Não vamos à igreja…

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Foto: Reprodução.

A cada final de semana já se tornou comum a expressão “vamos à igreja” ou mesmo “vamos à casa do Senhor” (Sl 122.1). Assim, poderemos estar pensando que, mesmo hoje, Deus tem um local especial em que habita e se apresenta aos seres humanos, que chamamos agora de igreja, que é representada por um espaço, um templo.

No Antigo Testamento o culto estava conectado com a presença de Deus em algum lugar que representava a sua habitação entre os humanos. Assim, Deus ordenou a Moisés a buscar um local para ali colocar o seu nome e ser sua habitação (Êx 15.17; Dt 12.5ss; 16.7,16).

O culto e os sacrifícios ocorriam nesse local por Deus escolhido. No começo foi um local portátil – o tabernáculo. Depois veio o templo com Davi/Salomão em Jerusalém, monte Moriá. Assim, o templo passa a ser o local fixo da habitação de Yavé – a “casa de Deus” (Ec 5.1; Jz 18.31; Sl 27.4). Entre os samaritanos, esse local sagrado ficou restrito no monte Gerizim, em Samaria.

O culto vai se formalizando e se tornando rotineiro, mecânico, sem a manutenção de seu real sentido, se distanciando de sua razão de ser a ponto de se tornar abominável a Deus (Is 1.10-20; 29.13).

Quando ingressamos no Novo Testamento temos ainda essa concepção de local determinado para a habitação de Deus, que vai passar por um “upgrade” quando Jesus está conversando com a mulher samaritana que lhe pergunta sobre o local legítimo da adoração (Jo 4.19ss), no monte Gerizim (em Samaria) ou lá em Jerusalém?

A resposta de Jesus foi clara que Deus, a partir daquele tempo, já não procurava um local, mas “verdadeiros adoradores que o adorassem em espírito e em verdade”. Então, ele desloca o sentido da presença de Deus de um espaço físico para o interior de um coração sincero.

No processo de interpretação bíblica há um princípio que chamamos de “revelação progressiva”, isto é, que Deus vai se revelando aos poucos ao ser humano, à medida que ele possa compreender a infinita significação da vida e do próprio Deus.

Assim, dentro desse processo Deus, em primeira instância, mostra a adoração e sua presença em um local determinado, que vai, ao longo do tempo, perdendo seu significado pelo povo.

No clímax da sua revelação em Jesus Cristo, temos a visão completa do que seria de fato a adoração, a presença de Deus, que não mais dependeria de rituais, de sua presença em um local. Isso é que exatamente Jesus mostra.

Estevão, antes de sua morte, menciona que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas (At 7.48,49), concepção repetida por Paulo (At 17.24) e vai mais longe ao afirmar que nosso corpo é o santuário de Deus (1Co 6.19).

E, mais um fato fundamental, que precisamos perguntar: Jesus morreu e ressuscitou por algum lugar, por móveis, equipamentos? Ou foi por pessoas? Na verdade, perguntas complicadas, pois nos levam à resposta negativa.

Igreja somos nós, salvos por Jesus, assim, onde estivermos aí estaremos como igreja, aí estaremos como uma vitrine de Deus, das Boas Novas.

Infelizmente, essa percepção de igreja ser um local em que nos reunimos em um dia da semana tem provocado o distanciamento da missão que Deus tem para nós, como seu povo. Estamos dividindo a vida em religiosa ou sagrada aos finais de semana, e secular a partir da segunda-feira, deixando de cumprir nosso papel como comunidade de contraste diante desse mundo que necessita de Deus. E nosso papel vai mais além do que só pregar verbalmente, é necessário viver e ser realmente transformado pelas Boas Novas.

John Stott afirmou “Não devemos perguntar: ‘O que há de errado com o mundo?’ Esse diagnóstico já foi dado. Em vez disso, devemos perguntar: ‘O que aconteceu com o sal e a luz’”?

E aí, vamos à igreja ou somos a igreja onde estivermos como povo de Deus? E, quando reunidos no templo, poderemos nos fortalecer como igreja, como povo de Deus!

Pr. Lourenço Stelio Rega 

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