Já se vão quase 20 anos. Eu estava nos EUA falando numa conferência bíblica. Um pastor, conhecido de muitos anos, participava também. Seu trabalho tem sido reconhecido. Muito atuante e capaz, cuidava de uma igreja expressiva na ocasião. No meio de uma conversa alegre e descontraída, mudou o assunto e me disse: você nem imagina o que me aconteceu! Curioso, perguntei: o que foi? Coisa boa? Ele foi direto ao ponto: fui convidado por certas autoridades do meu estado para ser candidato nas próximas eleições. Não me contive e logo perguntei: você vai aceitar? Com um sorriso sóbrio, ele me disse: não aceitei! Não é pra mim. E ainda mais: disse que não queria “descer de posto”. Não podia trocar de função. Ser pastor é bem mais importante e significativo do que ter um cargo público. Não vou abrir mão de minha vocação.
Fiquei bem impressionado. Que convicção! Nunca me esqueci da conversa com meu amigo pastor. Em dias turbulentos de estados ateus de aberta perseguição religiosa a teocracias violentas no Oriente Médio, devemos refletir sobre a política como desafio inevitável e seu fascínio extrapolado. O ensino bíblico distingue duas esferas nítidas: César é César. Deus é Deus. (Mt 22.21).
Os cristãos primitivos são exortados a serem cidadãos exemplares e nunca agirem de modo romano na relação com o poder. Há um certo desdém neotestamentário com respeito aos poderes instituídos neste mundo. Há uma esperança maior na qualidade de vida dos filhos de Deus, sal e luz, como fator benéfico e transformador da realidade. Ainda que seja importante e relevante numa sociedade democrática a atuação de cristãos para o bem comum, esse não é o tom do NT para o benefício maior do mundo. É intrigante como o papel pastoral de dedicação à Palavra e à condução do povo de Deus tem se encaminhado na direção da preponderância política. Não me parece um bom caminho. Influência total dos cristãos na sociedade, mas separação entre igreja e estado.
A história mostrou que isso não deu certo. Se alguém tem vocação política que sirva a Deus com lisura e eficiência em sua função. Se possui vocação pastoral e ministerial, não despreze sua função, aliás, a mesma do Pastor Supremo, o Rei Jesus.
Pr. Luiz Sayão