A preocupação com o tempo vindouro

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O tempo é um bem universal. Ele é a coisa mais equânime porque é o mesmo para todos. Ninguém tem mais ou menos tempo a cada dia. Pode ser que a vida seja mais curta ou mais longa, mas todos nós temos o tempo. E a medida do tempo tem sofrido variações na história da humanidade.

O primeiro calendário romano lunar era feito de 10 meses – por isso que “dezembro”, que significa dez, era o último mês do ano. Antigamente não eram contados os meses de janeiro e fevereiro. O ano começava em março, no equinócio da Primavera, e terminava em dezembro porque janeiro e fevereiro no hemisfério Norte era muito frio. O gelo era chamado de inferno astral, ninguém queria contar esse tempo. Era o tempo das cavernas, dos lugares escondidos, das histórias paralisadas, e só posteriormente eles foram introduzidos por Numa Pompilio, segundo rei de Roma no período de 754 a.C. a 673 a.C., que apresentou o atual calendário de doze meses.

Janeiro foi batizado em homenagem ao deus romano Jano, que tem duas caras – uma para frente e outra para trás – porque é o mês que vê o futuro e vê o passado. Ele também adicionou fevereiro, que tem esse nome dedicado ao deus da purificação dos mortos, Februa, a quem os romanos ofereciam sacrifícios para expiar as faltas cometidas durante todo o ano. Esses meses foram introduzidos na cronologia. O tempo, entretanto, é o mesmo. Translação, que é o movimento da Terra em redor do Sol e rotação, que é o movimento da terra em redor de si mesma. O dia e o ano. Nós temos aí uma cronologia que acontece todos os dias.

Mas sabemos que existe esse fator psicológico. Muitas pessoas, quando o final do ano está chegando, ficam mais cansadas, mais preocupadas. Mas também com a perspectiva de que surgindo 1º de janeiro, depois do Réveillon, que é um momento de alegria e celebração da passagem de ano, parecem ficar mais esperançosas que algo novo há de surgir. Isso é mais psicológico do que real, de fato, mas tem uma influência no nosso psiquismo porque nós somos muito tocados pelas realidades emocionais. Se eu digo a você uma palavra agradável você se alegra, se eu digo uma palavra pesada você se entristece. E do mesmo modo existe essa influência do tempo.

A Bíblia nos diz que precisamos ser sábios e criteriosos na aplicação do nosso tempo. Quando Jesus conversou com seus discípulos na passagem que ficou conhecida como sermão da Montanha, já no final do capítulo 6 de Mateus, Ele começa a tratar do problema que corrói a nossa vida de uma maneira muito forte. É como se fosse traça na roupa ou cupim na madeira. Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes? Mateus 6.25.

Jesus levanta uma pergunta sobre a questão da ansiedade, ou da preocupação, que é nossa atitude quando não temos a perspectiva do futuro. A vida sempre nos surpreende com acontecimentos que estão fora do nosso controle e a tendência nossa é nos “pré ocupar”. A palavra já diz: uma ocupação que vem antes. Antes de acontecer os fatos você e eu nos tornamos ocupados com aquilo que vai acontecer.

Jesus se dirige aos seus discípulos dizendo: não andeis ansiosos pela vossa vida. A primeira questão é que ninguém está isento de que a preocupação bata à nossa porta. Eu não posso proibir que um transeunte toque a minha campainha, o que eu posso fazer é não abrir a porta. E o que Jesus está dizendo para os seus discípulos não é: vocês não se preocupem, mas, não andem preocupados, nem ansiosos pela vida. Ele fala sobre coisas de comer e beber, ligado a sua subsistência. Nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. E ele faz essa pergunta: não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes? Jesus diz ainda: Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? Mateus 6.26

Em seguida Jesus diz: Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? Mateus 6.27. Quem é de nós que tem a capacidade de aumentar a nossa existência? É verdade que hoje, com muitos recursos da medicina, médicos e medicamentos, e através de exercícios e boa alimentação nós podemos ter uma vida mais longa. Mas a questão que Jesus está levantando aqui é: você tem o poder de acrescentar a sua existência, se a morte chegar, um minuto sequer?

Jesus segue ensinando os discípulos e os manda observar como crescem os lírios do campo. Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles. Mateus 6.28-29.

Li uma história de um pastor que estava muito decepcionado, cansado por estar em uma igrejinha pequena na Inglaterra. Ele era um homem muito preparado, que conhecia grego e hebraico. Apesar de ser um erudito ele vivia em uma igreja pequenininha, sem tantas condições para a sua subsistência. Ele estava desanimado com a vida e recebeu um convite para uma igreja mais projetada, em Londres, e entrou em uma crise. Começou a andar em uma mata, e depois de horas andando em uma trilha estava cansado e sentou-se em uma árvore que estava caída. Olhando para baixo viu uma florzinha. Ele nunca tinha visto uma flor tão linda. E assim ele começou a imaginar um diálogo com aquela plantinha, que estava aberta com toda sua beleza:  

“O que você está fazendo aqui? Você poderia estar lá no Palácio, onde a rainha Vitória poderia apreciar você. O que está fazendo aqui nesse mato, neste buraco? Se eu não tivesse parado aqui para te ver, ninguém ia saber da tua existência.” Então a flor, no diálogo dentro de sua mente, lhe respondeu: “eu estou exatamente no lugar onde o meu criador me colocou, para que pudesse viver para glória d’Ele. E o fato de você ter parado aqui e me visto, não acrescenta em nada a minha existência, porque não existo para dar satisfações às pessoas. Existo porque o meu criador me fez para glória da sua própria pessoa.” Ainda que aquela florzinha nada tenha dito, o coração do pastor descansou da preocupação se ele era o tal. É necessário viver na dependência da glória de Deus.

Jesus está dizendo em Mateus para nós considerarmos os lírios. A palavra “consideração” e “sideral” vem da mesma palavra em latim sidus, que significa astro, estrela. A imensidão do céu, do universo. Considere todos os aspectos da grandeza, mas considere também o detalhe de uma florzinha. Veja se você não está sendo corroído por expectativas exageradas, por desejos acima da sua realidade.

Jesus disse que Salomão, em toda sua glória, não se vestiu como qualquer uma daquelas flores. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé? Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas. Mateus 6.30-32

Jesus vai colocar o foco em buscar o governo, o reino, a direção de Deus. Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal. Mateus 6.33-34.

Esse ano foi difícil para muitas pessoas, e não sabemos se o ano novo será melhor. Mas precisamos confiar no Senhor, e esperar no Senhor, e ter Nele a nossa confiança. Busque a governabilidade do Senhor e estas coisas vão se adequar no seu devido tempo. Dificuldade e problemas vão acontecer porque nós vivemos em um mundo caído, mas nós precisamos descansar da presença do Senhor. O salmo 125.1-3 nos diz: Os que confiam no SENHOR são como o monte Sião, que não se abala, firme para sempre. Como em redor de Jerusalém estão os montes, assim o SENHOR, em derredor do seu povo, desde agora e para sempre. O cetro dos ímpios não permanecerá sobre a sorte dos justos, para que o justo não estenda a mão à iniquidade.

Que Deus lhe dê um ano de 2024 na plenitude da suficiência de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

Pr. Glenio Fonseca Paranaguá

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