Quando eu era pequeno mamãe comprava maçãs para nós. Eram vermelhas, grandes, brilhantes, cheias de pontinhos claros, e a cada mordida uma delícia ao paladar. Parece que até sinto o gosto daquelas frutas tão viçosas e boas! Talvez fossem as conhecidas “manzanas argentinas”. Talvez fossem muito mais fáceis de serem encontradas nos mercados.
Hoje, se eu quiser uma dessas maçãs tenho que pagar uma fortuna, e digo, seja por manter em minha imaginação uma ilusão infantil, seja por realmente não se tratar da mesma espécie de fruta, não são tão gostosas quanto aquelas. Hoje há muita maçã nos mercados. Maçãs esverdeadas, toscas, ásperas, a maioria semi-azeda, com pouco suco e com preço accessível. Quando eu olho estas frutas tão comuns e tão diferentes das que encontrava em minha infância, penso: “o que fizeram das maçãs vermelhas e graúdas?”
Assim está o mundo evangélico de hoje.
Antigamente eram poucas as igrejas evangélicas. Elas eram pequenas e médias, estavam nos bairros. Os púlpitos pregavam a Jesus Cristo e o seu povo era convertido ao Senhor. Quem não andava nos caminhos de Deus era disciplinado. Seu povo era tido como íntegro, decente, generoso, de vida ilibada. A mensagem era a mesma por toda a parte, ainda que com as variações oriundas das denominações diferentes e da linha de ênfase pneumatológica. Pregava-se a Cristo. Podíamos recomendar aos evangelizados: “procure uma igreja evangélica mais próxima de sua casa”.
Mas hoje… Hoje é tempo de maçãs falsas e abundantes. Aliás, esta espécie dominante tirou do balcão das possibilidades as boas igrejas. Houve uma invasão do falso evangelho. Os clipes musicais são produzidos com roupagem esotérica explícita (assisti há pouco uma nova música, onde seus músicos estão num salão preto e com camisetas de cruzes brancas, numa imagem tétrica de transe; igualmmente uma cantora dessas famosas, fazendo performances de bruxaria, sinais e danças que conheço de outros tempos). Os seus corpos tatuados e as suas roupas imorais tornaram-se atrativo para ampliar o público. Os batismos, inclusive de grandes denominações, tornaram-se espetáculos patéticos, onde pastores, vestidos de verde e amarelo, fazem os convertidos mergulharem e depois gritarem em alvoroço aquático os seus vivas e espalharem água para cima, como crianças que se divertem em brincadeiras. Nada mais distante da ordenança sagrada e reverente do batismo!
Estar numa centenária denominação não garante um púlpito igualmente centenário. Pelo contrário, a cada dia mais e mais púlpitos aderem ao falso evangelho, pintam-se de preto, são trocados por latões, têm ministros cheios de auto-ajuda, mudam suas versões bíblicas para o consumismo das editoras que empurram traduções traiçoeiras e seu povo não passa de sócios de um clube religioso. Nem o romanismo e nem o protestantismo são diferentes nos seus espetáculos televisivos: se um louvor gospel católico for assistido, em praticamente nada se difere do evangélico, inclusive compartilhando músicos e cantores. A mensagem? Não é mais a do “ASSIM DIZ O SENHOR”. Hoje é “ASSIM NÓS QUEREMOS E É ASSIM QUE SERÁ”.
As maçãs vermelhas, graúdas e de boa procedência estão caríssimas e raras. Os bons cristãos e as boas congregações também. Quem tem uma macieira de raça, que saiba cuidar bem dela, pois no futuro poderá ser espécie em extinção. Quem é membro de uma igreja local, por pequenina que seja, ore e trabalhe para que o velho evangelho e a velha história da cruz e da ressurreição se mantenha presente, pois haverá época em que isto será extremamente raro; quando não inexistente…
Pr. Wagner Antônio de Araújo
Colunista deste Portal