Nos anos 2020 e 2021, no auge da pandemia da COVID-19, apareceram no cenário evangélico alguns futuristas com prognósticos de esperança para as Igrejas, que viam com desespero, o esvaziamento dos templos. Algumas trocaram seus bancos por cadeiras, na tentativa de minimizar o impacto sobre os membros que restaram. A previsão era que finda a pandemia os que abandonaram os cultos e os templos, voltariam em grande número, saudosos da comunhão com os irmãos que ficaram. Ocorreria um verdadeiro avivamento espiritual, atraindo inclusive não salvos ao aprisco do Senhor.
A pandemia não terminou. Deixando sequelas em muitos que fomos conta- minados pelo vírus fatídico. Uma das sequelas que ficou foi o esquecimento de certos fatos gravados na memória. Sair de casa e não saber voltar à residência. Aconteceu comigo. A perda da noção de tempo. Os médicos consultados não sabiam o que prescrever para eliminar os resultados deixados. O meu oftalmologista, em tom de brincadeira, disse que havia esquecido a esposa. Talvez, por não acreditar no que lhe dizia. Aqueles que acreditaram em ver Igrejas repletas com o retorno dos que foram embora, não conseguiram vencer ainda a frustração do não retorno de algumas ovelhas queridas. Foram embora e não voltarão jamais. Compreender o acontecido não é tarefa fácil. Consola-nos o fato de que até Jesus, em alguns momentos do seu ministério terreno, também foi abandonado por parte dos Seus discípulos.
O texto de João 6.60-71 explica por- que as pessoas abandonaram o Mestre. A ação de Jesus nos proporciona lições importantes para os nossos dias. Por que as pessoas abandonam a Igreja do Senhor? Algumas abandonaram Jesus por considerar seus sermões duros. “Duro é este discurso: quem o pode ou- vir?” (v. 60). Nem sempre o sermão é fácil de ser ouvido. O sermão de Jesus era diferente daquela água com açúcar repetido nas sinagogas. O que Jesus disse? “Que era necessário comer da sua carne e beber do seu sangue (v. 51). Nem sempre o ouvinte está disposto a comer o pão da vida. Prefere leite desnatado pregado pelos pregadores da mídia televisiva. Sem compromisso doutrinário. Prefere louvor sem doutrina, sem métrica aos hinos que ensinam a boa doutrina, que leva o salvo a meditar nas verdades bíblicas.
Paulo, o apóstolo, enfrentou a mesma dificuldade em Corinto. Apesar do tempo, os ouvintes não estavam preparados para receber alimento só- lido. Preferiam louvor sem doutrina, repetitivos, que não produz edificação (I Coríntios 3.1-2). O apóstolo afirma não poder oferecer manjar às ovelhas. Como é triste não poder oferecer os deliciosos manjares da Palavra de Deus às ovelhas. Crentes que não crescem espiritualmente e limitam a ação do Espírito Santo na vida da Igre- ja. Gostam de sermões sem doutrinas, sem vida, onde o pregador se perde na mensagem contando estórias, sem sentido e às vezes inverídicas. O povo delira com os pseudos milagres vividos pelo pregador. Anjos que aparecem e ajudam a trocar pneus furados. Onde não há doutrina, tudo é válido. Os ouvintes se escandalizavam com as mensagens de Jesus. Razão simples: havia conteúdo. Por isso Je- sus pergunta: “Isto escandaliza-vos?
Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava? (v. 62). O Mestre revela-nos que muito do que tinha a dizer, não foi possível fazê-lo, pela incapacidade dos seus ouvintes compreenderem as Boas Novas anunciadas por Jesus. Ele já havia dito aos discípulos, em particular: “Ainda tenho muito que vou dizer, mas vós não o podeis suportar agora” (Jo 16.12). A esperança é que Jesus deixou ao Espírito Santo a missão de aprofundar o nosso conhecimento a respeito de Jesus. Mas, tristemente o que o Espírito Santo nos revela e nos estimula a crer, é algo mui pequeno do que podemos saber”. “Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade (João 16.13), porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.” Quem ouve a voz do Espírito Santo, não abandona a Igreja de Cristo e não domina a Igreja do Senhor, como se fosse propriedade humana. Em matéria do Espírito Santo somos mais do que ignorantes.
Pr. Julio Oliveira Sanches