Evitando a dicotomia entre a teoria e a prática

54

O pastor era novo na comunidade. Estava naquela fase de conhecer as pessoas e ser conhecido por elas. Após alguns meses, percebeu que uma das necessidades mais prementes da congregação era a efetiva demonstração de amor entre os irmãos. Assim, decidiu que pregaria sobre “O dever cristão de amar uns aos outros”, conforme I João 3.11-18.

O novo líder fez isso um domingo, dois, três… Na quarta vez, uma pessoa lhe disse: “Parece que o pastor tem alguma dificuldade com pregação, pela quarta vez pregou o mesmo sermão”. Com muito amor, o obreiro falou: “O irmão acha que nossa igreja está praticando esse mandamento? Até que tal aconteça, pregarei a mesma mensagem”.

Essa história evidencia um dos maiores desafios do cristão. Temos muita pregação, ensino, louvor, retiros, congressos e conferências. Enfim, encontros de todo tipo, mas isso não tem provocado mudança efetiva no estilo de vida das pessoas. Em nosso meio, temos teoria de sobra e pouca prática da Palavra de Deus.

O que o pastor da história acima fez foi estabelecer um foco, um objetivo prático e investir nele até ver resultados claros. Isso é o que devemos fazer, trabalhar com sinergia, concentrando forças em um ponto até ver os frutos. Significa ter todas as ações da igreja “batendo na mesma tecla” por um certo período, monitorando os resultados.

Especialistas ensinam que ninguém assimila um comportamento por ouvir, ler ou ver aquilo meia dúzia de vezes. Incorporar um hábito requer a sua prática por, no mínimo, vinte e um dias. Muitas vezes nós esperamos que as pessoas experimentem uma mudança de conduta ouvindo apenas um sermão! Isso é utopia.

Para alguns dos seus seguidores, o Cristianismo se tornou um sistema, um conjunto de doutrinas e princípios éticos que, embora tidos como verdadeiros, não ganham expressão na vida diária. Desse modo, temos uma anomalia: cremos nas coisas certas, mas não convertemos essa crença em atitudes práticas.

As consequências da dicotomia entre o que afirmamos crer e o que efetivamente vivemos têm produzido uma geração de céticos nas igrejas. São aquelas pessoas que perderam a sensibilidade, o que elas escutam não as afeta mais, uma vez que não vinculam os princípios do Evangelho ao seu comportamento nas diversas situações da vida.

No Evangelho de Lucas 6.47-49, Jesus compara a pessoa que ouve reiteradas vezes a Palavra de Deus e não procura viver de acordo com ela a um construtor insensato, que edifica a sua casa sem um fundamento sólido e, assim, ao chegar a tempestade, a construção é levada pela força das águas.

Quando ouço sobre alguém que tenha lido toda a Bíblia dezenas de vezes eu acho isso muito bom, mas fico a me perguntar sobre o quanto do texto sagrado essa pessoa já tem assimilado na sua vida diária.

No topo das preocupações de um líder espiritual deve estar a prática dos princípios bíblicos por parte dos seus liderados. Se todo o programa desenvolvido pela igreja não atinge esse objetivo, então é preciso reavaliar tudo o que fazemos.

Pr. Joarês Mendes de Freitas – Extraído da Revista Comunhão.

Deixe uma resposta