A pressa é só nossa, não dos outros. A emergência importa só para nós, não aos outros.
Quando a barriga ronca de fome, a garganta nos seca de sede, o corpo treme de frio e o peito se enche de dor pela solidão experimentada, não sensibilizaremos a mais ninguém no grau e na proporção em que sentimos a nossa necessidade.
Na fila de atendimento do hospital, com dores, com febre, com fadiga, a emergência é só nossa; não nos colocarão à frente, a menos que seja necessário para não serem processados.
Ao pé do telefone, esperando por uma resposta da empresa que ficou de nos ligar, só nós temos pressa, só nós temos ansiedade. A empresa não partilha de nossa pressa. Para eles uma vaga preenchida é uma rotina sem pressa; para nós é a diferença entre encher a barriga ou morrer de fome.
No dia em que precisamos ir a algum lugar e não temos condução, e precisamos de uma carona, a pressa é só nossa; o nosso benfeitor não partilha do mesmo desespero que sentimos.
Sim. Emergência é só para nós, não o é para mais ninguém. Para o resto do mundo nada está acontecendo; para nós é algo inadiável. Para nós é uma guerra, uma batalha, um agir ou morrer; para os outros uma mera demanda sem maiores consequências (para eles…)
Aquele filho visitou a mãe no asilo, no Dia das Mães. Esta lhe diz: “Filho, eu te esperava há três meses! Como sonhei com tua visita!”. Ele, incomodado com a cobrança, diz: “A senhora nunca se satisfaz com o que tem, não é mesmo?” Pobre mãe! O filho não compreendia a solidão pela qual sua solitária mãe passava nas noites infindas daquele quarto coletivo. Ele não entendia que essa mãe desejava ter a sua cria por perto, a carne de sua carne ao seu lado. Ele não compreendia que ele era o único vínculo com o que lhe restara de sua vida envelhecida. A emergência era só dela, a sensação de solidão e de necessidade era só dela…
Aquele pastor, em visita ao irmão enfermo ouve-o falar: “Pastor, por que demorou tanto? Eu precisei tanto de sua atenção!” O pastor, ofendido, diz: “Irmão, em seu lugar eu seria grato por esta visita!” Mal sabia o pastor que este irmão o considerava um oráculo divino, um mensageiro de Cristo, uma fagulha de esperança! Mal sabia este pastor que o irmão ansiava pelo momento do consolo, do conforto, do abraço, do carinho, da atenção, da conversa sincera, da oração com o ministro! A pressa era só do irmão; para o pastor era apenas uma rotina agora suprida. O ministro não entendia que aquela cobrança era, na verdade, uma confissão de respeito e de consideração!
Aquela senhora recebe uma carta do governo, dizendo que a sua aposentadoria foi aprovada, mas que só receberá dentro de seis meses. Ela, em lágrimas, diz: “Mas seis meses? Como farei para pagar o quartinho desta hospedaria? Como irei comer?” Alguém, cheio de empáfia, poderia dizer a ela: “Agradeça, mulher! Há tantos que não tiveram a mesma sorte!” Mas a emergência era só dela, desta senhora que trabalhara a vida toda, que recolhera as parcelas para ter uma aposentadoria bem suprida, mas que agora, depois de esperar por dois anos, recebe uma notícia de solução tão distante para a fome de hoje! Recolhera tanto e receberia tão pouco! Só ela tinha pressa. Só ela receberia a cobrança e só ela estava sujeita ao despejo por inadimplência. Para o governo era só mais um processo rotineiro…
Assim diz o livro de Provérbios: O coração conhece a sua própria amargura, e o estranho não participará no íntimo da sua alegria. (Pv 14:10)
Talvez ninguém lhe compreenda, ninguém sinta a sua emergência, ninguém leve a sério a sua pressa. A dor é só sua; a necessidade só você conhece por completo. Somente nossa é a pressa. Somente o nosso rosto sente a quentura de nossas lágrimas que escorrem tristemente. Somente o nosso leito testemunha os suspiros de dor e de solidão. Ninguém é capaz de dimensionar o que sentimos.
Mas podemos ter certeza de uma coisa: há um Deus no Céu que nos compreende perfeitamente e que sabe o quanto algo nos é importante, emergente, necessário. Ele sabe de nossa pressa. Ele sabe de nossa ansiedade. Ele conhece a nossa carência. E se há um atraso aparente, como o foi no atraso de Jesus para curar a Lázaro, o Seu amigo, não era, de fato, atraso. Jesus atrasou para que a glória e a vitória fosse mais grandiosa e magnífica. Ele não curou a Lázaro; Ele o ressuscitou! Pode acontecer que a sua necessidade não seja suprida. Confie. Ainda que não tenha sucesso no suprimento, Deus tem uma glória muito maior que nos aguarda. Ele ressuscitará a nossa alegria, a nossa felicidade, o brilho do nosso olhar!
E quando essa glória chegar nós a experimentaremos em toda a sua plenitude, e ninguém poderá ser tão feliz quanto seremos. Enfim, teremos a resposta tão sonhada!
Pr. Wagner Antônio de Araújo
Colunista deste Portal