Este é um dos menores versículos da Bíblia (João 11.35), mas encerra em si mesmo a expressão da humanidade de Jesus de Nazaré. O Senhor era 100% homem e 100% Deus. Como homem, revelou uma emoção positiva. Ele havia perdido Lázaro, seu grande amigo. Posteriormente, Ele haveria de ressuscitá-lo. Como homem, Ele chorou a perda temporária e como Deus operou a ressuscitação. Como homem, chorou diante da morte. Como Deus, venceu a morte. Como homem, o Senhor Jesus teve fome, sede, chorou, ficou irado e foi tentado (Mateus 4.1-11).
Ao olharmos para a emoção de Jesus, somos desafiados a chorarmos mais profundamente diante das perdas na vida. A nossa natureza humana, contaminada pelo pecado, é degenerada, frágil e com grande vulnerabilidade. O choro de Jesus nos revela o Seu amor por Lázaro e por todos nós. O Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, expressando também a Sua glória (João 1.14). Ele é o Cristo de Deus, Salvador e Senhor dos que creem. O choro de Jesus deve sempre nos levar a sentirmos as mazelas do próximo e a chorarmos com ele.
Jesus chorou – uma pequena frase, mas cheia de significado. Profundíssima. As entranhas do Mestre foram sacudidas pelo amor que tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta; o amor que jamais acaba (1 Coríntios 13.4-8). O chorar do homem Jesus nos remete à sensibilidade com os mais fracos, os desqualificados, párias da sociedade, rejeitados por esta sociedade espartana ou seletiva. Somos chamados à empatia, a agirmos com graça na vida dos que sofrem. A não nos omitirmos diante das catástrofes que temos visto em nossos dias tão nebulosos.
O choro de Jesus não foi para agradar as irmãs de Lázaro e aos Seus discípulos, mas foi uma expressão de amor grandioso e incomparável pelo ser humano. As entranhas do Mestre sempre foram sensíveis aos cansados e oprimidos (Mateus 11.28-30). Devemos chorar diante dos cataclismos no mundo que dizimam milhares de pessoas; ao vermos as vítimas de bala perdida, estupro, assaltos, feminicídios, abusos, da fome, injustiças das mais variadas, uma doença incurável, sofrimento nos hospitais públicos. Choramos ao vermos os milhões de desempregados. Choramos indignados com a corrupção do ser humano, com o crime organizado, tráfico de drogas, as crianças iniciadas nas drogas, pedofilia. Somos tomados de emoção ao vermos os nossos adolescentes e jovens escravizados por um sistema vazio, fútil, altamente pernicioso e destruidor. Sim, choramos diante do caos social, das nossas instituições cheias de pessoas desqualificadas, moralmente reprovadas. Choramos ao vermos o desprezo aos nossos idosos. Choramos ao vermos o desrespeito com natureza tão bela, com o ecossistema em processo de destruição, falência.
O choro do Salvador, a Sua forte emoção, deve ser para nós uma inspiração à sensibilidade com os menos favorecidos. Conduzir-nos a atitudes e ações propositivas. A práticas recorrentes de solidariedade. A forte emoção de Jesus nos remete a uma vida mais rica de relacionamentos éticos e transformadores. O Mestre nos chama ao arrependimento, à fé e à obediência incondicionais. Ele nos convoca a uma mudança radical em nossos contextos. Precisamos de mais gente que chora a sua condição pecaminosa (Mateus 5.4) e também diante das mazelas do mundo. Sim, Jesus chorou. Que belíssima manifestação de amor ao amigo Lázaro e a nós. Senhor nos faça chorar de tristeza pelos que sofrem, pelos que fracassam, e de alegria pelos que conseguem superar suas enormes dificuldades na vida.
Pr. Oswaldo Luiz Gomes Jacob
Colunista deste Portal