Se existe algo que produz esgotamento espiritual até mesmo em pessoas que procuram manter um íntimo relacionamento com Deus, é quando pedem por longos períodos uma coisa que consideram imprescindível e não conseguem uma resposta satisfatória. Por que o Senhor não me ouve, ó Deus? Quem nunca pronunciou uma frase como esta na hora da angústia?
Em primeiro lugar é preciso compreendermos que a petição é apenas um aspecto do relacionamento que procuramos desenvolver com o Eterno. Como você se sentiria se alguém lhe procurasse apenas para lhe pedir um favor? Para determinadas pessoas as palavras “orar” e “pedir” são sinônimas. Deus é um ser pessoal. Ele não pode ser rebaixado a uma condição de um mero detentor de energia ou força, ainda que extraordinária. Como ser imanente, deseja estar conosco e participar de nossos variados momentos e experiências, sejam bons ou ruins. O primeiro milagre de Jesus não foi em um lugar místico, litúrgico ou visitando um moribundo à beira da morte, mas numa festa de casamento, transformando água em vinho. Ele só estava lá porque possuía uma afinidade com os noivos e seus familiares. Fazia parte do rol de amizades daquela família. Orar significa desenvolver um diálogo, uma conexão com o Senhor através da qual vamos compartilhar acontecimentos, sonhos e idealizações. O fator preponderante nessa conversa não deve ser apoiado naquilo que se pode obter dele, mas, tão somente no privilégio de gozar de sua doce e inigualável companhia.
Outro aspecto é compreendermos que o Criador não está sujeito ao tempo humano. Alguns servos serão atendidos imediatamente em suas petições, enquanto outros, após anos e até décadas de insistência. Isaque pediu a Deus que operasse um milagre na vida de sua esposa Rebeca que era estéril. Ele só foi atendido vinte anos mais tarde, entretanto, a bênção veio dobrada, pois ela engravidou de gêmeos (Gn 25.20,21 e 26). Por que tanta demora? Não sabemos, mas, cremos que Deus não se atrasa. Ele faz as coisas no tempo exato. Ainda haverá aqueles que infelizmente jamais obterão um sim como resposta a sua súplica, no entanto, mais uma vez, devemos confiar no gerenciamento do Pai sobre nossas vidas. A resposta para o grande apóstolo Paulo diante de um incômodo que ele chamou de “o seu espinho na carne” foi: a minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza, ou seja, confie em mim, ainda que eu negue definitivamente sua petição (II Co 12.7-10).
O fator tempo de espera elevado não pode servir de parâmetro ou sinal da parte de Deus de que a sua resposta a determinado apelo será negativo, exceto se deixar isto muito bem claro para nós através de outros sinais. Muitos desistem, se frustram ou simplesmente cansam e se esgotam por avaliar tardio o tempo de resposta. No sermão do monte, Jesus disse o seguinte sobre a importância quanto a perseverança na oração:
“Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á. E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” (Mt 7.7-11)
Outro motivo bastante comum que pode nos levar a desistir de nossas petições é percebermos a pequenez de nossa fé, principalmente, quando percebemos que na maioria dos milagres operados por Jesus, ele sempre dava ênfase à fé de seus agraciados. No entanto, esse também não deve ser motivo para desistências, pois, apesar de nossa fé muitas vezes se demonstrar vacilante, podemos apelar para as misericórdias do Pai que se renovam a cada manhã e podem ser uma forte aliada nas horas difíceis (Lm 3.22; Sl 77.9, 147.11).
Poderia citar várias experiências de homens e mulheres que, após perseverarem na oração, obtiveram a vitória, mas, citarei apenas a de Ana, mãe de Samuel (I Sm 1). A Bíblia não revela quanto tempo essa mulher levou orando. A cada ano que ela ia a Siló com seu marido para adorar a Deus e oferecer sacrifícios, mantinha o fervor em sua petição até que o Senhor atendeu a sua oração e abriu sua madre.
Portanto, se não estamos pedindo mal, como alertou Tiago em sua carta, devemos continuar insistindo, a exemplo de Ana, e não esmorecermos em nossas forças, pois a nossa bênção chegará em momento oportuno, pois Ele é galardoador daqueles que o buscam (Tg 4.3; Hb 11.6).
Por Juvenal Oliveira Netto
Colunista deste Portal