Tempestades imaginárias com poderes ainda mais avassaladores

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A mente humana certamente é a parte mais complexa do corpo. Por mais que reconheçamos o avanço alcançado pela ciência nas últimas décadas, constatamos que ainda existem muitos mistérios a serem desvendados. O cérebro possui algumas especificidades e uma delas que nos chama a atenção é a capacidade tanto em produzir cura, bem como criar e produzir enfermidades na mesma proporção. Convido vocês a analisarem comportamentos de homens cujas mentes exerceram grande protagonismo diante de situações atípicas.

O primeiro deles chama-se Estevão e foi um discípulo cheio de fé e do Espírito Santo, escolhido para formar a primeira equipe diaconal da igreja primitiva (At 6.1-7). Ao propagar o evangelho acabou desagradando judeus religiosos, os quais inflamaram a multidão com o propósito de apedrejá-lo até a morte por ter supostamente cometido blasfêmia. Imaginem vocês a cena! Um indivíduo encurralado por uma turba enfurecida, munida de pedras de variados tamanhos, preste a começar o massacre. Ele sabia estar sentenciado. No entanto, uma coisa é morrer por um único golpe, com pouca dor, ou, ainda que ela seja intensa, perdure por um curto período; outra completamente diferente é morrer gradualmente a cada pedra lançada. Estevão estava diante de uma grande “tempestade” e tinha tudo para entrar em pânico, antes mesmo de receber o primeiro impacto. Entretanto, se mantém calmo até o seu último suspiro de vida e ainda intercede a Deus por aquelas pessoas. Sua mente conseguiu de alguma forma  blindar-se daquele estresse, amenizando o seu sofrimento. A tempestade contemplada por ele, apesar de ter sido cruel, não conseguiu adentrar a sua mente.

O segundo episódio trata-se de uma experiência coletiva vivida pelos apóstolos (Mc 4.35-41). Quem ousaria desobedecer a uma ordem do Filho de Deus? Jesus disse para os seus discípulos entrarem no barco, pois, iriam atravessar o mar da Galileia. O Mestre, muito cansado, entra na embarcação e logo pega no sono. Depois de alguns instantes surge uma tempestade horripilante. Grande parte da sua equipe era formada por exímios pescadores, ou seja, homens experientes e acostumados a mares revoltos. Ainda, assim, todos ficaram apavorados. Foram desestabilizados emocionalmente por mentes que se renderam a realidade sombria do momento. Eles suplicam pela ajuda de Jesus temendo a morte. Pela reação desses homens, chegamos à conclusão de que essa tormenta se tornou ainda mais intensa pelo fato de ter dominado suas mentes.

O terceiro comportamento a ser citado aqui é o do profeta Elias (I Rs 17-19). Um homem ousado que desafiou 450 profetas de um falso deus chamado Baal. Eles teriam que construir um altar. Sacrificar um animal e invocar o seu Deus a fim de fazer descer fogo e consumir a oferta. Elias sai vitorioso, pois Yahweh responde sua oração e todos viram o fogo lamber o cordeiro. Ele lança mão da espada e corta a cabeça de todos aqueles impostores. Jezabel, esposa de Acabe, rei de Israel, quando toma conhecimento da morte de seus profetas, envia um mensageiro até Elias para ameaçá-lo de morte. Ele agora foge, e, deprimido, pede a Deus para si a morte. Aquele servo destemido havia acabado de transpor uma “tempestade real”, no entanto, a simples ameaça de uma mulher produz na sua mente agora uma imaginária. Ele foi traído por sua mente que o deixou totalmente debilitado.

Por isso, podemos concluir que as piores tempestades não são as externas e sim as internas. Aquelas que conseguem atingir as nossas almas, dominando nossas mentes. Ainda que essas sejam muitas vezes apenas imaginárias, possuem efeitos tão devastadores quanto as reais, incapacitando e gerando dor e sofrimento. A boa notícia é que o Senhor estará sempre pronto a atender ao nosso clamor (Sl 6.9, 28.6, 42.5-11, 46.1, 116.1-8; 2Tm 2.13). Acompanhou o profeta nos momentos em que ele estava cheio de vigor físico e espiritual e não o desamparou quando adoeceu emocionalmente. Deus enviou todo o suporte necessário para que o seu servo pudesse ter sua saúde reestabelecida e poder concluir sua missão. Só ele pode acalmar as tempestades mais avassaladoras da nossa alma.

Por Juvenal Oliveira Netto
Colunista deste Portal

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