Não se trata de carência afetiva, dengo, emocionalismo barato. Não se trata de estar sem amigos, sem pessoas próximas. Este século, mormente esta década, mostra-se em todos os aspectos como a década da falta de afeto.
Talvez pelo vazio das mortes de pessoas que fizeram a história contemporânea. Quantos artistas, quantos comunicadores, quantos filósofos e escritores, quanta gente conhecida, que antes ocupava a mídia e os meios de comunicação; agora, mortos, movem uma comoção imediata, onde todas as mídias querem noticiar e comentar, buscando a audiência, as curtidas e o sucesso nas visualizações quanto ao seu fim. Mas em uma semana poucos comentários ainda persistirão. E em um mês estas pessoas terão sido esquecidas para sempre, exceto para a WIKIPEDIA, que manterá um artigo (enquanto houver alguém que consulte).
As pessoas estão vazias e sem afeto. Filhos não têm expressado amor e afeto pelos seus pais. Às vezes moram na mesma casa e pouco se veem. Muitas vezes apenas se cumprimentam, mandam alguma mensagem no whatsapp e nos finais de semana cada um segue o seu caminho. Sem afeto, sem ternura, sem abraços, sem conversas, sem lágrimas, sem nada. Famílias são meros condôminos de uma residência compartilhada…
Os crentes estão sem afeto pelos seus ministros religiosos. Antigamente as famílias disputavam a oportunidade de hospedar a família pastoral num domingo, num sábado. Que emoção sentíamos quando o pastor nos visitava! Era um dia a ser lembrado! Hoje? O pastor sequer é convidado para ir a algum lugar. Antigamente, com uma visita pastoral, as pessoas faziam questão de oferecer um suco, um café, um pão. Hoje, além de não ter as visitas (porque não são convidados), quando as fazem não há qualquer recepção. Que mundo sem afeto este tempo criou!
Irmãos em Cristo não possuem mais amizades. Hoje cada um corre atrás do que é de seu interesse e que lhe convém. Conheço gente que saiu de congregações para estar em outras, cujo público significa uma clientela maior para a sua imobiliária, para a sua concessionária, para os seus seguros, para o seu comércio! Não se formam mais vínculos de amor, compaixão, solidariedade e de convívio. Se não for interessante para o que eu anseio, sigo em frente e um abraço!
Não há mais afeto no trabalho! Antigamente, nas festividades natalinas, de ano novo, no aniversário da empresa, no aniversário de funcionários, a empresa festejava, arrumava um encontro numa churrascaria, numa lanchonete, um picnic de sábado, um festejo qualquer. Eu me lembro dos encontros em que o meu pai, funcionário do Banco do Brasil era convidado. Hoje? No aniversário de alguém dificilmente alguém dá um abraço. O máximo que se faz é mandar uma linha artificial do facebook ou um parabéns pelo whatsapp. Escolhe-se uma figurinha qualquer, um arranjo disponível e envia-se. Sem abraço. Sem alegria. Sem nada.
Nem na política há mais afeto! Lembro-me dos grandes embates entre ARENA e MDB, das campanhas, das festas, das músicas, das vinhetas. Lembro-me de inimigos que se cumprimentavam e se respeitavam. Hoje? Todos se usam, todos se odeiam, todos se acusam, todos fazem parte de um mesmo genérico e usam as marcas de fantasia para marcar diferenças em seu eleitorado. Não há amizades; há interesses e ações que provoquem dividendos. Eles mesmos, os políticos, já não possuem idealismos quaisquer…
E, enquanto isso vamos computadorizando a vida inteira, até que as máquinas dominem o mundo e soltem um gás venenoso para matar os seus criadores. Vamos tornando tudo formal, sem vida, apenas lógico e morto.
E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará. (Mt 24:12). Sim, a iniquidade se multiplica, solta brotos, gera filhotes, e o amor aos poucos desaparece até dos cultos ao Senhor.
Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra? (Lc 18:8). Esta pergunta só possui uma resposta: NÃO! Não haverá fé, pois o amor foi embora, e o mais importante é o amor. Sem amor não há fé.
“Oh, tempos sombrios deste século vinte e um,
Onde os homens não sofrem as dores do próximo!
Tempos onde a saudade é pouca e o afeto nenhum,
Onde o interesse pessoal exige o seu máximo!
Tempos em que não abraço os meus pais queridos,
Onde nem considero da família o meu irmão de sangue
Século em que só enxergo quem pra mim for inserido
E que me trará lucro como efeito bumerangue!
Século onde não dou valor nem à igreja e nem ao pastor,
Onde não crio vínculos, senão por interesse próprio.
Não vejo mais um ministro, senão um mero gestor
Que me mantenha no meu foco sempre sóbrio.
Amigos? Não há nenhum pelo qual me importe,
Pois todos temos a própria vida para cuidar.
Se, porventura, sobre ele vir a morte,
Não viverei por muitos dias a lamentar.
Vida que segue é o lema que uso,
Pois neste mundo ninguém pensa em ninguém.
Dos relacionamentos afetivos eu fujo
Para não ficar dependente de alguém.
Este é o tempo deste século tão moderno,
Que expõe em público o velho pecado humano.
O ódio, a inveja, o pecado eterno,
A falta de vergonha e o desamor insano.
Mas Cristo alertou de forma clara
A cada um dos Seus que quisessem ouvir
Para estes tempos meu Senhor declara
O amor de muitos deverá sumir.
Será a volta do Senhor ao mundo,
Julgando o homem e executando a pena.
Continue sujo aquele que é imundo
Continue o ímpio a brilhar na cena.
Mas que se preparem todos os que ouvidos têm
Para a mensagem que vou registrar:
Somente a graça do Senhor mantém
Quem com com fé a Jesus clamar!
Afeto há na presença de Cristo
Pra todo aquele que reconhecer
Que não há vida sem isto
Sem Jesus não há feliz viver!
Afeto e ternura, alegria e amor,
Sorrir com os que sorriem, chorar com o sofredor,
Ainda é possível ter emoção e ter alma,
Se minha vida pelo Seu poder for salva!
Dá-me um coração cheio de afeto, Senhor!”
Pr. Wagner Antonio de Araújo
Colunista deste Portal