Por uma pregação centrada na ética do Reino de Deus, cujo padrão é o Senhor Jesus Cristo. (Lucas 1.13-17; 3.1-20)
A pregação bíblica é a exposição do texto sagrado como ele é. Como ensinavam os reformadores, “a Bíblia interpreta a própria Bíblia”. Ler exaustivamente o texto em várias versões; interpretar corretamente o texto, aplicar à vida e explicar o texto com profundidade aos ouvintes são tarefas do pregador do Evangelho de Cristo. Esta era a realidade de João Batista, o precursor do Senhor Jesus.
O contexto de João Batista está em Lucas 3.1,2: “No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, Pôncio Pilatos era governador da Judéia; Herodes, governador da Galileia; seu irmão Filipe, governador da região da Itureia e de Traconites; e Lisânias, governador de Abilene; Anás e Caifás eram Sumo Sacerdotes. Foi nesse período turbulento que João começou o seu riquíssimo ministério. A pregar o arrependimento para o perdão de pecados. A sua pregação era com base nas Escrituras, objetiva e simples.
O Dr. Sheppard, no seu livro “O Pregador”, elenca as características do mensageiro comprometido com o Senhor: ‘A sinceridade, humildade, abnegação própria, honestidade, o otimismo, a seriedade, coragem e paciência’.
Nesta oportunidade, gostaria de, pela graça de Deus, repartir a mensagem que o Senhor por Sua graça e misericórdia me deu. Consideraremos o nosso contexto.
ABORDANDO O NOSSO CONTEXTO
A sociedade pós-moderna se porta assim: “Não nos falem de Deus. Não mencionem a palavra PECADO, muito menos a palavra CULPA. Não condenem o consumismo, pois sem ele ninguém se satisfaz e as rodas do comércio e do progresso param.
Não venham com esta história de que o casamento dura para sempre e que é só entre um homem e uma mulher. Por que não poderia ser entre um homem e outro homem, uma mulher e outra mulher?
Não nos incomodem com a questão do aborto; cada mulher tem o direito de não levar adiante a gravidez indesejada.
Não digam essas bobagens sobre sexo pré-conjugal, sexo extraconjugal e sexo conjugal. Vocês estão criando pessoas neuróticas. O sexo é um só, independente do casamento, de promessas, de alianças e de registro em cartório.
Não dificultem a pedofilia e acabem com essa restrição do sexo com adolescentes e com crianças. O que faz mal à criança não é o interesse por ela, mas o escândalo que vocês fazem.
Se vocês querem o nosso assentimento, inventem coisas que nos agradem. Deixem-nos sem senso de culpa, sem remorso, sem a necessidade de humilhação que o arrependimento produz. Temos uma doutrina, a doutrina do fórum íntimo. Ele nos é suficiente. Não precisamos de ninguém para nos dizer o que é certo ou errado. Não somos crianças. A nossa consciência nos basta, não precisa da intervenção de vocês. Soltem nossas rédeas, deixem-nos em paz, deixem que todas as coisas fiquem como estão agora.
Para falar a verdade, fechem as igrejas, queimem suas Bíblias, destruam os seus púlpitos e aposentem os seus ministros!
Não nos amedrontem com a velha história de que estamos abrindo uma brecha um muro alto e que, por causa dela, o muro vai desmoronar. Mesmo que tal aconteça, preferimos isso a perder nossa liberdade de fazer tudo o que nos ‘der na telha’!”
“Por não suportarem a pressão, teólogos e pregadores estão atendendo ao clamor das multidões. Quando não se omitem, pregam outro evangelho. Eles são corresponsáveis pela brecha do muro de proteção da verdadeira felicidade!” (CÉSAR, Elben Lenz Magalhães. – Ultimato, maio/junho, 2012).
CONSIDERANDO ALGUNS TIPOS DE PREGAÇÃO HOJE
Pregação positivista ou vitoriosa – É só vitória …
Pregação da prosperidade – Semeiem esperando a colheita…
Pregação da confissão positiva – Você pode, determina…
Pregação light –Não vamos falar em pecado, em natureza de Adão…
Pregação marqueteira – Eu tenho para você …produtos…projeção pessoal …
Pregação engraçada – Eu preciso fazer você rir o tempo todo …
Pregação autoritária – Eu preciso gritar, dando ordens, submetendo as pessoas …
Pregação pragmática – O que realmente “funciona”?
O QUE PODEMOS APRENDER DE JOÃO BATISTA?
O precursor de Jesus me impressiona pela sua coerência de vida. Era um homem comum, mas que foi designado por Deus para um trabalho extraordinário. Um homem sério com Deus, o Pai. Consciente de sua missão em relação a Jesus, o Filho. A sua nobre missão era preparar o caminho para o Senhor Jesus. João Batista era um homem do deserto, da intimidade com Deus. Para muitos era ele rude. Suas vestimentas e alimentação causariam constrangimento a muitos líderes e membros de nossas igrejas, mas ele era assim. Autêntico. Humilde em toda a sua expressão. “João disse a todos: Eu vos batizo com ou em água, mas vem Aquele que é mais poderoso do que eu, de quem não sou digno de desatar a correia das sandálias; Ele vos batizará com ou no Espírito Santo e com ou no fogo” (Luc 3.16). Reconhecia a autoridade de Jesus. Tinha temor e tremor no seu coração em relação ao Mestre. Era ele um homem ético. Profundamente íntegro. Não compactuava com o erro dos palacianos. Ele morreu, como o seu Senhor, de coerência. Foi decapitado por denunciar o adultério de Herodes Antipas com Herodias, a mulher de seu irmão Filipe. João conhecia a Lei de Deus acerca deste assunto (Lv 18.16; 20.21). Ele tinha a mente de Cristo, Ele era profundamente fiel.
Na contramão de muitos pregadores hoje, João Batista possuía uma mensagem com prometida com o caráter de Deus, como fruto da sua vida devocional, de sua intensa busca pelo Transcendente e Imanente. Possuía um múnus profético a partir da Revelação de Deus, da história dos Seus grandes feitos. Uma mensagem proclamada no poder do Espírito Santo. Um homem voltado para o alto e para dentro e, por isso, podia olhar com sensibilidade as mazelas do povo. João não era um frouxo; e nem mascote, e nem pregador politicamente correto, mas profeta de Deus, comprometido com a Sua verdade. Era ele revestido da coragem do Espírito. A sua mensagem vinha do Pai. Mensagem dura e que incomodava muita gente, Ele não buscava popularidade, mas o centro da vontade de Deus. Um profeta com a singularidade da chamada. Alguém disse sabiamente: “Eu não sei o segredo do sucesso, mas sei o segredo do fracasso: tentar agradar todo mundo”. Como homens de Deus, não estamos aqui para agradar todo mundo. Fazer média. É muito melhor ter uma corda no pescoço do que na barriga. Somos vocacionados para glorificarmos a Deus na edificação e salvação de vidas muito preciosas. João era comprometido com o caráter de Deus. A sua mensagem era marcada pela santidade de Deus. Era fruto de uma vida consumida no altar do Pai. Sua mensagem profética foi marcada pela consciência de missão. Nas palavras de Emilio Castro, citadas por David Bosch, missiólogo Sul africano, “Missão é a fundamental realidade da nossa vida cristã …Nossa vida no mundo é vida em missão”
O profeta-servo João deixa claro na sua relação com Jesus e na mensagem que proclamava, a verdade e a simplicidade do céu. Nos seus lábios estavam os fundamentos do Reino de Deus. O seu nascimento foi um milagre, pois sua mãe, Isabel, prima de Maria, mãe de Jesus, era estéril e idosa. “Mas não tinham filhos, pois Isabel era estéril, e os dois eram de idade avançada” (Lc l.7). Fora educado num lar judeu, mas veio pregar a graça de Deus em Cristo por meio do arrependimento. A sua missão foi profeticamente declarada em Lucas 1.16 cf. Ml 4.4-6: “E converterá muitos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus”. João era um pregador atual comprometido com a verdade da Revelação de Yahweh. Não brincava com o recado de Deus. Não usava mecanismos suspeitos ou pragmatismo religioso para conquistar o povo. Não buscava os confetes do povo e das autoridades civis e religiosas. Muitos o odiavam porque ele sempre falou a verdade. Morreu porque foi coerente.
Vivemos num tempo muito complicado. Fala-se pouco sobre o pecado hoje. Muitos pregadores acham que este assunto afasta as pessoas da igreja. Precisamos, à semelhança de João Batista, pregar contra o pecado, a imoralidade, a corrupção e todas as formas de erro. Pregarmos contra o jeitinho que relativiza as coisas. A nossa pregação deve ser fruto de convicções profundas a partir da Palavra de Deus. Pregação fundamentada no Senhor e na Sua Palavra. Proclamação que exala o caráter de Deus, o Pai. Como os verdadeiros profetas do passado, precisamos ser revestidos do poder do Espírito Santo. Não podemos, em hipótese alguma, negociar a mensagem profética, a proclamação cristocêntrica. Proclamar os valores do Reino de Deus revelados nas Escrituras. Stott diz que “o pregador é um despenseiro (1Co 4.1,2). O despenseiro é o empregado de confiança que zela pela correta utilização dos bens de outra pessoa. Assim, o pregador é um despenseiro dos mistérios de Deus, ou seja, da autorrevelação que Deus confiou aos homens e é preservada nas Escrituras”.
Se olharmos para a pregação de João, perceberemos o quanto ele foi muito firme em sua fé no Deus Soberano e Santo, e no seu compromisso com o ministério de Jesus Cristo. Foi chamado num contexto de muita tensão entre romanos e judeus na Palestina. O servo de Deus aparece no meio da crise “pregando o batismo de arrependimento” na plenitude dos tempos (Lc 3.3). Ele era o profeta proclamando a mudança e preparando o caminho do Salvador. João era o profeta do arrependimento profundo para a remissão de pecados. A profecia de Isaias (40.3-5) se cumpriu nele de forma plena. João não media as palavras. A sua pregação era dura e firme. Não era popular. Ele denunciou a natureza das pessoas – de víbora, de serpente (Lc 3.7). No verso seguinte, ele ordena que as pessoas produzam “frutos dignos de arrependimento” (v. 8). Para João, ser filho de Abraão ou ser religioso, não garantia a salvação (v. 8). Ele proclama o juízo de Deus (v. 9). O resultado da mudança de vida era a ética de Deus na vida. O filho de Deus tem o caráter do Pai. E isto só acontece a partir da experiência com Cristo.
Depois de sua mensagem tão profunda e clara, o povo é tomado de temor e tremor. A mensagem do evangelho enseja mudanças radicais e supre as carências do homem. As multidões que ouviam João perguntaram: “Que havemos, pois, de fazer? (Lc 3.10). As obras seguem a fé. A nossa fé em Cristo implica no compromisso com Deus e com o próximo. Ao primeiro grupo, João diz: “quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo” (Lc 3.11). Aos publicamos, cobradores de impostos, Ele exorta: “Não cobreis mais do que o estipulado” (Lc 3.13). Aqui entendemos por que Zaqueu estava disposto a devolver o produto da defraudação. João deixa claro que o evangelho da graça muda as pessoas por completo e as faz sensíveis às carências do próximo. É o evangelho integral. O evangelho de Jesus muda as pessoas de injustas para justas; de desonestas para honestas; de mentirosas para verdadeiras; de hipócritas para sinceras; de egoístas para liberais e de arrogantes para humildes. Mas ele vai adiante e trata de um terceiro grupo que é dos soldados. Eles perguntam: “E nós, que faremos?” (Lc 3,14). A resposta do profeta é incisiva: ‘A ninguém maltrateis, não deis denúncia falsa e contentai-vos com o vosso soldo” (salário de militar) (Lc 3.14). O evangelho diagnostica e dá o prognóstico, revelando a suficiência de Cristo como a solução. Há contentamento no coração do militar que tem uma profunda experiência com Cristo, que experimenta o novo nascimento (2Co 5.17).
João na sua pregação magnífica deixa claro que ele não é o Cristo. É parecido com Ele. Ele exorta acerca do ministério do Senhor Jesus por meio do Espírito Santo e tem a capacidade de reconhecer que não é digno de desatar-lhe as correias das sandálias (Lc 3.16), que era o trabalho de um escravo. É maravilhoso ver João reconhecendo o Senhorio de Cristo sobre a sua vida. Ele proclama o juízo de Deus por meio do Seu Filho Amado (Lc 3.17). Como João, devemos buscar parecer-nos com Jesus e anunciarmos o juízo de Deus. João sempre foi coerente em sua pregação. Ele não temia conquanto que cumprisse a missão para a qual Deus o havia chamado, João é o príncipe dos pregadores. Um homem totalmente comprometido com a ética do Reino de Deus. Um homem voltado para as coisas do alto e não para si mesmo. Um profeta obediente a Deus.
Pela graça de Deus, gostaria de encerrar colocando alguns insights do Dr. Martin Lloyd Jones…. “A preparação cuidadosa e a unção do Espírito Santo jamais devem ser consideradas como alternativas, e, sim, como fatores que se complementam mutuamente… João falava de tal maneira que as pessoas caíam sob profunda convicção de pecado… No entanto, João tinha plena consciência do caráter meramente preliminar do seu ministério, e sempre ressaltou que o mesmo era apenas preparatório – ‘Eu não sou o Cristo’, dizia ele… mas vem o que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias”(Lc 3.16).
João Batista honrava e honra o Senhor Jesus. Na contramão de muitos pregadores hoje, ele queria que Jesus crescesse e ele, diminuísse. Ele não compactuava com os erros dos líderes políticos e nem dos religiosos. Não fazia conchavos com eles. Rejeitava veementemente a imoralidade deles. Foi odiado porque amava mais o Senhor do que a si mesmo. O que falta em muitos pregadores hoje é o compromisso com a ética do Reino de Deus. Falta mais intimidade com Deus no deserto. Estamos carentes de homens de um só ministério – o ministério da Palavra. Precisamos de homens que invistam mais tempo na oração, na leitura meditativa da Palavra, no exame da sociedade imediata e distante à luz das Escrituras e no contato amoroso com o povo. Profetas cujo objetivo maior é a glória de Deus.
Pr. Oswaldo Luiz Gomes Jacob
Colunista deste Portal