É na passagem do ano que somos assaltados por frustrações, por uma sensação de fracasso ou por aquele sentimento de ter deixado algo incompleto. É nessa ocasião que sentimos nossa impotência, nossa tendência a errar em vez de acertar, e um certo vazio de sentido na nossa existência.
Pensando nisso, me lembrei do capítulo 7 da carta de Paulo aos Roma nos. Sempre que leio, se me afigura um verdadeiro contexto de derrota, principalmente dos versículos 15 a 24. Este último, então, é um autêntico grito de desespero – “Desgraçado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”
Mas, então, chego ao versículo 25, na sua primeira parte – “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!”. E, mais ainda, chego ao capítulo 8, que diz que Jesus me livrou da lei do peca do e da morte, me batizou e vivificou com seu Espírito, me transformou em filho de Deus e me certificou disso, me deu um propósito, me deu uma esperança e me fez mais que vencedor.
Romanos 7:24 tem tudo a ver com o que sentimos quando avaliamos nossa vida no ano que passou sob uma perspectiva meramente humana. Desse ponto de vista, nenhuma filosofia barata de livros ou publicações de autoajuda ou de pensamento positivo pode nos socorrer, apesar da insistência com que aparecem na mídia nessa ocasião. Precisamos de algo mais sólido e duradouro. Precisamos da graça de Jesus Cristo.
A dura expressão de Paulo aponta para a nossa finitude. Somos mortais; este corpo que temos um dia vai morrer, apesar de nunca agendarmos esse dia. Esta perspectiva do fim deveria nos fazer produzir mais, mas, infelizmente, logo que começa a agitação do novo ano, nos esquecemos dela e passamos a gastar nosso capital de tempo como se a vida não terminasse nunca. Somos limitados; gostaríamos muito, mas não podemos saber tudo, fazer tudo, estar em todos os lugares. Isto deveria nos levar a estabelecer prioridades, mas acabamos sendo levados pela superfluidade. Somos fracos; frequentemente somos tomados pelo medo daquilo que é maior ou mais forte que nós. Essa impotência nos paralisa, em vez de gerar estratégias de superação.
Por isso é que precisamos de Jesus para vencer no novo ano. Ele nos dá vida; o dom gratuito de Deus em Cristo Jesus é a vida eterna, que é o contraponto da morte, salário do peca do (6.23). E Jesus dá qualidade à nossa vida, pois ele a dá em abundância (João 10.10). Jesus nos dá sabedoria para viver; somos guiados pelo seu Espírito, cuja mentalidade é vida e paz (8.6). Jesus nos dá poder; seu Espírito nos socorre na fraqueza e intercede por nós junto ao Pai (8.26). E se Deus é por nós quem será contra nós?
O grito desesperado de Romanos 7.24 também aponta para a nossa falibilidade. Como falhamos! Paulo representa bem nossa condição quando diz: “Não entendo o que faço, pois não pratico o que quero, e sim o que odeio” (Rm 7.15). E ainda: “O querer o bem está em mim, mas não o realizá-lo” (Rm 7.18). A verdade é que somos peca dores, temos uma tendência natural para o erro e, quando percebemos, já o cometemos. Somos inconstantes; fazemos o propósito de não errar mais, mas não conseguimos manter nos firmes. Somos também infiéis; a Deus, aos nossos semelhantes, a nós próprios, aos nossos princípios, à nossa comunidade, aos nossos líderes.
Por isso é que precisamos de Jesus para vencer no novo ano. Ele nos dá perdão, e ao longo do ano precisaremos muito disso. “O sangue de Jesus nos purifica de todo pecado” (I Jo 1.7). Ele nos liberta da culpa do pecado. A culpa destrói nossas certezas e nosso ânimo. Precisamos saber que já não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus (8.1). Ele nos dá poder para viver em santidade; sob o domínio do seu Espírito, que habita em nós, podemos superar a mentalidade da carne, que nos leva à insubmissão à lei de Deus, à inconstância e à infidelidade.
Mas o grito frustrado de Paulo aponta ainda para a nossa insignificância. Diversas versões dizem: “Miserável homem que sou!”. A sensação de ser um João-ninguém é muito grande.
Quantas vezes sentimos que estamos vivendo sem propósito? Parece que estamos vagando a esmo, sem rumo nem alvo. Quantas vezes sentimos que falta significado no que fazemos? Nos pegamos indagando a nós mesmos se importa ou não aos outros o que fazemos. Quantas vezes nos consideramos não realizados como seres humanos? Há em nosso coração uma sensação de incompletude, de falta, que nos as susta às vezes.
Por isso é que precisamos de Jesus para vencer no novo ano. Ele nos assegura, pelo seu Espírito, que somos filhos de Deus, herdeiros de Deus e coerdeiros com ele (8.17). Ele nos certifica de que somos chama dos segundo o Seu propósito (8.28) e temos um futuro glorioso. Ele nos diz que encontraremos significado e realização quando servirmos a ele e aos outros do mesmo modo que ele serviu.
O que nos une a Cristo é infinita mente maior que qualquer coisa que nos falte, qualquer acusação que seja levantada contra nós, qualquer sofri mento físico, moral ou espiritual que nos sobrevenha ou qualquer poder que exista. Tais adversidades só valorizarão ainda mais nossa vitória nEle.
Pr. Sylvio Macri – Extraído do OJB.