Nos últimos dias, alguns evangélicos têm afirmado, nas redes sociais, que o ator Paulo Gustavo está sendo castigado por Deus, visto que seu comportamento afronta à Palavra do Senhor, tudo porque em um dos seus vídeos ele relativizou Deus e a Bíblia.
Bem, será isso mesmo? Será que Deus resolveu punir o ator com o coronavírus por seu comportamento ou por aquilo que ele disse?
Bem, ainda que eu entenda que o nome de Deus é santo (Isaías 6:1-3) e que com ele não devemos brincar, visto que as Escrituras testemunham dizendo que ele é “fogo consumidor” (Hebreus 12:29), é mister que entendamos que o fato de Paulo Gustavo (ou qualquer pessoa) ter contraído coronavírus não significa efetivamente juízo de Deus, até mesmo porque, a Bíblia nos ensina que a chuva cai sobre todos (Mateus 7:24-27) e que os homens, independente de sua fé, passam por lutas e aflições. Se não fosse assim, nenhum crente em Jesus teria falecido desta terrível doença, não é verdade? Contudo, todos os dias recebemos notícias de homens e mulheres de Deus que sucumbiram devido à Covid-19.
TEOLOGIA DO CASTIGO
Um outro fator que precisa ser levado em conta é o equívoco daquilo que chamo de “teologia do castigo”.
Lamentavelmente, para os defensores da teologia do castigo, Deus costuma julgar os homens, aqui e agora, em virtude dos seus inúmeros pecados. Segundo os advogados desta linha de pensamento, o Senhor amaldiçoa os moradores da terra devido às suas iniquidades.
Lembro que, quando Porto Príncipe foi destruída por um terremoto, muitos cristãos afirmaram que isso aconteceu porque parte dos haitianos praticavam o vodu. Na tragédia do Morro do Bumba, no Rio de Janeiro, dezenas de pessoas morreram, e foi dito que Deus pesou a sua mão devido ao Carnaval do Rio de Janeiro. Todavia, a pergunta é: será que toda tragédia ou mesmo doença é sinal de castigo de Deus?
Em Lucas 13:1-9, o Senhor Jesus trata de forma clara e objetiva de dois tipos de tragédias:
A primeira que ele menciona é aquela que é gerada por homens. Certos galileus haviam sido mortos por soldados de Pilatos. A Bíblia nos dá a entender que “alguns” colocaram-se como críticos e juízes, deduzindo que aqueles que haviam sofrido violência humana seriam mais pecadores do que os demais. O ensino ministrado por Jesus é o seguinte: Não vamos nos colocar no lugar de Deus. Não vamos nos concentrar em um possível juízo ou julgamento sobre as vítimas. O Senhor em essência diz: Cuidem de si mesmos! Constatem os seus pecados! Arrependam-se!
Entretanto, Jesus também nos traz o relato de um segundo tipo de tragédia. São tragédias geradas por aparentes “fatalidades”. Ele fala da Torre de Siloé. O texto diz que ela desabou, deixando 18 mortos. Jesus sabia que mesmo quando, aos nossos olhos, mortes ocorrem como consequência de acidentes, isso não impede que rapidamente exerçamos julgamento; não impede que tentemos nos colocar no lugar de Deus. E Jesus pergunta: “Acham que eram mais culpados do que todos os demais habitantes da cidade?” O ensinamento é idêntico: Não se coloquem no lugar de Deus; não se concentrem em um possível juízo ou julgamento sobre as vítimas; cuidem de si mesmos! Constatem a sua própria culpa! Arrependam-se!
Diante do exposto, considero extremamente equivocado, arbitrário e difamatório afirmar que Deus resolveu castigar o ator Paulo Gustavo com o coronavírus em virtude de seus pecados.
Junta-se a isso o fato de que, em nenhum momento, as Escrituras Sagradas nos mostram a existência de um “deus infantilizado” que se deixa levar passionalmente pelos rompantes humanos. Deus é Deus, e seus planos já foram estabelecidos antes da fundação do mundo.
As Escrituras nos mostram que Deus está no controle de todas as coisas. Nosso Deus reina soberanamente sobre a humanidade. Nosso Senhor tem em suas mãos o poder da vida e da morte e faz tudo acontecer debaixo dos seus propósitos eternos, e nada pode surpreendê-lo.
Ademais, haverá um dia em que todos os homens se apresentarão diante do Senhor, e, diante do grande trono branco, a humanidade prestará contas ao Senhor pelos seus atos, atitudes e palavras (Apocalipse 20: 11-14). Aquele que tiver o seu nome escrito no livro da vida desfrutará da vida eterna na nova Jerusalém. Já aquele que não foi salvo por Cristo será condenado ao lago de fogo e enxofre por toda a eternidade.
Pr. Renato Vargens
Pastor e Conferencista