Reino de servos

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“Mas entre vós não será assim. Antes, quem entre vós quiser tornar-se grande será esse o que vos servirá; e quem entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos…o Filho do homem veio para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos” (Mc 10.43-45).

Gosto muito da postura de Jesus diante do pedido dos irmãos Tiago e João (Marcos 10.35-45) e da mãe deles (Mateus 20.20-28), quando soli­ citaram lugares ao Seu lado no Reino vindouro. Quando o nosso ego assume o centro da vida, é nisso que dá: pede-se mal. Um pedido caracteriza­ do pela arrogância religiosa, fruto da autossuficiência do coração. Temos essa tendência ao pódio, ao topo. Na verdade, somos especialistas em reconhecimento, em louros, elogios e bajulação. O reino deste mundo tem essas marcas, mas o Reino de Deus é um reino de pessoas que um dia morreram com Cristo e ressuscitaram com Ele para viverem a vida dEle nesta terra. Tentamos transformar o Reino de Deus em reino de senhores quando, na verdade, é de servos ou servidores. Jesus mesmo disse: “Bem-aventurados os humildes de espírito porque deles é o Reino dos céus” (Mt 5.3).

Os servidores não postulam pódio, mas o lugar mais baixo. Não usam tablados, mas o chão. Não querem andar acima do povo, mas no meio dele em constante diaconia. Não têm prazer em ovação, mas têm deleite no reconhecimento e na exaltação de Cristo. Paulo nos ensina que devemos ter o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus – humildade, submissão, sacrifício, serviço e reconhecimento da autoridade do Pai. Assim devemos ser. Jesus é o nosso referencial de servo que se ofereceu a Si mesmo para nos resgatar de nós mesmos para sermos dEle e vivermos para o louvor da Sua glória. Ser servo é servir em amor e compaixão; humildade e dependência; alegria e paz; harmonia e sinergia; prazer e dedicação. Sim, o servo não quer aparecer, mas vive para que o seu Senhor apareça. João Batista era o precursor-servo de Jesus, pois ele mesmo disse em relação a Jesus: “Importa que Ele cresça e eu diminua” e “ele é mais poderoso do que eu e não sou digno nem de carregar suas sandálias” (João 3.30; Mateus 3.11).

Na contramão de João Batista, Tia­ go e João estavam contaminados pela grandeza pessoal a partir da sua natureza humana cujo coração é enganoso. “O coração é enganoso e incurável, mais que todas as coisas; quem pode conhecê-lo? Eu, o Senhor, examino a mente e provo o coração, para retribuir a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto de suas ações” (Jr 17.9,10). É impressionante esta tendência em nós. Tiago e João eram diferentes de José! Este tinha o sonho da parte de Deus. Aqueles, sonhavam a partir de si mesmos, a partir do seu egocentrismo, do trono de sua arrogância e do pódio da sua insensatez. Então, José tinha um sonho da parte de Deus e Tiago e João de si mesmos, da sua mera natureza humana e inclinada aos títulos e louros dos seus próprios ‘méritos’. Somente pelos méritos de Cristo podemos seguramente servir sem pretensões carnais, sem aspiração por louros, bajulações. As marcas do nosso serviço ao Senhor devem ser espirituais e éticas.

Muitos desejam a coroa antes da cruz, aliás, de preferência sem a cruz. Jesus disse: “Servo Bom e fiel, foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei. Entra no gozo do teu Senhor” (Mt 25.21). Após uma noite de Ceia do Senhor em nossa Igreja, uma jovem senhora que ajudou na distribuição dos elementos, me disse: “Pastor, muito obrigada pela oportunidade de servir na celebração da Ceia. Eu precisava disso”. Senti que havia brilho nos seus olhos. O brilho do serviço. É preciso servir com alegria e singeleza de coração. Servir às pessoas com amor deve ter como motivação maior a glória do Senhor resultando na disseminação do evangelho da graça. Aliás, só os que experimentam a maravilhosa graça de Deus em Cristo Jesus têm prazer em servir.

A Igreja é uma comunidade de escravos, dos que servem em amor e sempre para a glória de Deus (I Coríntios 10.31). Este é o estilo de vida do cristão autêntico, nascido de novo. Num tempo de tanto egoísmo e busca pelo poder, pela aparência, há uma necessidade muito grande de pessoas que desejam servir. A Igreja de Jesus não é de senhores, mas de servos. O único Senhor no Reino de Deus é o Ele mesmo. Ele é o nosso Monarca. Pedro aprendeu com o Mestre que servir é o verbo operacional da vida do discípulo e faz parte do estilo de vida do Reino. Discípulo não combina com arrogância, aparência e com levar vantagem, mas com humildade, sofrimento e pro­ funda alegria em abençoar o outro.

O Senhor Jesus, nosso modelo de servo, disse: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos” (Mateus 20.28). Jesus deu-se a Si mesmo para não mais sermos de nós mesmos, mas dEle. Como servos, não mais vivemos para nós mesmos, mas para Ele. Paulo ensina magistralmente: “Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum de nós morre para si. Pois, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De modo que, quer vivamos, quer mor­ ramos, somos do Senhor. Porque foi com este propósito que Cristo morreu e tornou a viver: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos” (Rm 14.7- 9). Isto é simplesmente maravilhoso, amados irmãos! Somos servos de um Reino marcado pelo serviço amoroso tendo Jesus como Senhor para a Glória de Deus, nosso Pai.

Pr. Oswaldo Luiz Gomes Jacob
Colunista deste Portal 

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