se vivermos de conformidade com as Escrituras Sagradas e buscarmos uma comunhão íntima com o nosso Criador: Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos. (Is 57:15).

Subir o monte é uma decisão. Ela tem que acontecer dentro do peito, num ato de entrega e de re-entrega. Tem que partir da alma e tem que afetar todas as áreas da vida. Se não for assim não é subir, mas andar na beira da montanha. Quem apenas admira o pico ou caminha pela encosta jamais atingirá o alto e dirá que subiu. Quem quer ir ao alto e não abandona o vale jamais conseguirá atingir o seu objetivo.

Está na hora de subir. Chega de analisar, de debater, de desconversar, de planejar. Deus aguarda a nossa subida. Deus espera uma decisão pessoal nossa. E ela começa no centro de um coração que quer amar ao Senhor acima de todas as coisas.

Até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto; então o deserto se tornará em campo fértil, e o campo fértil será reputado por um bosque. (Is 32:15)

Eu quero subir.

Eu vou subir.

Eu estou subindo.

Vamos também?

Pr. Wagner Antônio de Araújo
Colunista deste Portal

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