Ter o tema da comunhão como referência para o texto de hoje é muito pertinente, especialmente quando consideramos que boa parte das demandas psicológicas, atualmente, é marcada pelos conflitos familiares oriundos das diferenças individuais.
Isso tem ocorrido, em parte, porque estamos perdendo a habilidade de nos comunicar e, consequentemente, nos relacionar pessoalmente. Creio que a digitalização das relações, devido ao uso desenfreado das redes sociais, vem prejudicando a natural capacidade humana de se adaptar aos diferentes contextos e relacionamentos.
O principal desses contextos é o da família. Atualmente, por causa das constantes transformações tecnológicas e culturais, somadas ao fácil acesso às informações, os membros da casa estão mais distantes. São filhos que pouco conversam com os pais e até cônjuges que mal se olham, embora durmam na mesma cama.
O que dizer, então, quando além dos pais e filhos, também moram no mesmo lar outras pessoas, como avós, tios, genros, primos etc. Em alguns casos, a casa é como uma verdadeira república, tornando as diferenças entre os moradores ainda mais gritantes e problemáticas.
Empatia
Quando vivemos em um contexto de diferenças familiares, a primeira coisa que devemos exercitar é a empatia. Isto é, ter a capacidade de nos colocar no lugar do outro, buscando enxergar e sentir o mundo como ele.
Em 1 Pedro 3:8, por exemplo, consta que devemos ser “todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis.” Ser empático equivale a ter “o mesmo sentimento”.
Erra, portanto, quem exige que o outro seja igual no sentido de abdicar das suas próprias características. Isso não é empatia, mas desrespeito às diferenças individuais que naturalmente fazem parte da humanidade.
Muitos conflitos de convivência familiar decorrem da falta de respeito com relação às diferenças, e aqui não me refiro a atitudes erradas à luz do Evangelho, mas a características de personalidade que são individuais e, por isso, devem ser respeitadas e valorizadas.
Aceitação
Uma vez que entendemos as diferenças do outro como algo intrínseco à sua personalidade, o que devemos exercitar é a aceitação. Neste sentido, tomemos “aceitar” como comungar, o mesmo que participar e estar junto das pessoas da forma como são – ou seja, em comunhão!
Não por acaso, a passagem de 1 João 1:6-7 associa comunhão ao tipo de relação que mantemos com Deus. Se temos isso com Ele, consequentemente temos com o próximo, porque o primeiro a nos “aceitar”, ainda como pecadores, foi o Senhor.
A resposta do Evangelho para a comunhão humana é nos dar a capacidade de sentar à mesa com o diferente, e ali ter uma refeição. A Santa Ceia exemplifica isso, assim como a experiência da Igreja Primitiva registrada em Atos 2:41-47, e tudo isso envolve empatia e aceitação.
Conclusão
Se você atravessa conflitos familiares devido às diferenças individuais, busque exercitar a empatia, tomando o exemplo de Cristo, que soube diferenciar dos pecados as características positivas da personalidade.
Sentem-se à mesa, comam juntos, falem sobre os pontos positivos e ruins do dia, perdoem-se, assistam a um bom filme e façam devocional em família, orando uns pelos outros. Essas, sim, são as marcas que devem caracterizar a família.
Marisa Lobo é psicóloga, especialista em Direitos Humanos, presidente do movimento Pró-Mulher e autora dos livros “Por que as pessoas Mentem?”, “A Ideologia de Gênero na Educação” e “Famílias em Perigo”.