Talvez não haja na atualidade uma figura tão questionada como a figura do pastor. O pastor é visto por muitos, e inclusive dentro do contexto cristão, como aquele que não trabalha, que recebe sem fazer esforço, que tem vida fácil. A crítica em alguns casos é justificada, pois, vemos obreiros que realmente não trabalham, não dão o máximo de si e querem colher os louros de sua improdutividade. Não é fácil ser um pastor. Os desafios que se apresentam ao pastor neste século são muitos. Gostaria ao longo desta exposição, elencar alguns desafios que os pastores encontram ao longo de sua trajetória ministerial.
Em primeiro lugar, o desafio de ser ético em um mundo onde a ética está flácida. No Brasil e no mundo a ética desmoronou. O que predomina em nossa sociedade é a clara inversão de valores. Aquilo que até ontem era tido como errado, hoje é aplaudido. O profeta Isaías descreveu bem esta inversão de valores, ao pronunciar em sua época que muitos fazem das trevas luz e da luz trevas (Is 5.20). Setores importantes da sociedade incentivam o aborto, a relação homoafetiva e ainda fazem troça dos valores morais. Em meio a tudo isto está o pastor. Ele está inserido neste contexto e é atravessado também por esta cultura enferma. É difícil ser ético em um mundo onde as pessoas ao nosso redor nos convocam para transgredir.
Na faculdade teológica, tive o prazer de ser aluno do saudoso pastor Delcyr de Souza Lima. Em sua aula sobre ética, ele trouxe uma definição de ética que me marcou. Ele disse: “Ética cristã é o esforço do crente em reproduzir em sua vida o caráter de Jesus Cristo”. Se o pastor quiser ser um referencial ético, será preciso reproduzir em suas relações o caráter de Jesus Cristo. Isto vai demandar do pastor um relacionamento de proximidade com o Senhor da obra. Toco neste ponto porque muitas vezes somos cooptados pelas demandas ministeriais e não desenvolvemos um relacionamento com o Deus da obra. Lembre-se dileto pastor, que o Deus da obra é mais importante que a obra no qual executamos.
Em segundo lugar, o desafio de viver o absoluto em um mundo relativo. Vivemos em uma sociedade que de forma célere está sendo embalada pelos ventos do relativismo. Para nossa tristeza, nossa geração absolutizou o relativo e relativizou o absoluto. O relativismo filosófico ou doutrinário, deságua no relativismo moral. Diante deste quadro, o pastor necessita pregar e viver os absolutos da Palavra de Deus. O pastor não negocia com a verdade de Deus. Ele é o arauto de Deus que proclama as boas novas de salvação. O pastor não sobe ao púlpito para entreter, mas para anunciar os desígnios de Deus.
Em último lugar, o desafio de ser fiel em um mundo infiel. Vivemos em contexto social onde a fidelidade é algo em extinção. Não vemos fidelidade nos contratos, não vemos fidelidade no matrimônio, como também não vemos fidelidade no tocante as coisas de Deus. É neste contexto de infidelidade que o pastor é convocado para servir de modelo para o rebanho, sendo fiel não só ao chamado de Deus, mas também a Palavra. Na transmissão da Palavra do Senhor, o pastor não pode adulterar a Palavra. Ray Stedman afirma: “Adulterar a Palavra de Deus, torcendo o significado dos textos ou fazendo uma aplicação errada da verdade a fim de obter uma aparência de sucesso é o grau mais elevado de desonestidade”.
É um grande privilégio ser pastor de almas. Sou profundamente grato a Deus pelo chamado pastoral, pela oportunidade que Ele me concedeu de pastorear o rebanho Dele, a Igreja Batista do Paiva que amo e tenho profundo prazer de “gastar” minha vida em prol das ovelhas deste rebanho.
José Manuel Monteiro Jr.
Extraído do OJB