Introdução
A carta de Paulo a Filemon é uma das menores epístolas do Novo Testamento. No entanto, seu conteúdo nos ensina profundamente sobre perdão, reconciliação e a transformação das relações humanas à luz do evangelho. Nela, Paulo intercede por Onésimo, um escravo fugitivo que havia se convertido ao cristianismo. Através dessa intercessão, Paulo pede a Filemon que não apenas perdoe Onésimo, mas que o receba como irmão em Cristo. Esse pedido está diretamente relacionado aos aspectos práticos da oração ensinada por Jesus em Mateus 6.12: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.”
De acordo com os ensinamentos com TENNEY (2008):
“Esta carta contém todos os elementos do perdão: a ofensa (v.11,18), a compaixão (v.10), a intercessão (v.10,18,19), a substituição (v.18,19), a restauração (v.15) e a elevação para novas relações (v.16). Cada aspecto do perdão divino do pecado encontra eco no perdão que Paulo solicitou para Onésimo. Temos aqui uma lição prática sobre o pedido da oração: ‘Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores’ (Mt 6.12).” (TENNEY, 2008, p. 325)
Os elementos do perdão que Paulo solicita a Filemon refletem o perdão divino, mostrando como cada aspecto do perdão que recebemos de Deus deve ser espelhado em nossas relações com os outros. Este artigo destaca esses elementos, demonstrando como o perdão envolve compaixão, intercessão, substituição, restauração e elevação para novas relações.
1. A Ofensa (versículos 11 e 18)
Onésimo havia fugido de Filemon, provavelmente causando-lhe algum prejuízo. Paulo reconhece essa ofensa ao dizer que Onésimo era “inútil” antes de sua conversão: “Ele, antes, te foi inútil, mas agora é útil, tanto a ti como a mim” (v. 11). Ele também admite a possibilidade de prejuízo financeiro ou moral: “Se te fez algum dano ou te deve alguma coisa, põe isso à minha conta” (v. 18). O reconhecimento da ofensa é uma parte essencial do processo de perdão. No campo espiritual, isso simboliza nossa condição de pecadores perante Deus, que, apesar disso, nos ama e manifesta compaixão (Salmos 145.9).
2. A Compaixão (versículo 10)
A compaixão de Paulo por Onésimo é expressa de forma paternal: “Rogo-te por meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões” (v. 10). Paulo não vê Onésimo apenas como um infrator, mas como um novo cristão que merece uma segunda chance. Isso reflete a compaixão de Deus por nós, que, mesmo em nossa condição de pecadores, nos ama e nos chama a uma nova vida em Cristo.
3. A Intercessão (versículos 10, 18 e 19)
Paulo atua como intercessor entre Onésimo e Filemon, desempenhando um papel semelhante ao de Cristo como nosso mediador diante de Deus (I João 2.1-4). Ele apela ao amor e à misericórdia de Filemon, comprometendo-se a assumir qualquer dívida: “Se te fez algum dano ou te deve alguma coisa, põe isso à minha conta” (v. 18). Paulo reafirma sua oferta ao escrever: “Eu, Paulo, o escrevo de próprio punho: Eu o pagarei” (v. 19). Essa intercessão reflete a mediação de Cristo por nós, que assume nossa dívida e clama por nossa reconciliação com Deus (Hebreus 7.25).
4. A Substituição (versículos 18 e 19)
Paulo se oferece para substituir Onésimo no pagamento de qualquer dívida: “Se te fez algum dano ou te deve alguma coisa, põe isso à minha conta” (v. 18). Ele afirma pessoalmente: “Eu o pagarei” (v. 19). Essa substituição ilustra o conceito teológico da expiação, onde Cristo assume nossos pecados e se coloca em nosso lugar para pagar a dívida que não podemos pagar (I João 1.7).
5. A Restauração (versículo 15)
Paulo sugere que o distanciamento de Onésimo teve um propósito divino: “Porque bem pode ser que ele se tenha afastado de ti por algum tempo, para que o recobrasses para sempre” (v. 15). A restauração aqui não é apenas o retorno de Onésimo à sua condição anterior, mas a elevação para uma nova relação como irmão em Cristo. O perdão, tanto entre os homens quanto de Deus para o homem, inclui essa restauração de relacionamentos (Marcos 11.25-26).
6. A Elevação para Novas Relações (versículo 16)
Paulo vai além da simples resolução da ofensa, pedindo que Filemon receba Onésimo como “irmão amado” (v. 16), transformando a relação de senhor e escravo em uma fraternidade em Cristo. Este é o auge do processo de perdão: não apenas resolver a ofensa, mas transformar o relacionamento. Da mesma forma, o perdão divino nos eleva de pecadores a filhos e herdeiros do Reino de Deus (Efésios 4.32).
Considerações Finais
A oração “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” é vividamente ilustrada nesta carta. Paulo apela ao perdão que Filemon recebeu de Cristo como base para o perdão que ele deveria estender a Onésimo. Assim como Deus perdoa nossas ofensas, somos chamados a perdoar aqueles que nos ofenderam, restaurando o que foi quebrado e elevando o relacionamento a um novo nível de comunhão em Cristo.
Este estudo de Filemon mostra que o perdão não é apenas um ato de misericórdia, mas um processo transformador que envolve compaixão, intercessão, substituição, restauração e, finalmente, uma nova forma de relacionamento, tal como o perdão de Deus nos eleva a uma nova vida em comunhão com Ele.
Por Guilherme Henrique Madeira Sampaio.
Referências
BÍBLIA DO HOMEM. Tradução Omar de Sousa. 1ª ed. Santo André, SP: Geográfica Editora, 2010.
TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento sua origem e análise. Tradução Antonio Fernandes. Revisado por Walter M. Dunnett. – São Paulo: Shedd Publicações, 2008.