Recentemente, a cantora gospel Camila Campos, de 29 anos, anunciou que está com câncer de mama em estágio avançado de metástase. Casada com o ex-zagueiro Léo, que atuava no Cruzeiro, ela está grávida de sete meses da segunda filha, Sophia. Eles já são pais de Bela, de 2 anos e meio, e anunciaram a nova gestação em fevereiro.
De acordo com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), uma a cada três mil mulheres grávidas pode ser diagnosticada com câncer de mama. Embora pouco frequente, é o tipo de tumor maligno mais comum diagnosticado na gravidez, sendo o que mais causa morte em mulheres grávidas ou lactantes.
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) revela que o câncer de mama é o mais incidente (depois do de pele não melanoma), com 74 mil novos casos previstos por ano até 2025. A informação está no relatório “Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil”, elaborado pela instituição.
O oncologista Augusto Takao Akikubo Rodrigues Pereira explica que o sintoma mais comum do câncer de mama é a presença de nódulo palpável na mama que persiste por mais de duas semanas. Em alguns casos, podem aparecer alterações na pele, como edema ou feridas e linfonodos axilares palpáveis. No entanto, “as alterações hormonais que ocorrem durante a gestação tornam as mamas mais densas e sensíveis, o que pode mascarar os sintomas da doença”, diz o médico da Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo.
Segundo o especialista, o câncer de mama na gestação pode levar a complicações tanto para a mãe como para o bebê: aumento do risco de trombose, aborto espontâneo, insuficiência hepática ou respiratória, entre outros. Além disso, “os exames diagnósticos e tratamentos contra o câncer podem também induzir má formações no feto”.
Augusto salienta que o câncer de mama diagnosticado na gravidez é considerado condição clínica de alto risco de complicação materno-fetal. É necessário, portanto, acompanhamento multidisciplinar durante o pré-natal.
“O fato de as mulheres estarem cada vez mais tendo gestações em idades mais tardias aumenta o risco do diagnóstico durante o período da gestação”, observa e acrescenta: “Por isso, é importante estar com os exames de rastreamento em dia, antes de uma gestação, principalmente em idade acima de 40 anos”.
O médico explica que a gestação não é considerada fator de risco para o câncer de mama, mas como pode confundir o diagnóstico precoce, e muitas mulheres deixam de fazer o rastreamento durante esse período, os tumores, geralmente, são diagnosticados em estágios avançados. “Quando há suspeita da doença, o exame inicial de escolha é o ultrassom de mamas, que não utiliza radiação ou contraste”.
Tratamento
O oncologista diz que é possível realizar o tratamento do câncer de mama durante a gestação. importante É importante, entretanto, avaliar os riscos para a mãe e para o bebê. “Deve-se evitar o início do tratamento no primeiro trimestre da gestação, pois é a fase mais crítica no desenvolvimento do feto”.
Augusto ressalta ainda que, quando é possível esperar, existe a possibilidade de cirurgia ou até alguns tipos de quimioterápicos a partir do segundo e terceiro trimestres. “Radioterapia, exames radiológicos e contrastes venosos devem ser evitados, por causa do risco de complicações fetais”.
Fatores e prevenção
Augusto elenca como fatores de risco para o câncer de mama: idade, principalmente acima de 50 anos, menarca precoce, menopausa tardia e primeira gestação após os 30 anos. Além disso, nuliparidade, terapia de reposição hormonal, ingestão de bebidas alcoólicas, obesidade, sedentarismo e fatores hereditários.
Como medidas que podem prevenir o câncer de mama, Augusto indica adotar alimentação rica em frutas e verduras, praticar atividade física, evitar ou reduzir o consumo de bebidas alcoólicas, evitar terapias de reposição hormonal e manter o peso corporal adequado. “Quanto mais inicial é o diagnóstico da doença, maiores as chances de cura da paciente”, conclui o oncologista.
Angústia e medo
Receber um diagnóstico de câncer de mama impacta a vida de qualquer mulher, ainda mais quando a revelação é feita no período da gestação. Em um primeiro momento, segundo a psicóloga Ana Lúcia Rodrigues, ela fica incrédula. Depois vêm tristeza, ansiedade, medo, raiva, inquietação, insegurança. “A luta será contra a doença e contra pensamentos recorrentes, como a possibilidade iminente de morte e a preocupação de como será o tratamento, por exemplo, sendo um momento de intensa angústia”.
Ana Lúcia lembra que, devido à descarga de hormônios, também é comum a gestante sentir cansaço e desânimo. Isso porque esse período da vida da mulher interfere nas emoções. Então, quando a gestante sofre de câncer de mama, precisa de atenção redobrada dos familiares e ajuda de profissionais multidisciplinares.
“As sensações vividas por ela dobram de intensidade. Além das emoções corriqueiras da gestação, existe a preocupação com o bem-estar do bebê, que está em formação, além, muitas vezes, da inquietação em adiar ou não o tratamento, conforme orientação médica”, pontua a psicóloga.
No entanto, de acordo com Ana Lúcia, a gestante deve confiar e seguir todas as instruções, os aconselhamentos e os procedimentos sugeridos pelos médicos. “É importante, também, o tratamento psicológico, para ajudá-las nas questões emocionais, dando suporte para lidar com todas as decisões inerentes ao tratamento e à gravidez”.
Acolhimento e fé
Ana Lúcia recomenda algumas ações para amenizar as sensações angustiantes. “Atividade física, boa alimentação, aderência ao tratamento, confiar nos médicos, administração correta das medicações”. Além disso, ela diz que o acolhimento da família e amigos é fundamental. “Entretanto, é aconselhável que os familiares tenham uma rede de apoio, já que também sofrem o impacto do delicado momento”.
A psicóloga recomenda nutrir a fé com oração e leitura bíblica, além de hábitos como assistir a cultos, conversar com pessoas de confiança que compartilham da mesma religião e ainda buscar testemunhos de pessoas que ficaram curadas. “Essas iniciativas amenizarão o sofrimento e proporcionarão paz e esperança para a superação dessa difícil fase”, frisa Ana Lúcia.
Por Patricia Scott