“Mas Jesus, voltando-se, os repreendeu, dizendo: Vocês não sabem de que espécie de espírito são, pois o Filho do homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-los;” (Lucas 9.55)
Esta repreensão de Jesus foi diretamente para Tiago e João, mas indiretamente para todos os discípulos. E por que não toma-la para nós também? Neste capítulo, Lucas reúne diversos desencontros entre as ideias dos discípulos e a perspectiva de Jesus. Os discípulos queriam que Ele despedisse a multidão para que ela conseguisse por si mesma algo para comer. Jesus lhes disse: Não! Vocês devem alimentá-la! (v.13). Jesus falou sobre seu martírio e sobre a necessidade de negar a si mesmo para segui-lo (v.22-24), transfigurou-se diante de Pedro,Tiago e João (v.28-36), reafirmou seu martírio (v.44), mas o que eles fizeram foi entrar numa discussão sobre quem deles era o maior (v.46). Jesus então lhes apresentou uma criança como modelo de grandeza, da grandeza que deveriam buscar (v.47-48). Eles então informam a Jesus que haviam proibido um homem de expulsar demônios em Seu nome, pois não participava do grupo deles. Jesus lhes disse: “Não o impeçam pois quem não é contra vocês, é a favor de vocês”(v.50).
Será que nos sairíamos melhor que os doze que Jesus escolheu? Não. Somos como eles e se formos como eles já será algo muito bom. Afinal, estamos aqui refletindo sobre a fé que eles proclamaram. Precisamos definitivamente compreender e aceitar que os caminhos de Deus são mais elevados que os nossos e que os seus pensamentos também, conforme profetizou Isaías (55.8). Jesus não nos deu carta branca para falarmos em Seu nome e criarmos nossos próprios caminhos. As Escrituras não são uma espada para com ela lutarmos nossas guerras. A espada que ela deve ser dirige-se a nós mesmos, para nos dividir e revelar pensamentos e intenções do coração, para que possamos nos converter (Hb 4.12). A ira de Tiago e João e possivelmente dos demais discípulos, era contra os samaritanos que não aceitaram hospedá-los, e a Jesus. Por eles, cairia fogo do céu e destruiria a todos! Os caninhos do evangelho de Tiago e João não coincidiam com os caminhos do Evangelho de Jesus. E os caminhos do nosso evangelho? Quem são nossos inimigos? Como entendemos que devemos tratar os que divergem e contrariam nossas certezas?
Se com humildade não dependermos de Deus e não nos submetermos persistentemente ao dever de amar a Deus e ao nosso próximo… se não compreendermos que o amor a Deus só existe de fato se amamos o nosso próximo… se não compreendermos que o nosso Deus não escolheu destruir Seus inimigos, os que são maus, os malvados, mas amá-los e convida-los à transformação, e que nós éramos parte desses inimigos e malvados, pois todo ser humano é… se confundirmos nossa missão com nosso desejo de que a sociedade funcione segundo o que nós achamos certo, em lugar de nos ocuparmos de viver segundo a vontade de Deus e de, amorosamente, lutar pelo direito de cada ser humano viver com dignidade e respeito em nossa sociedade… nosso evangelho terá se desviado do Evangelho de Jesus. Estaremos trilhando outros caminhos, não os dele. Os discípulos não sabiam que tipo de coração deveriam ter, mas aprenderam. E nós? Estamos aprendendo?