“E ele, tocando nos olhos deles, disse: Que lhes seja feito segundo a fé que vocês têm! E a visão deles foi restaurada. Então Jesus os advertiu severamente: Cuidem para que ninguém saiba disso.” (Mateus 9.29-30)
Esta é a narrativa que encontramos no evangelho de Mateus sobre a cura de dois cegos. Não a encontramos nos demais evangelhos. Porém, ela repete algo bem frequente nos milagres de Jesus: Sua advertência para que o milagre fosse mantido em segredo. E o texto, como em outros evangelhos, diz que Jesus “advertiu severamente”. Ao ver Jesus constantemente repreendendo as pessoas para que não divulgassem os milagres, penso sobre a natureza do testemunho cristão. E me pergunto se Jesus nos diria o mesmo hoje. A nós, que vivemos num mundo ultra conectado. Temos Instagram, YouTube, Facebook, WhatsApp, sites, blogs; para dizer os mais conhecidos. Claro, compreendo a perspectiva teológica do “segredo messiânico” presente nos evangelhos, mas acredito ser proveitoso refletirmos sobre nossa fé, presença e manifestações públicas.
Qual a natureza do testemunho cristão? Jesus no Sermão do Monte orientou sobre oração dizendo que não deveríamos, como faziam os fariseus, orar publicamente para sermos vistos. Mas entrar em nosso quarto e em segredo orar a Deus. Orientou que, ao jejuarmos, que o fizéssemos sem dar sinais de modo que outros pudessem perceber o fato de estarmos jejuando. Assim como a oração, o jejum deveria ser realizado de modo que somente Deus soubesse. E, diz Jesus, Aquele que vê em secreto recompensará. E quanto a bençãos? Deveríamos manter em segredo também, como Jesus mandou a tantos que curou e libertou? Não parece fazer sentido segundo nossa lógica atual. A benção é para ser contada! Afinal, temos que falar sobre o poder de Deus para que outros creiam! Devemos dizer às pessoas: Jesus Te Ama! Outro dia ví um outdoor que dizia: Deus é Deus! E se não fizéssemos mais isso? Não fizéssemos tanta propagando assim de Deus? E se ficássemos mais calados?
Eu sei, a mim também parece estranho. Mas, ao mesmo tempo faz muito sentido. Parece que as pessoas estão cansadas de ouvir palavras. Estão precisando ouvir vidas. E ouvir vidas não no sentido de ver pessoas perfeitas, mas ver pessoas que proclamam o Evangelho com suas atitudes, com seus atos. Jesus disse “amem”. Amem seus inimigos, tratem bem aos que lhes tratam mal. Sejam sal e luz! Vivam as Bem-Aventuranças! O testemunho das vozes parece está matando a mensagem. Porque faltam vidas e sobram palavras. Faltam compaixão, bondade, compreensão, misericórdia e graça. As vezes falta até sensatez! A imagem de Cristo e do Evangelho tem sido desfigurada e o problema não está em falhas morais de alguns líderes, embora isso seja um problema. Está na falta de beleza, graciosidade, saúde e humanidade na vida dos que dizem seguir a Jesus. Sobram palavras e faltam exemplos. Precisamos pensar sobre isso e rever nossa espiritualidade. E repensar nosso testemunho. Talvez Jesus esteja nos dizendo: “Cale-se! Se sua vida não declarar primeiro meu amor, você jamais conseguirá anunciar o meu evangelho!” É, talvez seja realmente hora de nos calarmos, e de começarmos a falar de verdade!